Demanda pela carne reage a queda na oferta.
Foto: Paul Hermann

Em meu artigo “Crise, demanda fraca e o mercado da carne. O que esperar do segundo semestre?” levantei algumas possibilidades em relação à oferta de carne e reação dos preços. Pois bem, ao analisarmos o gráfico 1, também mostrado no artigo citado acima, observamos que houve uma redução na oferta de carne ao mercado. Algo ao redor de 860 mil t de equivalente carcaça em agosto (projeção) contra 878 mil t em junho. Ou seja, uma redução de apenas 1,9% entre o pico em junho e agosto. Podemos perceber também, que apesar da queda, os preços caíram ao invés de subirem.

Gráfico 1 – Produção de Carne (SIF) X Preços da Arroba do Boi Gordo (ESALQ)

Gráfico 1 – Produção de Carne (SIF) X Preços da Arroba do Boi Gordo (ESALQ)

No entanto, ao analisarmos o gráfico 2, onde observamos as cotações diárias, percebemos que a partir de meados de agosto, a carne começou a reagir com a redução na oferta e vem subindo fortemente desde então. Isto nos indica que o efeito da redução na oferta, que está se mantendo de forma mais significativa em setembro, já impacta fortemente os preços da carne, conforme havíamos comentado no artigo. Esta redução na oferta se acentuou ao longo deste mês. Pois os preços da carne já ultrapassaram o seu último pico R$ 155,00/@ em jan/16 e R$ 154,00/@ em mar/16. Destacando que a arroba do boi gordo também atingiu seu último pico a R$ 159,49/@ em abr/16.

Este movimento também nos dá um bom sinal em relação à demanda. Pois indica que o consumidor aceitou pagar mais caro com a redução na oferta. Se este movimento não ocorresse, seria um sinal muito ruim em relação à demanda.

Porém, os preços do boi gordo ainda não reagiram ao aumento dos preços da carne, movimento este que já ocorreu no passado, conforme pode ser visto em alguns momentos do gráfico 2 (linha azul ultrapassa a linha vermelha). Este movimento não é comum, pois a correlação entre a carne e o preço do boi é muito forte. Isto nos indica que os preços do boi devem reagir ao longo dos próximos meses, caso a oferta de animais continue reduzida.

Gráfico 2 – Preços do Equivalente Físico (carne sem couro nem sebo), Índice Esalq (coluna à
esquerda) e Dólar (coluna direita) - ESALQ

Gráfico 2 – Preços do Equivalente Físico (carne sem couro nem sebo), Índice Esalq (coluna à esquerda) e Dólar (coluna direita) – ESALQ

Os patamares da carne ao redor de R$ 157,00/@ no mercado físico hoje (Eq. Físico no gráfico 2), já permitem a arroba do boi elevar-se para patamares atingidos em abr/16, algo ao redor de R$ 158,00 a 160,00/@.

No entanto, temos que estar atentos ao movimento do dólar versus o valor da tonelada de carne exportada. No gráfico 3, percebemos que quando transformamos a tonelada de carne vendida ao mercado externo em R$/t, esta apresentou uma perda em reais, devido à valorização da moeda. Nos últimos meses, a indústria teve perdas em volumes vendidos devido à tentativa de repasse desses valores. Porém, recentemente com a queda na oferta, os mesmos estão melhorando. Mas, ainda não retornaram aos patamares anteriores.

Gráfico 3 – Valores da tonelada exportada em reais/t
Gráfico 3 – Valores da tonelada exportada em reais/t

Estes cenários indicam que a Demanda, tanto interna quanto externa, têm reagido à redução na Oferta, porém, ainda não indicam uma melhora da mesma. E, que um aumento na oferta pode voltar a trazer preços mais baixos.

Desta forma, enxergo apenas dois pontos que podem nos proteger de uma eventual retomada da oferta de gado. Em primeiro lugar, a retomada da economia brasileira traria um impacto maior sobre a demanda. E, dependendo da sua força, poderia sustentar ou até elevar os preços da arroba. Em segundo lugar, a abertura de novos mercados auxiliaria a reduzir a oferta interna e também traria um alívio na pressão sobre os preços. Na falta dos dois pontos, um aumento na oferta de carne voltaria a pressionar os preços para baixo.

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