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Artigo publicado na Revista Beef
por Alberto Pessina
O que esperar dos próximos anos? Para que possamos enxergar o que acontecerá em 2017 e nos próximos anos, precisamos olhar alguns fatos macroeconômicos que irão pautar as diretrizes da pecuária e das demais atividades.
Assim, para começarmos esta análise, devemos considerar que a taxa de crescimento que ocorreu no mundo durante o período de 2003 a 2010 e, que caiu significativamente após a crise de 2009, afetando em um primeiro momento as economias avançadas e num segundo momento as economias emergentes, não ocorrerá novamente nos próximos anos.
Alguns pontos estruturais são importantes para entendermos este movimento.
Primeiro ponto
A taxa de crescimento da população mundial está reduzindo, Gráfico 1. Esta desaceleração no crescimento da população, traz um impacto importante para as economias, como o aumento da idade da população e uma redução na quantidade de pessoas que entram na idade de trabalho. Este movimento, provoca questões quanto a força de trabalho futura (n° de pessoas em idade de trabalho), problemas de políticas públicas como a previdência privada (maior número de aposentados x pessoas em idade de trabalho) e outros relacionados. Porém, não podemos deixar de destacar que ainda há crescimento da população, principalmente nas economias emergentes e em desenvolvimento.
No Gráfico 2, podemos ver que o crescimento acelerado da população nas últimas décadas, trouxe um impacto significativo no consumo de alimentos no mundo. No entanto, o crescimento da população está desacelerando e, portanto, traz à tona questões como: Qual será o impacto desta desaceleração na demanda e no crescimento do mundo?
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Segundo ponto
Com o menor crescimento do mundo, o crescimento da renda per capita também deve ser menor nos próximos anos, Gráfico 3. Apesar desta redução, a taxa de crescimento do consumo de alimentos continuará sendo maior que o crescimento da população. Destacando que nos países Emergentes e em Desenvolvimento, estas taxas de crescimento, da renda e da população, serão maiores que nas Avançadas, o que provavelmente terá um impacto na melhoria da qualidade da alimentação destes países, uma vez que estas populações ainda consomem alimentos baratos devido a sua baixa renda.
Terceiro ponto
A produtividade da força de trabalho, medido pelo PIB per capita, tem decrescido nas últimas décadas e as projeções indicam que ela deverá se recuperar até 2021, porém não superando as máximas ocorridas no período anterior, Gráfico 4. Assim, se considerarmos que teremos a mesma produtividade com uma população crescendo mais lentamente, teremos um crescimento menor do mundo.
O interessante a ser destacado aqui, é que novamente o crescimento de produtividade, virá dos países emergente e, portanto, as grandes oportunidades de negócios viram destas economias.
Assim, ao entendemos que o crescimento da população está se desacelerando, passamos a entender que o crescimento do mundo virá através dos ganhos de produtividade. E, neste caso, as economias Emergentes possuem um maior potencial de crescimento da Produtividade em relação as Avançadas, o que permite a elas, apenas com o uso de tecnologias existentes, alavancar muito a sua produção, Tabela 1. Em 2025, os Emergentes tem um potencial de praticamente dobrar a sua produtividade, Gráfico 5.
Os dois últimos pontos, estão relacionados ao aumento na exploração de terras ainda não utilizadas e a redução de desperdícios nas cadeias produtivas. Quanto a questão das terras, parece ser difícil um aumento na exploração dado as pressões ambientais existentes. Quanto aos desperdícios, ainda há um potencial significativo de melhoria. No Gráfico 6, podemos perceber que nos países emergentes, grande parte das perdas estão no início das cadeias (32% em produção e 25% em manipulação), enquanto nos países desenvolvidos as grandes perdas estão no consumo (38%).
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E o futuro da Pecuária?
Pois bem, após o entendimento dos fatores econômicos que irão afetar o mundo e as cadeias produtivas de alimentos, podemos abordar um pouco o que esperar dos próximos anos para a pecuária Brasileira.
Do lado da oferta, o destaque está para a reversão do ciclo pecuário, indicando que nos próximos anos, a oferta de bezerros deverá melhorar o que também irá provocar um aumento no abate de matrizes e consequentemente na oferta.
Também alertamos para o potencial de aumento de produtividade que o Brasil possui em relação as demais economias exportadoras. São diversos os pontos onde há potencial de melhorias.
O primeiro deles é a quantidade de pastagens ainda com baixa produtividade e mal exploradas. Os novos sistemas de produção, que envolvem desde a adubação das pastagens, confinamentos, fornecimento de dietas com alto grão nos pastos, até sistemas integrados como ILP (Integração lavoura e pecuária) e ILPF (Integração lavoura, pecuária e floresta), tem potencial de aumentar a produção dessas áreas em mais de 100%.
O segundo ponto está na utilização de tecnologias Melhoradoras de Desempenho (MD) animal, já utilizada em países concorrentes e que não são permitidas no Brasil, devido uma legislação atrasada. Estas com potencial de aumento da produtividade animal de mais de 30%. Isto sem considerar as tecnologias MD já existentes e ainda subutilizada no país (ionóforos, pro-bióticos, etc), além de genética e outros fatores.
Destacando por último, que a cadeia produtiva de carne bovina ainda tem muito a melhorar, podendo evoluir tanto em qualidade da carne e aumento de mercado, quanto em desperdício da produção. Neste ponto, o produtor necessita de associações de classe fortes, que trabalham para entender os problemas da cadeia e melhorar a sua competitividade e imagem. Ele também precisa entender, que muitas vezes as melhorias de processos, estão em gargalos situados “fora da porteira” e que a sua atuação junto com outros elos pode trazer resultados muito maiores para o seu sistema. Um bom exemplo é a melhoria da imagem da carne brasileira, a introdução de novas tecnologias MD e a abertura de novos mercados. Em momentos de crise, estas atuações auxiliam a reduzir o impacto negativo da mesma.
Ou seja, o Brasil é um dos países exportadores com maior potencial para suprir a nova demanda proveniente do crescimento da população e da renda citado anteriormente, com destaque para os países Emergentes e em Desenvolvimento, nos próximos anos.
As maiores preocupações estão do lado da Demanda, que vem sendo fortemente afetada pela crise que assola o país e pelo menor crescimento do mundo. Nos últimos anos, o menor crescimento do mundo tem afetado o comércio mundial, reduzindo o volume de transações. As economias em geral também têm tentado se proteger, aumentado as políticas protecionistas na tentativa de evitar a entrada de produtos excedentes das economias em crise e proteger os seus empregos.
No caso do Brasil, podemos verificar no Gráfico 7, que mesmo com a significativa queda na oferta ocorrida entre Setembro e Outubro, o preço do Índice Esalq SP teve dificuldade em subir.
No entanto, ao olharmos os dados da carne diariamente e do boi gordo nas demais praças excluídas SP, percebemos que a redução na oferta, teve sim um impacto na correção dos preços para as máximas do ano, Gráfico 8. Demonstrando que ainda existe uma demanda pela carne no mercado interno, porém esta, mais fraca que no início do ano.
Um dos principais responsáveis pela inibição da alta do boi gordo em SP neste final de ano, foi que a diferença existente entre SP e as demais praças estava elevada no início do ano. Com a redução recente nas ofertas, as indústrias aceitaram pagar mais nos outros estados e segurando os preços em SP, conforme percebido no Diferencial de Base demonstrado no Gráfico 8.
Enfim, o Brasil está muito bem posicionado para conquistar a demanda futura que será criada com o crescimento da população e da renda mundial nos próximos anos. Principalmente, aquela gerada pelas economias Emergentes e em Desenvolvimento, que passarão a demandar quantidades maiores de alimentos com qualidade superior. A conquista destes mercados dependerá única e exclusivamente da organização da sua cadeia na busca de produtividade, competitividade e novos mercados, tanto em qualidade como em quantidade. Os quais só serão conquistados através de uma cadeia organizada, trabalhando para corrigir os seus gargalos de eficiência, na busca constante de atender melhor a nova demanda.
A recuperação da demanda em 2017 dependerá principalmente da retomada do crescimento da economia. Um aumento de oferta descasado da respectiva demanda, poderá causar uma pressão nos preços. Porém, se as medidas econômicas necessárias forem tomadas, o Brasil poderá ter uma retomada rápida em seu crescimento, gerando um pico, para depois retornar a seu potencial natural.
O mercado externo deverá se recuperar com a retomada de crescimento das economias emergentes, porém este crescimento não deverá ser explosivo. Assim, a recuperação da demanda interna, será a principal força a influenciar os preços nos próximos anos.
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