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Trabalhar com a melhor rentabilidade possível envolve ter conhecimento sobre tudo que vem ocorrendo na propriedade rural.
Para atingir bons resultados é preciso analisar uma série de fatores que influenciam na produtividade e rentabilidade do negócio. É fundamental que se tenha uma boa gestão das atividades da propriedade rural.
Sendo assim, a Agromove entrevistou Alberto Pessina para ajudar a melhorar os seus resultados na gestão do seu negócio.
Introdução
Alberto Pessina é engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP, com MBA pela Fundação Dom Cabral. Em sua trajetória foi Presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional da Pecuária Intensiva – Assocon, pecuarista com experiência em gestão de fazendas, confinamento e manejo intensivo de pastagem. É fundador e CEO da Agromove.
Questões
Agromove: Por que é importante melhorar a gestão da propriedade rural?
Alberto Pessina: Nas últimas décadas, em razão das questões ambientais, sociais e a escassez de recursos, o mudo foi desafiado a ser mais eficiente, mais produtivo.
Pelo lado ambiental, podemos citar as questões do aquecimento global que desafiam a preservação do ambiente e a utilização dos recursos naturais. Para a agricultura, este efeito tem levado os produtores a aumentarem a produtividade ao invés de abrirem mais áreas.
Pelo lado social, a população global continua crescendo e, portanto, demandando mais recursos naturais como terra, alimento, minerais, etc. Esta tendência demanda mais alimentos e recursos por parte dos agricultores globais, que com maiores limitações para abrir novas áreas, têm necessidade de aumentar a produtividade.
Por outro lado, muitos recursos naturais estão se esgotando. Estas limitações já obrigam os sistemas produtivos a desenvolverem tecnologias para reciclagem de recursos, como é o caso do alumínio e fontes de energia. No caso da agricultura, isto aparece pelo lado da limitação de terras. A maior parte do mundo, já explorou mais de 80% das terras agricultáveis do país. Apenas dois países, Brasil e África, possuem menos de 60% das terras agriculturáveis exploradas.
Estas tendências econômicas trazem uma pressão de intensificação produtiva para os produtores rurais. Este movimento vem junto com o aumento de investimento e maior necessidade de capital de giro.
As margens na agricultura não são altas, 60 a 80% dos custos da produção são variáveis e as commodities agrícolas apresentam fortes oscilações de preços. Estes pontos aumentam o risco da atividade e demandam uma gestão mais profissional do produtor, orientada para o mercado.
AG: Quais as vantagens do gerenciamento rural?
AP: Como comentado acima, o aumento dos custos variáveis e das oscilações do mercado passaram a exigir do produtor uma maior capacidade de gerir o mercado fora da porteira. Pois, qualquer variação nos insumos ou na receita pode destruir as margens de lucro.
Ao melhorar a gestão, o produtor pode identificar onde estão suas falhas gerenciais, na produção ou no mercado.
Muitas vezes temos excelente produtividade, mas o preço não está bom. Em outras ocasiões, o preço está bom, mas a produtividade foi ruim ou os custos subiram muito. Uma boa gestão permite identificar estas falhas e antecipar ações para corrigi-las.
AG: Como realizar o controle de custos inteligente?
AP: Um bom controle de custo deve permitir que se faça uma gestão vertical e horizontal da empresa. Também deve permitir a geração de indicadores de produtividade e de mercado.
Gestão vertical, é aquela que permite analisar dentro de um ano contábil, onde estão os problemas de gestão, onde o gestor deve focar a atenção e onde pode delegar. Verificar se o problema está no mercado, na produtividade ou nos custos fixos.
A gestão horizontal, está focada em analisar o avanço da empresa ao longo de vários anos contábeis. Fornece a evolução dos indicadores de gestão (mercado, produtiva, financeira, operacional, etc). Esta é a gestão estratégica da empresa, que permite avaliar se deve continuar investindo no setor e se está remunerando seus acionistas.
AG: Como podemos eliminar gargalos?
AP: Os gargalos devem ser eliminados com investimento. Quando criamos um bom modelo de análise do negócio, passamos a identificar quais os principais gargalos que estão impactando o nosso resultado. Pode ser a produtividade, pode ser um custo fixo elevado, pode ser pelo mercado ou até mesmo por excesso de dividendos que não permitem o reinvestimento no negócio.
Para eliminar os gargalos são necessário investimentos, algumas vezes físicos, no caso de gargalos produtivos e outras vezes de conhecimento, no caso de mercado e gestão.
AG: Como elaborar o fluxo de caixa?
AP: Muita gente utiliza o fluxo de caixa apenas para controlar os gastos e saber quando o caixa estará mais enxuto ou mais gordo. Porém, um fluxo de caixa bem planejado é uma poderosa ferramenta de gestão vertical e horizontal.
Um bom planejamento do fluxo de caixa permite avaliar todos os gargalos citados acima. Para isto, basta fazer um bom planejamento do que iremos controlar e quais os indicadores pretendemos gerar. O formato do fluxo é extremamente importante, pois permite avaliar a empresa em relação a outros setores, a concorrentes e avaliar o retorno do investimento.
O bom planejamento, também permite que o abastecimento das informações não seja muito trabalhoso. Dependendo do tamanho da empresa, há pouca mão de obra e, portanto, há dificuldade em coletar informações. Neste caso, o fluxo deve ser enxuto e focar nos itens principais.
>> Leia mais sobre Fluxo de Caixa no artigo “5 passos para ter o controle definitivo do seu fluxo de caixa”. Nesta entrevista Henrique de Jesus Fernandes explica a importância do Fluxo de Caixa e como prepará-lo.
AG: Quando falamos em planejamento, logo pensamos em dados. Diante disso, como podemos melhorar a capacidade de coletas de dados em campo?
AP: Quando falamos em coleta de dados, temos que definir para que fim estamos coletando. O grande problema está em querer coletar todo tipo de informação e não ter um foco. Temos que lembrar que coletar informações é caro e não aumenta a produtividade e nem o faturamento. Portanto, as primeiras perguntas são:
- O que é importante coletar?
- O que gera informação relevante?
Existem informações que estão dentro da empresa e precisamos ser eficientes na coleta e organização. Neste ponto, o bom planejamento é essencial.
Outras informações estão fora da empresa e, às vezes, contratar plataformas de análise é menos custoso do que coletar e analisar os dados. Bons modelos de análise exigem especialistas que custam caro e, portanto, é muito mais barato contratar o serviço.
AG: A análise desses dados precisa ser realizada através de alguma plataforma ou software específico? Como?
AP: Nem sempre, no caso de gestão interna de produção e gestão, um bom planejamento dos dados a serem coletados e da estrutura do fluxo de caixa pode ser feito através de softwares simples, como o Excel. Tudo depende do tamanho da empresa e da quantidade de informações a serem coletadas.
Hoje existem muitas opções no mercado, a recomendação é ter um bom conhecimento das informações que se deseja obter antes de buscar o software. Muitas vezes, eles podem demandar um custo alto para abastecer a informação e não gerar as informações que se deseja.
Exemplo: sou um produtor de milho, soja e boi e vou buscar um software para cada tipo de cultura, pois não encontrei um que me satisfaça nos três segmentos. Neste caso, você pode estar triplicando o seu trabalho de controle e, mesmo assim, ter que compilar todas as informações em um Excel. Será que o custo benefício vale a pena?
No caso de gestão externa e de mercado, é muito mais barato contratar empresas especializadas, pois a gama de dados a serem coletados é grande e bons analistas são caros. Somente em empresas grandes que podem absorver estes custos, deve-se pensar em personalizar um software.
AG: É importante ter um estoque na propriedade? Se sim, como saber o que estocar, como e onde?
AP: Boa pergunta. Neste ponto, temos que lembrar que estocar tem custo. Portanto, só vale a pena estocar oportunidades de mercado, ou itens que são essenciais e não são supridos pelo mercado de forma eficiente. Exemplos:
Insumos como commodities agrícolas têm grande volatilidade e, portanto, podem apresentar oportunidade de compra. Para isto, devemos sempre ter uma capacidade estratégica para estocar oportunidades. A sugestão é possuir uma capacidade para 30% da sua necessidade.
Manter um almoxarifado para estocar peças é caro, portanto antes de pensar nesta hipótese, veja se o mercado não consegue abastecer. Se a resposta for não, estoque apenas os itens essenciais. O bom senso é quem manda.
AG: Um bom gestor consegue lidar com seus funcionários. Como melhorar a gestão de pessoas da propriedade?
AP: É essencial lidar bem com os funcionários. O bom gestor sabe selecionar a equipe e mantê-la satisfeita, eficiente e abastecida com as ferramentas (conhecimento e equipamentos) necessárias para a execução do trabalho.
Normalmente, a mão de obra não é o item mais caro da produção, mas é essencial para gerar a produtividade, ou seja, ser eficiente no uso dos insumos para maximizar a produção. Isto só ocorre se a equipe está satisfeita, preparada para o trabalho e com as ferramentas corretas.
O bom gestor também deve saber dirigir os investimentos em treinamento da mão de obra para resolver os principais gargalos e preservar estes investimentos dentro da empresa. Ou seja, nada melhor que um funcionário treinado e que podemos confiar.
Lembre-se a produtividade é um dos itens que compõe a fórmula do lucro.
AG: Por fim, como simplificar o gerenciamento rural da propriedade?
AP: Foco no que é relevante, um bom planejamento do fluxo de caixa, considerando os pontos citados acima e bom senso para equilibrar os controles com o que gera resultado.
AG: Existe alguma conclusão ou mensagem que você gostaria de deixar para os leitores que estão acompanhando este artigo?
AP: Lucrar Alto em qualquer atividade depende de uma boa gestão. E para isto, precisa-se de liderança, bom senso, produtividade e estar bem informado para tomar boas decisões.
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A rentabilidade é um dos principais objetivos para quem trabalha com propriedade rural. Para alcançar esse objetivo é necessário ter em mente que a administração correta dos recursos disponíveis e a análise de todos os fatores relacionados ao negócio são fundamentais.
Por isso, é importante que o gestor da propriedade rural tenha conhecimento sobre os principais elementos que influenciam a produtividade e rentabilidade. É necessário estar atento às novidades no mercado, aos custos de produção, à qualidade dos insumos, às taxas de juros, entre outros fatores.
Além disso, é importante contar com ferramentas de gestão que possam auxiliar na tomada de decisões. Por meio de relatórios precisos, é possível avaliar todos os indicadores da propriedade rural, o que traz maior segurança e aumenta as chances de obter ótimos resultados. Sendo assim, trabalhar com a melhor rentabilidade possível envolve muito mais que boa sorte: é preciso ter um bom conhecimento e bom planejamento.