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Conservação de grãos em pós-colheita

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Silos para armazenamento de grãos.
Silos para armazenamento de grãos.

Como vimos no artigo “Pós-colheita de grãos: danos de pragas e patógenos”, apesar de sua relevância mundial na produção de grão, o Brasil convive com perdas elevadas em pós-colheita. Entre as principais causas dessas perdas estão os ataques por insetos, ácaros, pássaros, roedores, fungos e bactérias. Como aumentar a conservação de grãos em pós-colheita?

O Brasil ainda sofre o agravante de contar com condições tropicais ou subtropicais de alta temperatura e alta umidade relativa. Condições essas que favorecem o desenvolvimento das pragas. De acordo com Aro (2008), a maior parte dos insetos-praga de grãos armazenados é de origem tropical e subtropical e se desenvolvem bem em temperaturas altas (de 27°C a 34°C).

Assim, para reduzir as perdas de pós-colheita e também para aumentar o tempo de conservação dos grãos armazenados, é essencial conhecer os princípios de conservação desses produtos. É importante saber que as práticas realizadas, do campo ao armazenamento, podem interferir diretamente na conservação dos grãos em pós-colheita (Alves et al.,2001).

Métodos preventivos e métodos curativos para conservação de grãos em pós-colheita

Os princípios de conservação de grãos em pós-colheita podem ser divididos em métodos preventivos e métodos curativos.

Figura 1 - Grãos ardidos: uma das consequências da não realização dos princípios de conservação de grãos em pós colheita.
Fonte: Fernando Kubitza, PhD.
Figura 1 – Grãos ardidos: uma das consequências da não realização dos princípios de conservação de grãos em pós colheita.
Fonte: Fernando Kubitza, PhD.

Embora os métodos curativos sejam importantes, as perdas em pós-colheita de grãos devem ser evitadas principalmente por meio da utilização de métodos preventivos de manejo. Já vimos como os insetos e patógenos podem causar muitos danos aos grãos armazenados. Para manejar corretamente essas pragas e conservar ao máximo os grãos em pós-colheita, a prevenção é a melhor alternativa.

Quando os métodos preventivos não foram executados corretamente, ou quando pragas e patógenos ocorrem mesmo quando os métodos preventivos foram realizados, utiliza-se então de métodos curativos de manejo.

Vale lembrar que tanto para os métodos preventivos como para os métodos curativos, é importante se utilizar do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Como explicado no artigo “Manejo Integrado de Pragas (MIP)”, o MIP é um conjunto de estratégias e táticas de controle, visando o custo-benefício com o intuito de alcançar os interesses e evitar prejuízos, com uma visão voltada à sociedade, ao produtor rural e ao meio ambiente.

Cenários Pecuária e Grãos - Agromove
Cenários Pecuária e Grãos – Agromove.

Manejo preventivo de insetos e patógenos para conservação de grãos em pós-colheita

Como o próprio nome já diz, os métodos preventivos visam prevenir a ocorrência de insetos e patógenos nos grãos armazenados. Ou seja, quais atitudes tomar para evitar a entrada ou o estabelecimento dessas pragas nos locais de armazenamento dos grãos durante o período de pós-colheita.

Além disso, o manejo preventivo também visa evitar a produção de “grãos ardidos” no campo. O termo grãos ardidos refere-se aos grãos que sofreram em algum momento algum processo de podridão e apresentam coloração variada de marrom, preto, roxo e/ou vermelho (Figuras 1 e 2).

Figura 2 - Grãos ardidos de soja.
Figura 2 – Grãos ardidos de soja.

Assim, é indispensável que os princípios de conservação de grãos sejam empregados desde o início do cultivo até o armazenamento. Os métodos preventivos serão divididos e discutidos aqui, por ordem cronológica, em:

  • Antes do cultivo
  • Durante o cultivo
  • Na colheita
  • Na pós-colheita dos grãos

Antes do cultivo

O conhecimento do zoneamento agrícola e condições ambientais da região, bem como o histórico de ocorrência de pragas e doenças na área de produção são informações muito úteis na prevenção da ocorrência de perdas. É importante conhecer as características e fazer uma boa escolha de cultivar/variedade, principalmente em relação à resistência a danos mecânicos, insetos e fungos.

Realizar análise e correções necessárias no solo também é uma importante ferramenta na prevenção de doenças e pragas. Além de favorecer o bom desenvolvimento da cultura, essa prática também pode aumentar a resistência natural das plantas ao ataque desses organismos. É importante salientar que tanto a deficiência quanto o excesso de adubação pode ser prejudicial para as plantas. Por isso, é importante seguir a recomendação técnica para a correção do solo.

>> Leia mais em nosso artigo “Amostragem de solo e a produtividade da sua lavoura”.

Realizar o planejamento da semeadura pode evitar que o plantio seja realizado em época com clima desfavorável ao desenvolvimento inicial das plantas ou favorável ao desenvolvimento de fungos e bactérias. Também é essencial no manejo preventivo que a semeadura seja realizada na densidade e profundidade recomendadas e que a semeadora seja regulada adequadamente para evitar danos mecânicos nas sementes.

O parcelamento da semeadura de grandes áreas pode ser uma prática facilitadora para a colheita, secagem e armazenamento dos grãos.

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Durante o cultivo

Como já mencionado, as práticas realizadas no campo interferem diretamente na qualidade e conservação dos grãos durante o período de pós-colheita. Assim, é necessário fazer o monitoramento da cultura, insetos e doenças presentes no campo, bem como realizar o manejo indicado para cada situação de acordo com recomendação técnica. O controle de pragas e doenças deve priorizar o MIP e devem ser utilizados apenas defensivos registrados para cultura, pragas e patógenos.

O mesmo se aplica para a ocorrência e manejo de plantas daninhas que podem prejudicar o desenvolvimento da cultura ou serem “abrigos” para insetos e patógenos.

>> Leia mais em nosso artigo “Por que você precisa saber sobre o manejo integrado de plantas daninhas (MIPD)?”.

Na colheita

Muitas práticas foram realizadas no campo até o momento da colheita. Não atentar para o planejamento dessa etapa final do produto no campo seria pôr em risco uma grande quantidade de investimentos e trabalho realizado.

É essencial para a qualidade dos grãos armazenados que a colheita seja realizada no momento correto conforme recomendação técnica e, para isso, deve ser observado o ponto de colheita da cultura, que é quando a planta atinge a maturidade ideal. Contudo, a realização da colheita em períodos de chuva deve ser evitada.

Outra importante fonte de perdas de grãos, talvez a maior, ocorre durante a colheita e transporte. Estima-se que em torno 30% da safra seja desperdiçada durante o transporte dos grãos. Segundo reportagem apresentada pelo Canal Rural, melhoria de estradas, renovação das frotas, treinamento de profissionais, ampliação da capacidade de armazenagem na fazenda, qualificação das pessoas, uso de novas tecnologias e adequação das balanças que pesam as cargas são soluções para dirimir essas perdas.

Na pós-colheita dos grãos

É importante o produtor estar ciente que o problema com patógenos e insetos não acabam no momento da colheita. Frequentemente, os grãos saem do campo com muitas impurezas e umidade elevada. Isso acaba por favorecer a ocorrência de patógenos e insetos durante o armazenamento. Dessa forma, os grãos não apresentam condições para serem prontamente armazenados após serem colhidos.

Quando os grãos são levados para armazenamento em beneficiadoras, após a chegada da carga, são realizadas a pesagem e coleta da uma amostra que será encaminhada ao laboratório de classificação dos grãos de acordo com a presença de impurezas ou características dos grãos. Após a descarga nas moegas, os grãos são levados, por meio de elevadores e gruas, para os equipamentos de pré-limpeza, que separa as impurezas dos grãos.

Como já falamos, o manejo preventivo é a melhor maneira de prevenir a ocorrência de danos causados por pragas em pós-colheita de grãos. Se os princípios de conservação dos grãos foram empregados da semeadura até o momento da colheita, as chances de os grãos colhidos apresentaram elevada qualidade é alta. Contudo, os grãos apresentam teores de umidade elevada após a colheita, o que é favorável ao processo de deterioração e ocorrência de fungos e bactérias.

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Secagem de grãos

Para reduzir a presença de umidade, os grãos precisam passar por um processo de secagem. A secagem é uma prática que reduzirá o teor de umidade dos grãos até um nível adequado para o armazenamento, preservando, contudo, a sua qualidade. O teor de umidade de 13% é considerado ideal para o armazenamento e conservação dos grãos em pós-colheita.

A secagem dos grãos pode ser realizada basicamente por dois métodos: o método natural e o método artificial.

No método natural a umidade dos grãos é removida pela exposição dos mesmos sob o efeito do sol e do vento. Essa prática costuma ser realizada com o uso de eiras, tabuleiros ou lonas onde os grãos são esparramados. Embora muito simples, esse método não conta com condições controladas e é dependente de condições climáticas favoráveis.

No método artificial são utilizados equipamentos conhecidos como secadores que aumentam a temperatura e fluxo do ar em ambiente fechado. Esse método apresenta a vantagem de ser muito mais rápido e promover a secagem em ambiente mais controlado que o método natural. Além disso, o método artificial é mais indicado para grandes quantidades de grãos.

A secagem artificial pode ser estacionária, de fluxo contínuo ou intermitente.

  • Método estacionário: força o ar aquecido através de uma massa de grãos.
  • Método de fluxo contínuo: grãos entram úmidos no topo e saem secos na base do equipamento secador. Esse método é realizado em equipamentos chamados de secadores contínuos que são formados por duas câmaras destinadas à secagem e ao resfriamento.
  • Método intermitente: massa de grãos é submetida à ação do ar aquecido em intervalos de tempo para maior homogeneização da umidade e resfriamento dos grãos.

A retirada do excesso de umidade é uma prática de extrema importância para a conservação dos grãos durante o período de pós-colheita. A secagem reduz o teor de umidade dos grãos a níveis que não propicie a proliferação, principalmente, de fungos e bactérias.

Como vimos no artigo “Pós-colheita de grãos: danos de pragas e patógenos”, a ocorrência de alguns fungos está associada à produção de micotoxinas que, por sua vez, podem levar desde a desvalorizar de um lote até a contaminação e morte por intoxicação alimentar de humanos e animais pela ingestão de produtos contendo essas substâncias.

Além disso, a ocorrência de fungos e bactérias está relacionada à formação de grãos ardidos e degradação de grãos, que também são um empecilho para a comercialização dos grãos, principalmente para a indústria.

Plataformas Inteligentes Agromove
Plataformas Inteligentes Agromove.

Tratamento preventivo dos grãos

Passados pelos processos de beneficiamento, secagem e resfriamento, é aconselhável que os grãos recebam um tratamento preventivo com inseticidas protetores. O resfriamento dos grãos é muito importante para essa etapa, pois a alta temperatura dos grãos após a secagem pode interferir na eficiência do inseticida.

A utilização de inseticidas protetores irá auxiliar na prevenção ao ataque de possíveis insetos remanescentes nos grãos ou instalações de armazenamento. O tratamento com inseticidas protetores deve ser realizado após o beneficiamento e antes do armazenamento dos grãos.

As formas comumente utilizadas para a aplicação dos inseticidas são a pulverização de químicos líquidos nos grãos na correia transportadora ou o polvilhamento de inseticida natural a base de terra de diatomáceas. É importante que haja uma perfeita mistura do inseticida com os grãos, recobrindo-o totalmente.

Grãos que passaram pelo beneficiamento, secagem e pelo tratamento com inseticida protetor estão prontos para o armazenamento.

Cuidados durante o armazenamento dos grãos

O ideal é que os grãos sejam armazenados em silos/armazéns sem aberturas e frestas. Esses espaços permitiriam a entrada de insetos, aves e roedores, que por sua vez, podem carregar no seu corpo fungos e bactérias. Também é importante assegurar que toda a estrutura seja impermeável, já que altas umidades favorecem o desenvolvimento de fungos e bactérias.

Figura 3 - Silos metálicos comumente utilizados no armazenamento de grãos.
Fonte: Aprosoja.
Figura 3 – Silos metálicos comumente utilizados no armazenamento de grãos.
Fonte: Aprosoja.

Também é essencial que o local de armazenamento dos grãos passe por uma limpeza a fim de remover resíduos de armazenamentos passados (Figura 4). Armazéns contendo resíduos podem causar rápida e elevada perda em lotes de sementes e grãos. Isso ocorre porque os resíduos presentes no local estarão abrigando insetos e patógenos. Assim, silos, corredores, elevadores e moegas devem passar por uma limpeza. Para complementar a limpeza das instalações deve ser realizado o tratamento da estrutura com inseticidas protetores de efeito residual recomendados pelo MAPA.

Figura 4 – Grãos podres e germinados no fundo do silo.
Fonte: Blog do Mathias.

Após o armazenamento dos grãos, é de extrema importância que seja realizado o monitoramento frequente, atentando para a ocorrência das pragas. A rápida identificação de inseto e patógenos nos grãos armazenados é fundamental para identificar o início de uma infestação e para que as medidas de controle sejam rapidamente adotadas.

Tratamento curativo dos grãos

Quando a presença de pragas for constatada, o produtor deverá realizar o controle curativo por meio do expurgo/fumigação dos grãos. O expurgo/fumigação é uma técnica empregada para eliminar pragas infestantes através do uso de gás. Assim, para a eficiência do método a vedação do silo ou do lote de sementes utilizando lonas plásticas deve ser garantida (Figura 5).

Figura 5 - Lote de sementes vedado com lona para a realização do expurgo.
 Fonte: Agro Fumigações.
Figura 5 – Lote de sementes vedado com lona para a realização do expurgo.
Fonte: Agro Fumigações.

O inseticida mais utilizado para o expurgo de silos é a fosfina (PH3), um biocida geral. A fosfina é um gás altamente tóxico que controla insetos de todas as fases (ovo, larva, pupa e adultos). Devido a sua elevada toxicidade, somente pessoas habilitadas e equipadas com EPI devem manusear esse inseticida.

Diante da preocupação com a evolução de resistência a inseticidas e com os riscos oferecidos pelos inseticidas à saúde humana e ao meio ambiente, métodos alternativos de controle têm sido sugeridos. Como por exemplos, atmosferas modificadas, controle biológico, inseticidas botânicos, controle da temperatura, pós inertes e variedades de grãos resistentes a insetos. Para saber mais, acesse o trabalho “Os problemas com pragas de armazenamento e as tendências para seu controle na pós-colheita de grãos”, Lêda Rita D’Antonino Faroni e Adalberto Hipólito Sousa.

Além dos princípios de conservação dos grãos em pós-colheita aqui apresentados, mais informações podem ser encontradas no livro Manejo Integrado de Pragas de Grãos e Sementes Armazenadas da EMBRAPA.

As pragas de pós-colheita de grãos são tão importantes quanto as pragas que ocorrem no campo. O emprego dos princípios de conservação dos grãos visa garantir a qualidade de sementes que ficarão armazenadas por um período até a comercialização. Para o manejo dessas pragas, é necessário conhecer e aplicar os princípios básicos de controle, prezando sempre pelo MIP.

Além do exposto, conhecer as pragas ocorrentes também auxiliará na tomada de decisão quando ao manejo mais adequado e, consequentemente, eficiente para a conservação dos grãos. Por isso, no próximo texto serão abordadas as principais pragas de grãos de milho e soja e como identificar essas pragas.

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