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Quanto produzimos?
O Brasil é líder absoluto na produção de laranjas, com produção de 16,7 milhões de toneladas em 2019. E segundo maior produtor de Citros do mundo, estando atrás apenas da China, com produção total de 41,9 mi t de frutas cítricas de acordo com os dados da FAO. A produção brasileira de laranja está concentrada no estado de São Paulo, com 77,5% do total, o que representa cerca 13,6 mi t distribuídas em 390 mil hectares.
A laranja é, em sua grande maioria, levada para indústrias esmagadoras que extraem o suco, e a partir disso, as laranjas descartadas, as cascas e sementes sobram, se tornando um resíduo da indústria, comumente chamada de polpa cítrica. Anos atrás, essa polpa era majoritariamente exportada para outros países que utilizavam nas rações animais, predominantemente de ruminantes.
Com a baixa nos preços, as indústrias tiveram que encontrar uma nova saída para a polpa no território nacional para evitar problemas de contaminação ambiental e elevados custos atrelados a isso. A partir daí, o que antes era um subproduto, passou a ser um coproduto da extração do suco. Hoje, a polpa cítrica é muito bem cotada, acumulando uma alta de 82% apenas nesse ano, seguindo os preços do milho principalmente, segundo um levantamento realizado pela Scot Consultoria (2020).
Cada 100 kg de laranja geram 3,4 kg de polpa cítrica seca e peletizada, que é amplamente procurada e explorada por pecuaristas e nutricionistas para ser fornecida para uma ampla variedade de animais, bezerros, vacas de leite, gado em recria e/ou terminação.
Mesmo possuindo cerca de 10% de nutrientes digestíveis totais (NDT) a menos do que o milho, a substituição de até 50% desse cereal por polpa cítrica não prejudicou o desempenho dos animais em terminação, e em alguns casos houve até uma melhora como mostram inúmeras pesquisas acerca do tema.
Além do mais, a safra da laranja inicia-se em São Paulo a partir de abril/maio, época correspondente a entressafra de grãos, e se faz uma ótima opção aos pecuaristas, principalmente os confinadores.
Qual é a composição?
A polpa cítrica é o bagaço que sobra da prensagem de laranja, composto pela casca, por sementes, pela polpa e frutos descartados. Esse coproduto pode ser comercializado em sua forma in-natura, com cerca de 80% de água em sua composição. No entanto, isso encarece o preço de frete gasto para transportar uma tonelada de NDT e também dificulta seu armazenamento. Uma vez que a deterioração da polpa in natura é rápida, recomenda-se o uso em até 3 dias.
Outra forma comercializada que vem crescendo cada vez mais, é a polpa cítrica seca e peletizada (PCP). Para a peletização, o bagaço é seco por volta de 100ºC até atingir 89% MS. Esse processo onera os custos, mas por outro lado melhora muito as condições para transporte e armazenamento. Além disso, o frete não será gasto para transportar água.
Esse coproduto é rico em pectina, um carboidrato estrutural, mas não fibroso, de alta degradabilidade ruminal (podendo chegar a 100%), principal componente da lamela média entre as células vegetais.
Matéria seca | 87,68 | Lignina (%MS) | 2,45 |
Proteína bruta (%MS) | 6,90 | NDT (%MS) | 69,97 |
Extrato etéreo (%MS) | 2,44 | Ca (%MS) | 1,84 |
FDN (%MS) | 24,01 | P (%MS) | 0,11 |
Os valores exemplificados acima sofrem variações para cima e para baixo a depender da indústria, do lote, da região e mais, podendo conter ainda mais nutrientes. Deve-se atentar sempre à correção de Fósforo nas dietas e/ou suplementos minerais, já que a PCP tem baixos teores de P e altos de Cálcio, esse desbalanço traz problemas ao desempenho, por isso é importante fazer a correção de acordo com a categoria animal e desempenho esperado.
Como utilizar nas dietas?
A polpa cítrica tem seu uso bem maleável, pois pode ser fornecida para as mais diferentes categorias animais e para os diferentes desempenhos esperados. Pode ser utilizada como suplementação em pastagens, dieta fechada de vacas leiteiras, bovinos adultos em terminação, bezerros, ovinos e também como aditivo em silagens.
Muitos estudos já comprovaram efeito positivo no processo de ensilagem de capins tropicais aditivados com PCP, que atinge até 145% de capacidade absortiva, aumentando o teor de MS, adicionando carboidratos, melhorando as condições fermentativas e reduzindo perdas da massa ensilada.
A suplementação energética acima de 1% do peso vivo (PV) de bovinos em sistemas de pastagens pode reduzir o pH ruminal a níveis prejudiciais às bactérias fibrolíticas. Nestas situações, a polpa se faz uma alternativa interessante para a substituição de pelo menos 30% do milho. Essa combinação otimiza a suplementação, já que fornece grande quantidade de energia sem comprometer a digestibilidade da fibra oriunda do pasto.
Também é possível fornecer a polpa sem combinação alguma para a suplementação em pastagens, desde que seja conferido, e corrigido quando necessário, os teores de Fósforo, e evitar não fornecer mais do que 55% da MS da dieta sendo polpa cítrica.
Para vacas leiteiras de alta produção e bovinos em confinamento, a polpa cítrica é utilizada visando melhor desempenho e saúde ruminal dos animais, onde é possível substituir até 50% do milho das dietas sem redução no desempenho desses animais. Esse fato se dá porque a fermentação da pectina gera majoritariamente ácido acético, que é ampla e rapidamente absorvido pelo epitélio ruminal, sem efeitos deletérios no pH ruminal.
A acidose é um distúrbio metabólico caracterizado pela redução e manutenção do pH ruminal abaixo dos níveis normais, o qual pode reduzir o consumo subsequente desses animais, reduzir a digestibilidade das fibras da dieta, levar à queratinização das papilas, diminuindo a superfície capaz de absorver os produtos da fermentação. A acidose também prejudica a população microbiana desejada do rúmen e favorece aqueles menos efetivos e/ou que produzam ácidos indesejáveis, como é o caso de Streptococcus bovis e o ácido lático. Esse quadro, bastante comum em dietas com alta inclusão de milho, reduz o desempenho e traz prejuízos à saúde e bem estar animal.
Mas o uso da polpa cítrica só se justifica se for financeiramente atrativo, assim como qualquer outro alimento a ser inserido na dieta dos animais. Para isso, sugiro cotar as fontes mais próximas e calcular o preço (entregue na propriedade) da tonelada de NDT e PB da polpa cítrica e comparar com outros alimentos possíveis de serem utilizados. Assim, solicite ao vendedor uma análise bromatológica do produto e com base nos valores de NDT e PB com base na matéria seca, será possível comparar diferentes alimentos e identificar o que seja melhor em termos econômicos.
Para saber mais sobre o tema aguarde os próximos posts sobre criação de bezerros ou entre em contato com Clube de Criação de Bezerros através de nossas redes sociais:
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Estou impressionado com seu trabalho.
Muito bem explicado!