Pós Colheita
Pós Colheita

O que podemos entender por pós-colheita?

A pós-colheita de produtos vegetais é um conjunto de processos que se inicia logo após a colheita e se estende até o consumo do produto final. Este conjunto tem como principal objetivo tentar minimizar ao máximo a perda de produtos. Tanto quantitativamente quanto qualitativamente, mantendo assim o seu valor comercial.

Sendo assim, é importante que se conheçam e se utilizem práticas adequadas de manuseio durante as fases de colheita, armazenamento, comercialização e consumo.

Precisamos sempre nos lembrar que estamos lidando com organismos vivos. Estes, mesmo após serem retirados do solo, ainda mantém ativos todos os seus processos biológicos vitais. Além de possuírem um alto teor de água em sua composição química, o que os torna altamente perecíveis.

Pós-colheita no Brasil

Nosso país está entre os cinco maiores produtores agropecuários do mundo. Porém, está entre os dez que mais desperdiçam alimentos durante toda etapa pós-colheita:

  • sendo 10% no campo,
  • 50% no manuseio e transporte,
  • 30% na comercialização e abastecimento e
  • 10% no varejo (supermercados) e consumidor final.

Segundo estudos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2016, cerca de 30% de toda nossa produção, em média 40 milhões de toneladas por ano, foi perdida comercialmente. Significando um prejuízo econômico estimado de 940 bilhões de dólares.

As perdas podem ser entendidas como uma ineficiência que afeta negativamente a sustentabilidade econômica, ambiental e social da cadeia produtiva. Estas geram desperdícios financeiros e ambientais. Além de provocar uma redução da oferta do produto no mercado, afetando diretamente a economia do país.

As perdas pós-colheita variam de região para região, sendo maiores nas tropicais, devido às condições ambientais favoráveis, aliados a ausência de uma cadeia de frio adequado à conservação dos produtos. A situação atual do mercado interno brasileiro apresenta, com raríssimas exceções, e por diversas razões, uma cadeia de frio praticamente inexistente.

A falta de conhecimento dos processos fisiológicos da planta, bem como a falta de infraestrutura adequada e de uma logística de distribuição, são os principais fatores responsáveis pelo elevado nível observado.

Para o Brasil, as estimativas são preocupantes mesmo quando tratamos de produtos com maior durabilidade, como grãos e cereais, estando na faixa de 5 a 30%, representando mais de cinco milhões de toneladas, enquanto para os hortifrúti, um maior número, como é o esperado, podendo variar de 15 até quase 100% de perda.

Cenários Pecuária e Grãos - Agromove
Cenários Pecuária e Grãos – Agromove.

E a pós-colheita nas grandes culturas?

Soja e Milho

Soja e milho estão entre as culturas de maior importância comercial e social para país. Saiba mais sobre a cultura da soja no artigo “Cultura da soja: sua importância na atualidade” e sobre a cultura do milho no artigo ” Cultura do milho e sua importância na atualidade “.

Quando tratamos dessas culturas, observamos perdas durante a colheita, normalmente por erro humano de regulagem de máquinas ou de limitações próprias da colheita manual. O mesmo ocorre na fase de pós-colheita. Quando observamos perdas em quantidade e qualidade, decorrentes de armazenamento incorreto dos produtos estocados.

Também, a escolha do tipo de transporte tem contribuído para aumentar os desperdícios, o estado das estradas e o costume de os caminhões transportarem mais carga do que as carretas comportam. Segundo a Confederação Nacional de Agricultura, o prejuízo com o derrame de grãos durante o transporte rodoviário chega a R$ 2,7 bilhões a cada safra.

As perdas nas atividades logísticas podem ser físicas ou monetárias. Sendo as físicas medidas em toneladas (podendo ser qualitativas ou quantitativas). E as monetárias em real desperdiçado. Estas últimas, podem ser diretas quando a perda é referente ao produto não entregue. E indiretas, quando referente aos custos logísticos do produto não entregue ou então ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Estudo recente da USP mostra que os problemas na logística de soja e milho representam 1,3% da perda de produção, chegando a 2,38 milhões de toneladas, sendo a armazenagem responsável por 67,2% destas, seguida por perdas nos transportes, onde: 13,3% pelo rodoviário, 9% pelo terminal portuário, 8,8% pelo ferroviário e por fim 1,7% pelo transporte multimodal hidroviário.

Figura 1 - Atual sistema de logística no Brasil.   Fonte: Núcleo do Conhecimento.
Figura 1 – Atual sistema de logística no Brasil.
Fonte: Núcleo do Conhecimento.

Arroz, Feijão e Trigo

Nosso país sofre com o abastecimento de arroz e trigo há décadas. A perda pós-colheita de arroz chega a ser maior do que a quantidade que importamos de países como o Paraguai, de onde a compra chegou a ser de mais de 1 milhão de toneladas em 2017. Já para o trigo, a situação é ainda pior. Chegamos a importar 6 milhões de toneladas em 2019, grande parte vindo da Argentina, e produzimos apenas 4,3 milhões de toneladas em média.

Mais de 70% da produção nacional de arroz e 43% da produção de trigo são oriundas de lavouras gaúchas. Onde as perdas pós-colheita para o arroz variam entre 1 e 30%, em média 1 milhão de toneladas ao ano. Para o trigo, as perdas no transporte representam 11,41% da quantidade total. Destacam-se, neste contexto, as perdas na colheita e na armazenagem junto às cooperativas, sendo 93,55% das perdas totais. A monetização de perdas físicas decorrentes totaliza um valor de R$ 119,4 milhões.

Figura 2 - Sistema de colheita de arroz irrigado.
Fonte: CPT - Centro de Produções Técnicas.
Figura 2 – Sistema de colheita de arroz irrigado.
Fonte: CPT – Centro de Produções Técnicas.

Para o feijão, a maior produção fica para o Mato Grosso, tendo uma porcentagem irrisória de exportação, já que é um produto importante na alimentação nacional. O estoque de produto é sempre baixo, o que indica que toda produção é imediatamente levada à comercialização. Em decorrência disso, as perdas durante o armazenamento não são elevadas, ficando sempre abaixo de 102 mil toneladas. Portanto, as perdas pós-colheita, são maiores por transporte inadequado.

Cana

Para a cana temos um cenário diferente. Como o produto não fica estocado, nem é transportado por grandes períodos, as perdas se revelam mais na hora da colheita mecanizada, já que os equipamentos utilizados nos canaviais não atendem às necessidades do campo e não cumprem os requisitos para um manejo eficiente.

Figura 3 - Sistema de colheita mecanizada de cana.
Fonte: Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG).
Figura 3 – Sistema de colheita mecanizada de cana.
Fonte: Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG).

Estima-se que 75% da cana plantada no país seja colhida de forma mecanizada, o que representa 6,8 milhões de hectares. Ou seja, 516,8 milhões de toneladas colhidas por safra. Das quais 11% ou 50 milhões de toneladas são perdidas, sendo 5% por perdas visíveis, 5% por perdas invisíveis e 1% por custos devido às impurezas decorrentes da colheita. Totalizando um prejuízo de mais 4,5 bilhões de reais.

Considerações finais

Um estudo de 2015 da Revista de Economia e Sociologia Rural sobre os países da América Latina, incluindo o Brasil, nos mostra níveis de perdas pós-colheita de produtos agrícolas superiores aos observados em países mais desenvolvidos. Observou-se que, a redução nas perdas pós-colheita implicaria em aumento de R$ 9,8 bilhões no valor da produção agrícola.

Considerando os impactos diretos e indiretos, identificou-se que, um aumento na demanda por serviços de processamento, transporte e comércio, pode elevar o valor da produção da economia em R$ 18 bilhões, o PIB do País em R$ 9,7 bilhões e mais de 300 mil empregos. Tais resultados ilustram que, face à grande importância dos produtos agrícolas para a economia brasileira, a redução nas perdas pós-colheita pode gerar benefícios econômicos substanciais para o País.

Podemos concluir que, a pós colheita é uma etapa essencial para a agricultura, mas também é pouco explorada no nosso país. Precisamos sempre incentivar e investir em novas tecnologias para nosso maquinário, mão de obra de qualidade e transportes mais eficientes.

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