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A soja tem um importante destaque no mercado nacional e mundial. As razões para esse grão ser tão importante economicamente para o Brasil e como se tornou a commodity agrícola mais produzida no país são explicadas no artigo “ Cultura da soja: sua importância na atualidade”.
O objetivo deste artigo é explicar um pouco mais sobre o mercado da commodity agrícola mais negociada no mercado internacional e seus principais players.
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O Complexo Soja
O grão da soja não é o único a ser comercializado em larga escala no mercado mundial. Seu farelo e óleo, resultado do processamento do grão, também têm grande exposição no mercado internacional e são considerados também commodities agrícolas. É interessante explicar que commodity é o termo utilizado para descrever um produto primário não manufaturado ou parcialmente manufaturado produzido em larga escala, amplamente negociado no mundo e com um determinado padrão de qualidade já conhecido.
De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) (Julho/2019), os maiores produtores de soja do mundo em ordem decrescente são Brasil, Estados Unidos, Argentina e China. Os três primeiros são também os maiores exportadores desta oleaginosa e juntos, exportaram mais de 132 milhões de toneladas na safra 2018/19, 88% do total exportado mundialmente na safra passada. Como principais importadores de soja grão estão China e União Europeia, sendo que o primeiro é o destino de mais de 55% do volume total importado.
O farelo de soja apresenta cerca de 46% de teor proteico e é utilizado mundialmente, em sua maioria, para a alimentação de animais. Já o óleo de soja é utilizado por vários setores da indústria para a produção de cosméticos, alimentos e tintas. Os maiores processadores de soja – e, por consequência, os grandes produtores de farelo e óleo – do mundo são China, Estados Unidos, Argentina e Brasil, em ordem decrescente de produção. Os principais exportadores de farelo de soja são estes três últimos, assim como é observado na exportação de soja grão.
Segundo as estimativas de julho do USDA, os quatro países juntos devem produzir cerca 181,05 milhões de toneladas de farelo de soja na safra 2019/20, o equivalente a 75% do total estimado para a safra. Já em relação ao óleo de soja, estes quatro países devem gerar quase 44 milhões de toneladas, valor pouco acima de 75% do total global de 57,5 milhões de toneladas estimadas para a mesma safra. O principal importador de farelo de soja é a União Europeia e o de óleo de soja, a Índia. Ambos compram cerca de 30% do volume exportado por ano safra.
É interessante destacar a partir destes rankings de produção e processamento, que embora o Brasil seja o maior produtor e exportador mundial de soja ele não é um dos três principais processadores do grão. A seguir será descrita a capacidade de processamento, assim como outras características dos principais players do comércio mundial do complexo soja.
Algumas características dos principais players do Mercado da soja
Brasil
Atual maior produtor e exportador mundial de soja. Tem capacidade de processamento anual de 62 milhões de toneladas, sendo o estado do Paraná o principal processador. O Mato Grosso e o Paraná são os maiores estados produtores. Os portos de Santos e Paranaguá são os principais portos de saída do complexo soja. Quase toda a soja grão nacional tem como destino a China, país que também compra a maior parte do óleo de soja nacional. Já a maior parte do farelo de soja é comprado por Holanda e França.
Estados Unidos
Segundo maior produtor, exportador e processador mundial de soja atualmente. Tem capacidade de processamento anual próxima de 517 milhões de toneladas, consumindo a maior parte do montante processado por safra. Os maiores estados produtores são Iowa, Illinois, Minnesota e Indiana.
China
O maior consumidor, importador e processador mundial de soja. Tem capacidade de processamento anual de 148 milhões de toneladas. A oleaginosa é produzida em quase todo o leste do país, sendo destaque a região nordeste.
Argentina
Maior exportador de óleo e farelo de soja. Tem capacidade de processamento anual de 67 milhões de toneladas. A maioria das unidades de processamento de soja e outras oleaginosas do país estão localizadas no complexo industrial de Rosário. Também é entorno da cidade; entre as regiões de Córdoba, Santa Fé e Buenos Aires; a concentração da produção de soja nacional.
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Diferenças logísticas exportadores
Vale a pena ressaltar que os principais exportadores de soja grão apresentam consideráveis diferenças no que tange ao escoamento de sua produção para os portos, o que impacta diretamente no seu preço e competitividade no mercado mundial. Segundo levantamento do IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), embora a distância percorrida pela soja americana até os portos seja maior, 60% do trajeto é realizado através de hidrovias, cujo custo de transporte é bem inferior ao custo via transporte rodoviário. Tanto o Brasil como a Argentina, utilizam este último como principal forma de escoamento, embora a distância percorrida pela soja argentina (inferior a 300 km) seja bem inferior que pela soja brasileira (entre 1.000 e 2.000 km).
Mercados de comercialização
Tanto no mercado interno como no externo, existem 4 formas de negociação de soja e da maioria das commodities agrícolas. O mercado físico ou mercado spot, o mercado a termo, o mercado futuro e o mercado de opções.
O mercado spot trata-se da troca imediata do produto por dinheiro. Esta modalidade de negociação apresenta considerável risco – principalmente em relação ao comportamento dos preços – e atualmente ocorre de forma esporádica. As razões para a instabilidade nos preços do complexo soja e os motivos para sua oscilação no mercado estão presentes no artigo “Principais fatores que influenciam os preços de milho e soja no mercado brasileiro”.
O mercado a termo é uma forma de negociação que diminui os riscos e incertezas presentes no mercado físico. Neste, as partes (vendedor e comprador) determinam por contrato especificações de uma transação futura, geralmente estabelecendo o volume e tipo de mercadoria, a data, o local, o transporte do produto entre outras informações. Esta forma de negociação, portanto, é bastante flexível e comumente praticada por indústrias que demandam algum produto do complexo soja e precisam otimizar e planejar suas operações internas. O risco comum neste tipo de negociação é o não cumprimento do contrato.
Por sua vez, o mercado futuro trabalha com contratos já padronizados e com todos os seus termos fixos. São negociados através de Bolsas organizadoras, como a brasileira B3 (antiga BM&F), a americana Bolsa de Mercado Futuro de Chicago (CBOT) e a argentina Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA). É importante ressaltar que apenas uma minoria dos contratos negociados nas Bolsas resulta na entrega efetiva do produto. Na maior parte das negociações, a posição de compra ou venda é revertida antes do vencimento do contrato, ocorrendo assim a liquidação financeira.
Nas Bolsas, também ocorrem as negociações do mercado de opções, mais complexo que o futuro. Nele, os contratos asseguram o direito de comprar ou vender um ativo, seja ele um volume específico de soja ou até um contrato do mercado futuro. O objetivo destes dois últimos mercados é a redução de incertezas, conhecida pelos negociadores destas bolsas como hedge.
Perspectivas para o Complexo Soja em 2027/2028
Brasil
Segundo estimativas do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a produção da soja nacional deverá crescer sentido norte do país, principalmente na região do MAPITOBA e, em 10 anos, deve atingir o montante de 156 milhões de toneladas, um crescimento expressivo de 33,2% (considerando os dados da safra 2017/18), embora inferior ao observado na última década. Já as exportações devem alcançar o volume de 96,5 milhões de toneladas, crescimento da ordem de 38%.
Em relação ao farelo de soja, embora esteja previsto um aumento no consumo doméstico, seu volume de exportação deverá crescer apenas 6,7%, montante suficiente para se tornar o segundo maior exportador da commodity, conforme estimativa do USDA. Segundo o mesmo, até a safra 2018/19, o Brasil será responsável por 26% das exportações. A exportação de óleo de soja deve sofrer redução de 10% no mesmo período.
Estados Unidos
De acordo com dados do USDA, a produção de soja americana chegará ao montante de 125,48 milhões de toneladas na safra 2027/28, um aumento de apenas 4,5% em relação ao montante da safra 2017/18. As exportações americanas da oleaginosa acompanharão o mesmo ritmo de crescimento.
O pouco crescimento é um reflexo da estimativa de que o produtor americano irá trocar a plantação da oleaginosa pelo cultivo de milho, uma vez que a soja americana não tem mais acesso ao mercado chinês. O motivo é a imposição do governo chinês de tarifa de 25% sobre a soja americana que chegar ao país. Esta imposição tarifária será tratada a seguir neste artigo.
Já a produção de óleo de soja americano sofrerá crescimento de quase 11% no período para atender à produção de biodiesel do país. Entretanto, as exportações do mesmo devem sofrer pequena redução de 3%. O mesmo padrão é observado para o farelo de soja americano. Estes resultados são explicados pela alta competitividade da Argentina na exportação de farelo e óleo de soja. A vantagem do país sul-americano é tal que o USDA estima que, até a safra 2027/28, a Argentina deverá ser responsável por 45% do volume total de farelo e óleo de soja exportado.
Guerra Comercial entre China e Estados Unidos
A instabilidade comercial entre China e Estados Unidos começou em 2018 após este último, impor tarifas de importação a vários bens chineses. Em retaliação, o governo chinês impôs tarifas de importação a inúmeras commodities agrícolas americanas, entre elas a soja. O resultado foi a importação chinesa de apenas 8,3 milhões de toneladas de soja americana em 2018, contra o recorde de 36 milhões em 2016.
Em maio deste ano, o governo americano voltou a afirmar a intenção de imposição de novas tarifas aos produtos chineses. Até o presente momento, nenhum acordo foi estabelecido entre os dois países.
Toda esta tensão comercial gerou grande variação de preços, assim como muitas incertezas no mercado internacional, o que prejudica todos que negociam os produtos deste complexo.
Segundo o USDA, esta questão comercial promoveu o surgimento de dois preços de soja no mundo: o preço China-Brasil e o preço “do restante do mundo”. O primeiro é maior, pois no momento o Brasil é o único país capaz de comercializar o montante necessário ao país asiático. O segundo preço é menor e tem desestimulado os produtores americanos, que têm buscado novos mercados para o seu produto. O governo estima que no longo prazo, as exportações de soja se recuperem desta forma.
No curto prazo, o Brasil tem se beneficiado. Em 2018, as exportações de vários produtos para a China subiram 35% em comparação com o resultado de 2017, um incremento de US$ 7 bilhões. Especificamente para a soja, especialistas americanos estimam que o país sul-americano seja responsável por 52% do total global.
Entretanto, além da imprevisibilidade presente no mercado mundial, outro efeito negativo da guerra comercial pode ser apontado. Especialistas afirmam que no médio e longo prazo, o resultado será uma desaceleração econômica a nível internacional. Desta forma, o risco de redução no preço das commodities agrícolas é considerável, segundo a BBC Brasil, o que impacta diretamente a economia brasileira.
Conclusão
O Brasil, os Estados Unidos, a Argentina e a China têm papel de destaque na produção e comercialização dos produtos do complexo soja. Estes quatro países também apresentam diferenças quanto à logística e ao processamento do grão, óleo e farelo de soja. Por fim, instabilidades comerciais entre grandes players do complexo soja promovem alterações significativas na economia mundial no curto, médio e longo prazo.
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