Índice
Introdução
Em 2019, o PIB da pecuária de corte representou 8,5% do PIB total. Segundo o Relatório Anual BEEF REPORT 2020, da ABIEC: “o movimento do agronegócio da pecuária de corte em 2019 foi de R$ 618,50 bilhões, 3,5% acima dos R$ 597,22 bilhões registrados em 2018”.
Este crescimento é resultado, em grande parte, da adoção de novas tecnologias no manejo, na nutrição do gado de corte, melhoramento genético, gestão, entre outros pontos. Estas técnicas melhoram os resultados na pecuária de corte e é fundamental para o pecuarista ter lucro na atividade.
O Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), acompanha a evolução dos custos de produção e divulga mensalmente o Informativo de Custo de Produção de Bovinos Confinados (ICBC) e o Informativo do Índice de Custo de Produção do Cordeiro Paulista (ICPC). A partir de outubro de 2020, estes informativos também estarão disponíveis no blog da Agromove.
Cálculo de custo e indicador de custos de produção para bovinos em confinamento
Neste artigo, acompanhe o cálculo de custo e indicador de custos de produção para bovinos em confinamento.
O cálculo de custo de produção apesar de ser importante para o processo de decisão é, ainda, um desafio para vários produtores. Uma das dificuldades é a consideração dos itens de custo da atividade agropecuária que variam conforme a teoria utilizada, pois não existe método padrão previamente definido. Todavia, nas análises econômicas realizadas, alguns custos são subestimados, ou então, desconsiderados, quando na verdade, a alocação destes deveria abranger todos os itens relacionados à produção.
Devido as diferenças metodológicas os confinadores podem encontrar dificuldades de comparar os custos e indicadores econômicos entre propriedades, sem antes, entender a definição dos itens que compõem esta análise. Isso também implica em dificuldades de compreender as variações de preços e custos ao longo do tempo, devido, à instabilidade das commodities agrícolas, cujos preços sofrem significativas alterações em curtos períodos de tempo.
Nesse sentido, foi desenvolvido o projeto de pesquisa que teve por objetivo: i) desenvolver em planilha eletrônica modelo matemático para o cálculo de custo de produção de bovinos de corte em confinamento; e ii) elaborar o Índice de Custo de Produção de Bovinos Confinados (ICBC) para os Estados de São Paulo e Goiás.
Metodologia
Os resultados da alocação de todos os itens de custo do modelo de cálculo proposto seguiram os preceitos da Teoria Econômica. A organização dos custos visou à simplicidade para permitir o fácil entendimento, a comparação e a tomada de decisão, sem, contudo, deixar de considerar os itens efetivamente necessários na produção de bovinos confinados. Desta forma, o esquema de alocação de custo proposto consta no quadro seguinte:
A – CUSTOS VARIÁVEIS – CV |
1. Aquisição de animais; |
2. Alimentação; |
3. Manejo sanitário; |
4. Manejo de identificação; |
5. Outros custos variáveis; |
6. Impostos variáveis. |
B – CUSTOS SEMIFIXOS – CSF |
7. Energia elétrica; |
8. Telefonia e serviços de internet; |
9. Combustíveis; |
10. Outros custos semifixos. |
C – CUSTOS FIXOS – CF |
11. Mão de obra; |
12. Depreciações; |
13. Manutenções; |
14. Outros custos fixos. |
D – RENDA DOS FATORES – CO |
15. Remuneração do capital de giro: |
15.1. com animais; |
15.2. com alimentação; e |
15.3. com outros itens. |
16. Remuneração do capital fixo; |
17. Remuneração da terra. |
E – CUSTO OPERACIONAL EFETIVO – COE (A + B + 11) |
F – CUSTO OPERACIONAL TOTAL – COT (A + B + C) |
G – CUSTO TOTAL – CT (A + B + C + D) |
H – CUSTO OPERACIONAL DA ATIVIDADE – COP (CT – 1 – 2 – 15.1 – 15.2) |
Com a descrição dos itens de 1 a 17 foi possível atender, pelo menos, quatro diferentes indicadores de custo, representados pelas letras de E a H. Os indicadores de Custo Operacional Efetivo e Total (itens E e F), comumente, são utilizados pelos pesquisadores no ambiente acadêmico. O item G, Custo Total, é a forma mais completa de análise dos custos, segundo indica a Teoria Econômica. Cabendo ao item H, referente ao Custo Operacional da Atividade, a função de atender ao modo utilizado pelos confinadores. Essa estrutura de custo foi utilizada no modelo de cálculo, desenvolvido no software Microsoft Excel® e serviu para analisar os resultados a posteriori.
Para atender o segundo objetivo deste estudo foi elaborado o Índice de Custo de Produção de Bovinos Confinados (ICBC) o qual tem sido divulgado mensalmente. Para gerar os resultados de custos foram delineadas propriedades representativas a partir de levantamento feito a campo em SP e GO com 19 confinadores.
A partir da coleta de dados de dez confinamentos no Estado de São Paulo criaram-se duas unidades que as representasse – o que se conhece como, propriedade representativa: uma com capacidade de produção de 3 mil animais ao ano (CSPm) e outra de 27 mil animais ao ano (CSPg). Em GO coletou-se dados de 9 confinamentos e foi criado uma propriedade representativa de capacidade de 16,5 mil animais ao ano (CGO). Em todas as propriedades representativas – CSPm, CSPg e CGO – as instalações, máquinas, equipamentos e equipe foi adaptado dentro das devidas proporções. A seguir apresenta-se alguns dos parâmetros utilizados nas propriedades.
A partir da definição das propriedades representativas, foi possível calcular os custos de produção e compará-los ao utilizar o modelo de cálculo desenvolvido. A seguir, foram descritos os custos para as propriedades representativas no mês de setembro de 2020.
Observou-se que os custos totais por arroba foram similares entre si, no entanto, CSPm foi 1,7% e 2,7% superior do que CSPg e CGO, respectivamente. O COPd foi semelhante entre as propriedades de maior capacidade produtiva CSPg e CGO, R$ 1,58 e R$ 1,63, na ordem, e maior para CSPm que foi de R$ 1,73. Ou seja, a capacidade instalada de produção reduz os custos operacionais do sistema. Ao analisar o Custo da Diária-Boi (CDB), verificou-se que em Goiás há menores custos do que aquelas propriedades localizadas no Estado de São Paulo. Assim, diferentes indicadores de custo proporcionam análises com entendimento mais amplo sobre as decisões de produção. Por fim, a partir do ICBC mensal, se acompanhou as variações dos índices de custos desde abril de 2017, quando se iniciou o monitoramento mensal (Figura 1).
Observa-se que entre junho de 2017 e setembro de 2018 o ICBC mensal aumentou gradativamente para as três propriedades analisadas. O índice recuou de fevereiro a agosto de 2019, segundo o monitoramento feito por este estudo, e desde, então, houve expressivo aumento no índice. Entre abril de 2017 e setembro de 2020 o ICBC evoluiu, em média, 45% para as propriedades representativas de São Paulo e 60% para Goiás. Nos últimos doze meses esse aumento foi de 38%, aproximadamente, para aquelas propriedades analisadas.
Conclusão
Diante do modelo de cálculo e do indicador de custos desenvolvidos, os confinadores podem ter conhecimento do seu próprio custo de produção e comparar os seus indicadores de custos com outras propriedades – desde que utilizem a mesma base metodológica – e até mesmo com os resultados divulgados por este estudo mensalmente. O ICBC mensal proporciona o acompanhamento constante do comportamento dos custos de produção de bovinos confinados.
Caso você queira obter a planilha para cálculo de custo de produção e receber mensalmente o indicador de custos de bovinos confinados, envie-nos mensagem por e-mail e solicite gratuitamente: contato@agromove.com.br.
O projeto de pesquisa foi desenvolvido no mestrado do primeiro autor, MSc. Gustavo Lineu Sartorello, intitulado: “Desenvolvimento de modelo de cálculo e de indicador de custos de produção para bovinos de corte em confinamento”, junto ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal (FMVZ/USP). Disponível em: www.teses.usp.br. Para acessar o artigo completo: http://dx.doi.org/10.1590/rbz4720170215.
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Muito bom o conteúdo, fazemos parte desse mundo da pecuária trazendo inovações e qualidade em identificação de animais.
Hoje em dia precisamos colocar tudo na ponta do lápis. O custo atual não nos permite abusar!