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Apontada como uma das principais atividades econômicas de várias regiões brasileiras, a pecuária está diretamente relacionada à produção de pastagens, sendo estas a base da alimentação da maioria dos rebanhos brasileiros nas cadeias produtivas da carne e do leite.
De acordo com os resultados do censo agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, houve um aumento de 9,6% na área de pastagens plantadas entre os anos de 2006 e 2017, o que provoca uma demanda de informações a respeito do cultivo de pastagens bem como de práticas de manejo que possam torná-lo mais eficiente.
Nos últimos anos, muitos produtores têm aumentado o investimento na produção de carne e leite a partir do manejo intensivo de pastagens.
O que é o Manejo Intensivo de Pastagens?
Em linhas gerais, o manejo intensivo de pastagens (MIP) – ou cultivo intensivo de pastagens ou, ainda, intensificação da produção a pasto, consiste em um manejo mais tecnificado visando obter uma melhor qualidade do pasto e altos índices de produtividade, permitindo uma elevação na capacidade de suporte da pastagem.
Na perspectiva do MIP, a pastagem é tratada como uma cultura e para seu máximo aproveitamento faz-se o uso de tecnologias relacionadas ao solo, à planta e ao animal, o que abrange práticas de irrigação, adubação, pastejo rotacionado, bem-estar animal, além do uso de cultivares com alto potencial de produção.
Neste artigo, daremos destaque à irrigação de pastagens como uma das práticas bastante utilizadas no MIP.
Leia também um artigo que disponibilizamos para você sobre adubação de pastagens.
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Irrigação de Pastagens
A prática da irrigação de pastagens é desenvolvida no Brasil mais fortemente desde a década de 90. Sua principal finalidade é aumentar a produção e a qualidade do pasto possibilitando, assim, o aumento da taxa de lotação animal.
É uma técnica que contribui, em certa medida, para a produção nos períodos de estacionalidade que ocorrem em determinadas regiões do país. Nestes períodos há uma redução na oferta de forragem decorrente da carência de um ou mais fatores de crescimento essenciais para o bom desenvolvimento da pastagem como a água, nutrientes, fotoperíodo (horas de luz por dia) e temperatura.
Pesquisas já realizadas e a experiência de produtores que fizeram/fazem uso da técnica demonstram resultados positivos com a irrigação de pastagens. Vale destacar que o uso da técnica requer um bom planejamento e gestão, além de mão-de-obra especializada e manejo adequado.
O método de irrigação mais comumente utilizado no cultivo de pastagens é o de aspersão, no qual destacam-se os sistemas de aspersão convencional e pivô central. No entanto, na irrigação por aspersão a eficiência do sistema pode ser reduzida devido, sobretudo, às perdas significativas de água por evaporação e arraste pelo vento.
Considerando o contexto de busca pela adoção de práticas de manejo mais sustentáveis na agricultura que se baseiam no uso racional da água e, ainda assim, permitem o alcance de uma maior produtividade, o investimento em sistemas de irrigação mais eficientes como os sistemas da irrigação localizada apresenta-se bastante oportuno, até mesmo no cultivo de pastagens.
Irrigação Localizada
Atualmente, os sistemas de irrigação localizada são considerados como aqueles de maior interesse comercial no mercado da agricultura irrigada. Nesse grupo se inserem os sistemas de microaspersão e de irrigação por gotejamento (superficial e subsuperficial). Recentes projeções realizadas pela MarketsandMarkets™ indicam que a irrigação localizada por gotejamento será o sistema com maior crescimento no mercado da irrigação automatizada nos próximos cinco anos.
As principais características dos sistemas de irrigação localizada consistem na aplicação da água em alta frequência e com baixo volume. Por serem sistemas com alta eficiência, contribuem para o que se tem chamado de “more crop per drop” – maior produção por gota. Conforme dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2017, as áreas dotadas de sistemas de irrigação localizada já correspondem a 24,4% da área total irrigada no Brasil.
Mais dados sobre a utilização da irrigação no Brasil podem ser conferidos no artigo A Irrigação de Precisão na Agricultura 4.0.
No âmbito da irrigação localizada, a irrigação por gotejamento subsuperficial (SDI – subsurface drip irrigation) tem ganhado evidência nos últimos anos. Esse sistema difere do gotejamento superficial quanto à localização de seus emissores que, no gotejamento subsuperficial, estão situados abaixo da superfície do solo e próximos ao sistema radicular da cultura. Essa configuração possibilita a aplicação de água e nutrientes diretamente na “boca da planta”, o que garante um melhor aproveitamento dos mesmos.
Os emissores utilizados no gotejamento subsuperficial são autocompensantes e com dispositivos anti-sucção. Essa tecnologia permite a manutenção de uma mesma vazão em uma determinada faixa de variação de pressão e impede a sucção de partículas sólidas por efeito de uma pressão negativa que ocorre, por exemplo, no momento de desligamento do sistema. A adequada operacionalidade da irrigação vai depender também de um bom sistema de filtragem.
A irrigação por gotejamento subsuperficial vem sendo implementada em todo o mundo, principalmente em regiões com altos índices de evapotranspiração e restrição hídrica. Consequentemente, torna-se crescente o interesse por mais informações a respeito dessa tecnologia. Nesse sentido, recomendações técnicas a respeito da profundidade de instalação das linhas laterais (ou linhas de gotejamento) bem como do espaçamento entre elas são essenciais para êxito do projeto de irrigação. Essas informações dependem, sobretudo, das características do solo e da cultura a ser utilizada.
De modo geral, entre as vantagens que o sistema por gotejamento subsuperficial proporciona estão a redução do volume de água aplicado por área, redução dos custos agronômicos voltados para o controle de ervas daninhas e adubação, redução dos danos mecânicos ao sistema de irrigação, já que a tubulação fica enterrada. Há ainda a redução dos custos de energia decorrente das baixas pressões operacionais demandadas pelo sistema (cv/ha).
Irrigação localizada no cultivo Intensivo de Pastagens
A irrigação por gotejamento subsuperficial tem sido utilizada nos cultivos de cana-de-açúcar, milho, soja, café e diversas frutíferas. Para além dessas culturas, o uso desse sistema tem sido observado também no cultivo intensivo de pastagens, sendo atualmente um dos investimentos promovidos por grandes empresas de irrigação com seus respectivos cases de sucesso.
Apesar de ser uma prática ainda incipiente, já se tem registros nacionais de uso do gotejamento subsuperficial no cultivo intensivo de pastagens. Algumas fazendas no estado de São Paulo, por exemplo, têm parte de sua área de pastagem submetida à irrigação por gotejamento subsuperficial, com produção voltada para feno e para pastejo.
Um dos entraves para o investimento em sistemas de gotejamento subsuperficial é seu alto custo inicial, que pode estar por volta de R$ 8.000,00 por hectare. Esse custo, evidentemente, depende de vários fatores, sendo um deles o nível de automação do sistema. Contudo, esse alto custo inicial pode ser compensado por se tratar de um sistema com maior vida útil e que reduz custos operacionais com energia, mão-de-obra, maquinário, fertilizantes, adubos e herbicidas, além da possibilidade de ser utilizado por mais de uma cultura na mesma área ao longo de anos.
Forrageiras dos gêneros Cynodon, Brachiaria e Panicum estão entre aquelas já utilizadas nesse tipo de sistema. Considerando os benefícios que a técnica proporciona e os resultados já alcançados com seu uso, a irrigação por gotejamento subsuperficial pode vir a ganhar cada vez mais espaço no cultivo intensivo de pastagens e possibilitar uma elevação nos índices de produtividade de forma sustentável.
Conclusão
A irrigação de pastagens não é um fim em si. Investir em pastagem é investir em carne e leite de maior qualidade, é investir na verticalização da produção, que consiste no aumento da produção sem a necessidade de explorar novas áreas de cultivo.
A irrigação por gotejamento subsuperficial já é utilizada no cultivo de pastagens e isso é fato. Inclusive, é um sistema que pode ser eficiente no manejo intensivo de pastagens, desde que seja realizado um bom projeto de irrigação e o manejo seja conduzido de forma adequada.
Nesse contexto, é fundamental a realização de mais estudos técnicos na temática abordada. Com isso, mais informações e recomendações técnicas a respeito serão geradas, contribuindo para tomadas de decisão mais assertivas frente à busca por índices satisfatórios de produtividade aliados ao uso racional da água na agropecuária.
>> Leia mais entrevistas em: “Cria: 5 principais entraves”. Nesta entrevista, Rodrigo Paniago, da Boviplan Consultoria Agropecuária nos responde as principais dúvidas sobre a fase de cria e comenta seus principais entraves.
>> Leia mais entrevistas em: “Recria: 5 principais entraves”. Neste texto, Marco Balsalobre responde quais são os principais entraves desta fase e porque ela é tão negligenciada.
>> Leia mais entrevistas em: “Engorda: 7 principais entraves”. Neste texto, Rogério Fernandes Domingues fala um pouco mais sobre os principais entraves na engorda e como isso pode ser prejudicial ao produtor.
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>> Leia mais em: “Por que devo saber o meu custo?”. Onde Alberto Pessina responde as principais dúvidas sobre gestão de custos.
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>> Leia mais entrevistas em: “Como melhorar os resultados da empresa rural?”. Onde Alberto Pessina explica que precisamos analisar uma série de fatores que influenciam na produtividade e rentabilidade do negócio para atingir bons resultados. E é fundamental se ter uma boa gestão das atividades da propriedade rural.
Muito boa reportagem, faço Irrigação de todos tipos inclusive a localizada, e enterrada tanto em milho quanto em cana de açúcar. Como tenho uma pequena Empresa na área, gostaria de receber mais informações sobre o assunto e onde fazer cursos.
Grato,
Antonio Machado
Olá, Antônio.
Agradeço por seu comentário e pelo interesse no tema.
Estarei entrando em contato com você para tentar atender de alguma forma a sua demanda.
Meu e-mail machado_antonio07@hotmail.com
Fone 81 99536-5090.
Antonio Machado
Como fica as outorgas dgua?
Olá, Cleidian.
Você pode verificar o seu caso junto à Agência Nacional de Águas (ANA), se o corpo hídrico da captação de água for de domínio da união (um rio que passa por mais de um estado brasileiro, por exemplo), ou junto ao órgão gestor de recursos hídricos de seu estado, se o corpo hídrico for estadual.
Mais informações a respeito podem ser encontradas no site oficial da ANA.