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Segundo maior rebanho de bovinos do mundo e o maior exportador de carne do mundo! Quem de nós não se orgulha de tais títulos?!
Temos como características de produção, um rebanho majoritariamente mantido a pasto, em liberdade. Sendo esta também, a forma mais econômica e natural de oferecer alimento para os bovinos. Entretanto, apesar do nosso destaque internacional, a bovinocultura brasileira, ainda enfrenta muitos desafios dentro de casa, dentro de um negócio chamado “produzir boi a pasto”. Um destes desafios está justamente relacionado ao combustível primordial para o animal: oferta das pastagens e sua qualidade! E é sobre este assunto, pastagens, e como podemos mantê-las de forma sustentável, que abordaremos neste texto a seguir!
Pecuaristas, agricultores, empreendedores do ramo agrícola, a grande verdade é que todo mundo está careca de saber que nossas áreas de pastagens se encontram degradadas! Na verdade, nossa situação é lamentável e realmente destoa do que afirmamos inicialmente neste artigo, acerca de nossa representatividade perante o comércio de proteína animal.
De acordo com a Embrapa, contabilizamos nada menos do que 130 milhões de hectares de pastagens degradadas. O que representa 65% do total das áreas disponíveis de pasto. Isto é normal?
A resposta é não!
Sinceramente, este resultado apenas entristece e confirma claramente a negligência com que gerenciamos o nosso espaço de trabalho, neste caso o nosso campo, o meio ambiente, e demonstra todo o esmero que cultivamos em relação a este assunto.
Diferentes razões podem estar envolvidas quanto ao tema degradação do pasto. Estas podem estar ligadas desde aspectos agronômicos de produção, à planta forrageira, ao tipo de solo, ao clima, ao manejo em si, ao animal. Como também em relação às questões econômicas e de competência do produtor.
Por detrás de tudo isto, existe também um outro grande motivo, e está intrinsecamente relacionado àquela velha e tradicional formatação de produção que possuímos aqui no país: sistemas extensivos de criação articulados na prevalência da lei do mínimo. Quando nos referimos ao mínimo, queremos dizer, mínimo investimento em tecnologia, técnica e até mão de obra. Isto de certa forma é natural na natureza humana. Afinal, o desejo da maioria é potencializar um negócio que lhe proporcione primariamente o lucro e minimize por base os custos. O detalhe é que esta estratégia, e a mentalidade associada a esta prática, não funcionam por muito tempo. Principalmente se não houver um plano paralelo de reinvestimento, manutenção da máquina produtiva, essencialmente em modelos de negócio com base em exploração biológica.
Sabe-se que o processo de degradação não acontece do dia para a noite, e sim que o mesmo ocorre de forma contínua, ou seja, gradualmente. A ausência de manejo na pastagem, a superlotação de animais, por exemplo, a constante extração dos nutrientes do solo aliada com a falta de um plano de adubação das pastagens para a reposição da fertilidade do solo a longo prazo, tudo isso contribui para o enfraquecimento do pasto. E as consequências de todo esse processo são evidentes, além da perda de produtividade, abrimos espaço para o surgimento de outros problemas subsequentes, como estabelecimento de plantas invasoras, pragas e doenças.
Mas o que podemos fazer na prática para reverter tal situação?
Basta tratarmos o assunto com a devida atenção que ele requer! Independentemente da planta, algumas condições de cultivo são premissas básicas para que as mesmas cresçam plenamente e expressem todo seu potencial de desenvolvimento. Pensando nisto, aspectos no ambiente, como disponibilidade de água, oferta de luz, temperatura ideal e presença de quantidades suficientes de minerais essenciais (N, K, Ca, Mg, P, S, micronutrientes) no solo são determinantes para o bom desenvolvimento da planta. Em resumo, o desequilíbrio em apenas um destes fatores, já é suficiente para reduzir ou trazer impactos significativos sobre a evolução vegetativa e rendimento da planta. Enfim, o que queremos salientar é que a gramínea, assim como todas as plantas, necessita de condições ambientais adequadas para se desenvolver.
Considerando que estamos lidando com um sistema de produção a céu aberto, a exemplo da pastagem, alguns destes fatores são passíveis de serem controlados ou até mesmo ajustados pelo produtor, outros não, como o caso da luz e a temperatura. Saiba mais sobre esses fatores no nosso texto “5 fatores que podem ser os responsáveis pela perda de produtividade da lavoura”.
Por outro lado, aqueles que nos é possibilitado “aperfeiçoar” e enquanto exploradores do ambiente, nosso dever é de supri-los simultaneamente, a fim de garantir a sustentabilidade do sistema. Entretanto, na prática isto não acontece, principalmente em relação às pastagens e quando tratamos do quesito nutrientes do solo, a adubação das pastagens.
Você já ouviu algum produtor de soja plantar sem se preocupar com o solo? Não realizar as devidas correções, calagem, gessagem? Já ouviu alguém plantar milho, ignorando as exigências nutricionais da planta, esquecendo de prever o nitrogênio, o fósforo, o potássio, enxofre, magnésio, micronutrientes, etc.? Provavelmente não.
E é justamente neste ponto que você, pecuarista, não está prestando atenção! Antes de ser um criador de boi, você deve ser um cultivador de pasto! Enxergar e tratar a espécie forrageira como uma cultura, assim como o que é feito hoje para a soja, o milho, o trigo… As gramíneas forrageiras são plantas que requerem cuidados para alcançar altos rendimentos e assim como outras de interesse econômico, são exigentes nutricionalmente como podemos observar no quadro abaixo!
O aspecto da adubação das gramíneas, historicamente, nunca foi tratado como um pilar prioritário pelo pecuarista. O que observamos na prática na maioria das propriedades, a exceção daquelas que já possuem a consciência de sua importância, é a eventual correção do pH do solo através da calagem, e raramente, uma adubação das pastagens.
O grande problema é que o produtor não analisa o assunto de forma holística, de maneira a enxergar que os benefícios, tanto pelo viés de ganho na rentabilidade do negócio como nos aspectos da aquisição de valor no patrimônio (propriedade), são bem maiores e justificam o custo de se investir no solo.
Do ponto de vista agronômico, ao adubar, não estamos apenas contribuindo para manutenção da fertilidade e do equilíbrio no ambiente (relação solo – planta). Estamos aumentando também o potencial daquele espaço em proporcionar maiores rendimentos por área de biomassa vegetal. Além do oferecimento de um alimento de melhor qualidade para o rebanho.
Outro ponto, analisando o sistema de criação, o benefício sobre a produção de capim permite também, que o produtor aumente significativamente a capacidade de suporte de animais em sua fazenda. E não paramos por aí, ganhando no aumento da taxa de lotação (UA/ha), aceleramos o ganho médio de peso (GMP) do animal pela maior oferta de alimento, efeito sistêmico que no final se reverte em maior giro de animais e receita para a atividade.
Quer conhecer um pouco mais sobre a dinâmica de preços dos adubos, leia o artigo “7 fatores que influenciam os preços de adubos”.
Conclusão
Considerando nossa atual conjuntura, mudanças com relação às práticas e manejo do pecuarista em relação ao tema “adubação das pastagens” serão exigidos, cedo ou tarde. Dizer que a adubação é a solução de todos os problemas relacionados à pastagem, com certeza é um engano. Mas a mudança na mentalidade a respeito e enxergar a pastagem como uma cultura já é um bom começo. A cobrança de sermos mais eficientes produtivamente falando através das áreas que já possuímos é um fato certo. Ainda mais com o aumento da demanda por alimento no mundo e com a pressão das restrições ambientais a respeito da abertura de novas áreas. Conhecimento nós temos, espaço para trabalhar também, o que nos falta mesmo é o bom senso e a força de vontade para mudar este padrão de conduta.
Por final, a pergunta que fica aqui:
Então produtor, que tal irmos para
o lado da Alta Performance?
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