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É cada vez mais comum encontrarmos resíduos industriais, considerados como subprodutos ou coprodutos, na ração de ruminantes. Estes ingredientes são fontes de alimento de baixo custo, ricos em proteína e energia, que acabam complementando a formulação de dietas de alto desempenho para animais de corte. O farelo de amendoim é uma ótima alternativa para o produtor na época de alta dos grãos de soja e milho. Sua composição nutricional chama atenção para os altos teores de proteína, servindo como fonte prontamente disponível para os microrganismos ruminais. Outro fator que se destaca a favor do farelo de amendoim é o seu baixo custo por tonelada, sendo o frete indústria – fazenda uma variável a ser avaliada para sua aquisição.
Introdução
A cultura do amendoim tem tido destaque nas últimas safras brasileiras. Sua utilização para rotação de cultura nas áreas de reformas de canaviais, tem alavancado o potencial de produção dessa leguminosa. O estado de São Paulo possui produção majoritária da cultura, com cerca de 96% da produção, sendo a cidade de Jaboticabal, no interior do estado, responsável por um quarto dessa produção.
O amendoim (Arachis hypogaea), é uma planta da família das leguminosas, fixadoras de nitrogênio no solo, e por isso tem tomado relevância para sua utilização na reforma de canaviais. Tais medidas tem alavancado a safra brasileira para este grão, beneficiando as indústrias de refinaria, as quais extraem o óleo dos grãos, que são destinados para a produção de fármacos, produtos alimentícios e biodiesel. Contudo, os subprodutos gerados a partir dessa extração, como o farelo, torta e cascas de amendoim, também têm conseguido seu lugar de destaque na alimentação de animais, principalmente para bovinos de corte e leite.
O farelo de amendoim é um importante coproduto para a formulação de dietas de animais. Seus altos teores de proteína e energia, o tem colocado lado a lado com o farelo e caroço de algodão para ser o principal substituto da soja como fonte proteica na ração. Também é favorecido pelo baixo custo por tonelada, sendo o frete a principal variável que encarece esse custo.
Composição Nutricional
O farelo de amendoim é conhecido pelo seu alto teor de proteína bruta (PB), apresentado valores acima de 55% desse nutriente, muitas vezes fator limitante para formulação de dietas. No entanto, vale destacar a qualidade dessa proteína, que apresenta elevados teores de PDR (proteína digestível no rúmen), altamente utilizada pelos microrganismos ruminais. Proteína essa, que irá exigir concentrações adequadas de carboidratos fermentescíveis nas dietas para que o sincronismo na fermentação seja mantido.
Alguns pontos devem ser destacados para utilização do farelo de amendoim na composição de dietas de animais ruminantes:
- Ótima fonte proteica para ração de ruminantes.
- Baixo custo por unidade de proteína.
- Inclusão de 15 a 25% na dieta.
A tabela abaixo apresenta a composição bromatológica do farelo de amendoim.
Interpretando esta tabela, vemos que o teor de proteína bruta do farelo de amendoim é bastante alto, e composto basicamente por proteína degradável no rúmen (PDR). Isso nos permite afirmar que o farelo de amendoim tem uma alta taxa de degradabilidade no rúmen, fornecendo proteína prontamente disponível para as bactérias que atuam na fermentação ruminal do alimento. Assim, a formulação das dietas deve sempre se atentar na inclusão do farelo de amendoim em proporção adequada aos carboidratos, de forma a otimizar a fermentação ruminal gerando grandes proporções de ácidos graxos voláteis e proteína microbiana.
Obtenção, custos e cuidados
O principal estado produtor de amendoim é o estado de São Paulo, e as indústrias de extração e refinaria ficam localizadas próximas às regiões de Jaboticabal e Marília, principalmente. Portanto, pecuaristas que atuam próximos a essas regiões são beneficiados com o poder de obtenção deste coproduto por um baixo custo, principalmente no que diz respeito ao frete. Seu custo varia de R$ 1.200,00 a R$ 1.600,00 por tonelada para o ano de 2020. As regiões produtoras que se distanciam desse polo podem optar pela utilização do caroço de algodão ou farelo de algodão, como fonte barata de proteína.
Outro fator importante que deve ser levado em consideração é o potencial do amendoim em hospedar fungos que podem produzir micotoxinas, as quais são prejudiciais à saúde do animal, podendo ser fatal. Desse modo, antes de adquirir o produto, o produtor deve exigir análises de micotoxinas, bem como se atentar ao melhor modo de armazenamento do alimento, sempre em local coberto, fresco e de preferência com baixa umidade.
Conclusão
Com a crescente produção de gado de corte confinado, a demanda por alimentos que compõe as rações de terminação tende a aumentar, abrindo espaço para a inclusão de farelo de amendoim nas dietas. Sendo assim, o farelo de amendoim é sim uma importante alternativa para os produtores de animais, principalmente nos dias atuais, devido à alta dos grãos, como a soja, por exemplo.
Vale a pena salientar a necessidade de uma boa formulação das dietas que incluem farelo de amendoim, não ultrapassando valores de 25% do mesmo, e que o farelo de amendoim não substitui fontes energéticas da ração, como o milho, sorgo e alguns coprodutos como polpa cítrica.
É importante ressaltar a necessidade de análises laboratoriais, a fim de entender melhor a composição do alimento adquirido, e seguir as recomendações dadas por profissionais da área, para que o potencial do coproduto aliado ao baixo custo e manejo eficiente, resultem em prosperidade para o produtor e para a atividade pecuária.
Para saber mais sobre o assunto, aguarde os próximos posts sobre coprodutos alternativos para formulação de dietas de animais, ou entre em contato com o Grupo de Nutrição de Bovinos – NUTRIBOV, que atua na área de confinamento e nutrição de ruminantes.
e-mail: fapsantos@usp.br Instagram: @nutribov_esalq
O Grupo de Nutrição de Bovinos é um grupo de estágio criado há 12 anos pelo coordenador Prof. Dr. Flávio Augusto Portela Santos, composto por orientados da pós-graduação e graduandos de engenharia agronômica pela ESALQ – USP. Tem por objetivo realizar experimentos com gado de corte confinado, a fim de avaliar aspectos da nutrição animal, bem como utilização de coprodutos e aditivos. O grupo tem por objetivo final, preparar futuros profissionais da área, que atuam por todo o território brasileiro, proporcionando conhecimento e informação agropecuária de qualidade, contribuindo com o desenvolvimento do nosso país.
>> Leia mais entrevistas em: “Cria: 5 principais entraves”. Nesta entrevista, Rodrigo Paniago, da Boviplan Consultoria Agropecuária nos responde as principais dúvidas sobre a fase de cria e comenta seus principais entraves.
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Referências
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Parabéns pelo artigo! Muito pertinente em tempos de alta volatilidade de preços!