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O mercado global de oleaginosas representa um pilar fundamental da economia agrícola mundial, fornecendo óleos essenciais e farelos ricos em proteína para a alimentação animal.
Todavia, a complexidade de sua dinâmica é moldada por uma interação entrelaçada de fatores ambientais, econômicos e geopolíticos. A compreensão detalhada destes elementos é crucial para a formulação de estratégias eficazes por parte dos participantes do mercado.
Para os produtores rurais e empresários da cadeia da soja, entender o cenário atual e as Perspectivas Oleaginosas 2026 não é apenas uma vantagem, mas uma necessidade para mitigar riscos e capitalizar oportunidades. Este guia, em primeiro lugar, oferecerá uma análise detalhada do mercado global de soja e oleaginosas, revisando a safra 2024/25 e delineando um cenário prospectivo para a próxima temporada.
Análise da Safra 2024/25: A Dicotomia do Mercado
A safra 2024/25 foi marcada por uma notável dicotomia no mercado global de oleaginosas. A produção total atingiu um recorde, impulsionada principalmente pela safra excepcional de soja, o que resultou em uma oferta abundante e preços contidos para as farinhas de oleaginosas.
Por outro lado, o mercado de óleos e gorduras permaneceu restrito, com preços elevados, devido ao crescimento moderado na produção de óleo de palma, colza e girassol.
Produção Global: Crescimento Recorde da Soja vs. Queda de Outras Oleaginosas
A safra 2024/25 testemunhou um aumento significativo na produção global de oleaginosas, com a previsão de atingir um novo recorde de 695,9 milhões de toneladas, um aumento de 3,0% em relação ao ano anterior. O desempenho excepcional da soja impulsionou essa expansão, com a produção projetada para aumentar pela terceira safra consecutiva, alcançando um novo patamar de 422,5 milhões de toneladas, um crescimento de 6,1% ano a ano. Este crescimento, em suma, é atribuído a uma colheita recorde no Brasil e à recuperação nos Estados Unidos.
Tabela 1: Produção Mundial das Principais Oleaginosas (milhões de toneladas)
Oleaginosa | 2022/23 | 2023/24 (estimado) | 2024/25 (previsão) | Mudança 2024/25 sobre 2023/24 (%) |
Soja | 378.3 | 398.1 | 422.5 | 6.1 |
Colza | 90.6 | 90.6 | 85.7 | -5.4 |
Girassol | 56.1 | 58.7 | 54.6 | -7.0 |
Amendoim | 47.7 | 49.3 | 52.4 | 6.2 |
Caroço de Algodão | 42.1 | 41.4 | 43.3 | 4.6 |
Caroço de Palma | 19.5 | 18.9 | 19.5 | 2.7 |
Copra | 6.1 | 6.2 | 5.9 | -4.0 |
Total | 640.4 | 663.3 | 683.8 | 3.1 |
Fonte: FAO. 2025. Food Outlook – Biannual report on global food markets, p.26, Tabela 2.6.
No entanto, a produção de outras oleaginosas importantes apresentou declínios. A produção global de colza, por exemplo, diminuiu 5,4% , principalmente devido a colheitas menores no Canadá e na União Europeia, enquanto a produção de girassol caiu 7,0%, refletindo em grande parte as colheitas menores na Região do Mar Negro devido à seca persistente.
Tabela 2: Visão Geral do Mercado Mundial de Oleaginosas e Produtos (milhões de toneladas)
Indicador | 2022/23 | 2023/24 (estimado) | 2024/25 (previsão) | Mudança 2024/25 sobre 2023/24 (%) |
OLEAGINOSAS TOTAIS | ||||
Produção | 653.0 | 675.7 | 695.9 | 3.0 |
ÓLEOS E GORDURAS | ||||
Produção | 257.3 | 259.7 | 263.2 | 1.3 |
Oferta | 291.9 | 297.6 | 299.4 | 0.6 |
Utilização | 255.1 | 263.0 | 266.3 | 1.3 |
Comércio | 140.8 | 138.7 | 138.0 | -0.5 |
Estoque-uso (%) | 14.8 | 13.8 | 12.5 | |
FARELO E TORTAS | ||||
Produção | 166.9 | 173.9 | 181.0 | 4.1 |
Oferta | 193.3 | 201.8 | 214.4 | 6.2 |
Utilização | 162.8 | 169.3 | 175.8 | 3.9 |
Comércio | 107.9 | 114.8 | 118.0 | 2.8 |
Estoque-uso (%) | 17.2 | 19.8 | 20.6 |
Fonte: FAO. 2025. Food Outlook – Biannual report on global food markets, p.27, Tabela 2.7.
Analogamente, a seca prolongada na Argentina e no Paraguai deve resultar em uma produção estagnada ou reduzida.
Preços e Fundamentos: Uma História de Dois Mercados
Em 2024/25, os preços internacionais de oleaginosas e farelos geralmente oscilaram em faixas mínimas de vários anos, ao passo que os preços globais de óleos vegetais permaneceram elevados. A fraqueza nos preços de oleaginosas e farelos é evidente, com o índice de preços de farelos da FAO caindo 22,2% até maio de 2025, principalmente devido à ampla oferta global de soja e à demanda enfraquecida da China.
Em contrapartida, o índice de óleos vegetais da FAO registrou um aumento significativo de 19,1% no mesmo período. Essa força nos preços é liderada, em grande parte, pelas cotações mais altas do óleo de palma, que manteve um prêmio incomum sobre os óleos concorrentes devido à produção contida no Sudeste Asiático. A coexistência de preços baixos para oleaginosas e preços altos para óleos vegetais, por sua vez, revela uma disparidade crítica dentro da cadeia de valor.
O Gráfico 1, a seguir, ilustra a divergência nas trajetórias de preços entre oleaginosas, óleos vegetais e farelos de oleaginosas.

Balanço de Oferta e Demanda: O Desequilíbrio Continua
O balanço da oferta e demanda em 2024/25 reflete a situação de dois mercados distintos. Para óleos e gorduras, a utilização deve superar a produção, resultando em uma diminuição acentuada nos estoques globais. Por outro lado, a produção global de farelos e tortas está prevista para aumentar significativamente em 4,1%, impulsionada por robustas atividades de processamento de oleaginosas. Com a produção superando o consumo, os estoques finais globais de farelos e tortas devem acumular-se pela terceira safra consecutiva.
Desse modo, a queda simultânea nos estoques de óleos e o acúmulo nos estoques de farelos indicam um desequilíbrio fundamental na indústria.
Fatores-Chave que moldam o Futuro do Mercado
A análise das Perspectivas Oleaginosas 2026 exige uma atenção especial a fatores externos que introduzem volatilidade e remodelam o mercado.
Condições Climáticas e sua Imprevisibilidade
As condições climáticas mantêm-se como um fator de elevada imprevisibilidade e forte impacto no mercado. A seca prolongada em partes da América do Sul e na Região do Mar Negro, por exemplo, impactou negativamente a produção de soja e girassol. Um fator crítico a longo prazo é a “estrutura etária deteriorada das palmeiras oleaginosas” devido ao replantio insuficiente, o que limita o crescimento da produção e agrava a vulnerabilidade estrutural.
Políticas Comerciais e Geopolítica
As políticas comerciais e as tensões geopolíticas estão ativamente remodelando o acesso ao mercado. As tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos, por exemplo, já impactaram a demanda chinesa, o principal importador de soja.
Ademais, a imposição de tarifas e o conceito de “regionalização do comércio global” sugerem um afastamento das cadeias de suprimentos globais puramente impulsionadas pela eficiência. Como resultado, barreiras políticas podem criar escassez ou excedentes artificiais em regiões específicas, impactando preços e disponibilidade localmente.
A Demanda de Biocombustíveis e a Lucratividade da Indústria
A demanda por matéria-prima para o setor de biocombustíveis está projetada para aumentar apenas marginalmente em 2024/25, impulsionada por ajustes de políticas. Embora haja metas ambiciosas, o crescimento real da demanda é descrito como “marginal” e dificultado por “incertezas políticas” e “atrasos na implementação”. Por outro lado, as robustas atividades de processamento de oleaginosas nos principais países esmagadores são um fator-chave que sustenta o aumento da produção global de farelos e tortas. As empresas processadoras, nesse sentido, são impulsionadas pelas margens de processamento lucrativas do óleo vegetal, o que leva a um excedente de farelo como subproduto.
Perspectivas Oleaginosas 2026: Projeções e Implicações
As Perspectivas Oleaginosas 2026 sugerem um “crescimento adicional na produção global de oleaginosas”, com potencial para atingir um “novo recorde histórico”. Para a soja, a previsão indica que os ganhos no Brasil devem superar um declínio projetado nos Estados Unidos, que está ligado a menores intenções de plantio. A produção mundial de girassol e colza, por sua vez, também pode se recuperar.
A projeção de crescimento contínuo da oferta de farelos, combinada com um ritmo mais lento de aumento do óleo vegetal, reforça a ideia de um gargalo estrutural no mercado de óleo. A escassez fundamental no mercado global de óleo vegetal, provavelmente persistirá em 2025/26, principalmente devido a limitações inerentes à produção de óleo de palma, mesmo com o aumento da oferta geral de oleaginosas. Isso sugere que os preços dos óleos vegetais provavelmente permanecerão elevados, enquanto os preços dos farelos de oleaginosas continuarão sob pressão.
O que Produtores e Empresários Devem Observar
Diante desse cenário complexo, os produtores rurais e empresários da cadeia da soja precisam de considerações estratégicas.
Para os produtores, por exemplo, é fundamental focar na otimização dos rendimentos e na gestão dos custos. A diversificação das culturas também pode mitigar os riscos climáticos regionais.
Para os processadores, é crucial capitalizar as margens lucrativas do óleo. Mas, ao mesmo tempo, estar atento ao acúmulo de estoques de farelo.
Para comerciantes e investidores, o monitoramento rigoroso do desenvolvimento de políticas comerciais e eventos climáticos é essencial, pois eles podem alterar significativamente os fluxos comerciais e as dinâmicas de preços.
Conclusão
O mercado de soja e oleaginosas em 2024/25 apresentou uma dicotomia marcante: produção recorde de soja, levando a uma oferta abundante de farelos e preços contidos, em contraste com a escassez estrutural e preços elevados no mercado de óleos vegetais. O cenário para 2026 aponta para a continuidade desse desequilíbrio, com a escassez de óleos vegetais, especialmente o óleo de palma, persistindo e mantendo os preços firmes.
Nesse ambiente de alta volatilidade, a capacidade de se antecipar e tomar decisões estratégicas é crucial. A Agromove está posicionada para ser sua parceira de confiança, fornecendo as análises e os insights necessários para navegar neste complexo mercado.

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