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Manejo Integrado de Doenças: como realizar boas práticas agrícolas.

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Manejo Integrado de Doenças

O AGRO move o Brasil e o mundo. Tudo o que vemos, comemos e usamos está relacionado ao agronegócio. Mas tudo já está tão impregnado nos nossos dias, que nem nos damos conta do trabalho e dos trabalhadores que estão envolvidos desde a fase de preparo do solo até a costura da roupa.

A população mundial cresce a cada dia, e com ela cresce a dúvida de como alimentar essas 7,7 bilhões de pessoas que existem no mundo.

Bom, não será uma tarefa fácil. E não é à toa que cada vez mais os produtores buscam o aumento da produtividade, assim como as empresas buscam desenvolver novas tecnologias para o mercado.

Devido a isso, um assunto cada vez mais discutido entre produtores e as empresas é o uso do Manejo Integrado de Doenças (MID), isso se deve aos resultados eficientes e benéficos dessas técnicas no controle das doenças.

Além disso, a demanda dos consumidores por alimentos seguros com menores concentrações de resíduos de agroquímicos está cada vez maior.

Diante disso, vamos apresentar como surgiu o Manejo Integrado de Doenças, o MID e como ele funciona.

Cenários Pecuária e Grãos - Agromove
Cenários Pecuária e Grãos – Agromove.

De onde surgiu o Manejo Integrado de Doenças?

O Manejo Integrado de Doenças nada mais é do que um conjunto de técnicas que, quando unidas, garantem grande proteção aos cultivos contra as doenças. Surgiu baseado no manejo integrado de pragas (MIP).

O MIP é um sistema de manejo de pragas que associa o ambiente e a dinâmica populacional da praga a estratégias e táticas de controle. Essas técnicas utilizam todos os métodos de proteção disponíveis para manter o nível populacional da praga abaixo do nível de dano, de forma eficiente, econômica e ambientalmente correta.

Ao unirmos o MIP com MID temos o chamado Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD) que será tema para outro momento.

Para entendermos como o MID funciona, antes precisamos nos familiarizar com os princípios de controle de doenças, confira seguir!

 Figura 1. Esquema representativo do Manejo Integrado de Doenças (MID).
Figura 1. Esquema representativo do Manejo Integrado de Doenças (MID).

Os princípios de controle

Vamos entender, então, como surgiu a ideia de controlar as doenças de plantas. Os princípios gerais de controle de doenças podem ser divididos em 5 princípios que chamamos de Princípios de Whetzel.

Cada um tem uma finalidade e atua em uma fase da relação patógeno-hospedeiro, como podemos ver na Tabela 1.

Tabela 1. Princípios de controle de Whetzel e suas fases de atuação.

Princípio de controle O que é? Em que fase da relação patógeno-hospedeiro atua?
Exclusão Previne a entrada dos patógenos em áreas não infestadasDisseminação do patógeno
Erradicação Eliminação do patógeno da área em que já foi introduzidoSobrevivência do patógeno
Proteção Criação de barreira protetora entre a planta e o inóculo do patógeno (preferencialmente antes da deposição)Deposição do inóculo e na pré-penetração
Imunização Desenvolvimento de plantas resistentes e imunesInfecção e colonização
Terapia Restabelecimento da sanidade de uma plantaPós-infecção

A partir desses princípios é que surgiram os diferentes métodos de controle de doenças, que serão apresentados a seguir.

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Como funciona o Manejo Integrado de Doenças

Podemos imaginar o MID como uma casa sustentada por vários pilares, sendo cada pilar uma técnica de manejo diferente que podemos construir e modificar, e a base como sendo condições que não estão ao nosso alcance e não conseguimos modificar.

Os pilares podem ser definidos em cinco métodos de manejo: o biológico, o químico, o genético, o cultural e o físico.

Biológico

Definimos o manejo biológico como aquele em que usamos a ação de microrganismos antagonistas seja sobre o patógeno ou sobre a resistência do hospedeiro. Pode ser natural, manipulado ou introduzindo antagonistas. Podemos definir os mecanismos das interações antagonistas da seguinte forma:

Antibiose: ação de uma ou mais moléculas com ação direta sobre o crescimento ou fisiologia dos fitopatógenos (metabólitos).

Competição: mecanismo dependente da maior velocidade de crescimento do agente de controle biológico em relação ao patógeno (ocupação do substrato/espaço).

Parasitismo e predação: alguns agentes de controle biológico são capazes de parasitar as estruturas do patógeno por penetração e colonização de hifas e/ou produção de enzimas (antagônico parasita fitopatogênico). Alguns fungos podem atuar por predação em outros microrganismos (predador alimenta-se do fitopatógeno) (Figura 2).

Hipovirulência: linhagem menos agressiva do fitopatógeno.

Indução de defesa do hospedeiro: microrganismos podem contribuir para a produção de hormônios, aquisição de nutrientes e absorção de água (estímulo à planta).

Premunização: microrganismos são colocados em contato com a planta em baixa concentração para que esta crie mecanismos de reconhecimento e, consequentemente, certa resistência contra aquele microrganismo (“vacinas”).

Figura 2. Controle biológico da broca-do-café pelo fungo Beauveria bassiana. Fonte: Embrapa.
Figura 2. Controle biológico da broca-do-café pelo fungo Beauveria bassiana. Fonte: Embrapa.

De modo geral, são muitas as formas de se introduzir o manejo biológico nas lavouras.

Químico

O manejo químico já é muito conhecido pelos produtores. É de grande importância saber que os fungos são responsáveis por 65% das doenças em plantas. Devido a isso, é indispensável o uso de fungicidas. Caso fungicidas não fossem utilizados, a redução na produção vegetal seria de aproximadamente 7,3% (estimativa mundial), lembrando que em condições tropicais a frequência e severidade das doenças é sempre maior.

Figura 3. Exemplo de controle químico. Fonte: Boas práticas agrícolas.
Figura 3. Exemplo de controle químico.
Fonte: Boas práticas agrícolas.

Em muitos casos, o controle químico é a única medida eficiente e economicamente viável para garantir as altas produtividades e qualidade de produção visadas pela agricultura moderna.

Lembrando que a exploração comercial de diversas espécies de plantas seria impossível sem o emprego de fungicidas em locais ou épocas sujeitas a doenças. Podemos classificar esses fungicidas em quatro grupos:

Princípio geral de controle:

  • Erradicante
  • Protetor
  • Curativo/imunizante

Mobilidade na planta

  • Imóvel
  • Sistêmico
  • Mesostêmico/translaminar
Figura 4. Exemplo de fungicida móvel em diferentes concentrações.
Fonte: José Otávio Menten.
Figura 4. Exemplo de fungicida móvel em diferentes concentrações.
Fonte: José Otávio Menten.

Grupo químico

  • Inorgânicos
  • Orgânicos

Mecanismos de ação

  • Núcleo
  • Síntese de ergoesterol, etc.

Para mais informações sobre os fungicidas registrados para cada cultivo agrícola, acesse o site do Agrofit aqui.

Genético

O manejo genético pode ser definido como a defesa da planta contra fitopatógenos, ou seja, são características genéticas do hospedeiro que impedem e/ou reduzem a ação e danos causados por fitopatógenos.

Entendemos por resistência aquilo que afeta o desenvolvimento do fitopatógeno no hospedeiro. Já a tolerância é aquilo que reduz o efeito do fitopatógeno no hospedeiro. Temos a evitação que é a disponibilidade de tecido suscetível restrito/disponível em ambiente desfavorável à doença. O escape é quando o inóculo não atinge o hospedeiro por acaso. Evasão é a fuga para ambientes desfavoráveis à doença. Por fim, a imunidade é a qualidade absoluta, ou seja, proteção completa e permanente.

A resistência de plantas é o método ideal de manejo devido à facilidade e custo, sendo mais frequentemente utilizada para doenças que causam murchas vasculares, ferrugens/carvões e viroses.

Físico

O manejo físico pode ser realizado de cinco maneiras diferentes, e são elas:

  • Tratamento térmico do substrato/recipiente ou dos órgãos de propagação: solarização, termoterapia, coletor solar.
  • Refrigeração: retarda/inibe o crescimento e atividade dos fitopatógenos.
  • Secagem
  • Barreiras físicas

A solarização é um tipo de tratamento térmico do solo/substrato e se baseia em utilizar a energia solar, com a cobertura do solo com filme plástico transparente criando uma espécie de “efeito estufa” com uma temperatura do solo entre 42 a 45ºC e deve ser mantido por mais de um mês. Esse método é eficiente, pois estimula os organismos antagonistas que são mais resistentes ao calor e acaba prejudicando os fitopatógenos. Além disso, esse método não cria o “vácuo biológico” e funciona como um controle biológico também.

Figura 5. Processo de solarização em campo.
Fonte: José Otavio Menten.
Figura 5. Processo de solarização em campo.
Fonte: José Otavio Menten.

Cultural

O manejo cultural é um ótimo método de controle de doenças e, muitas vezes, muito fácil de aplicar na sua lavoura. Temos 14 diferentes ideias para um manejo cultural:

  1. Rotação de culturas
  2. Vazio fitossanitário
  3. Uso de material de propagação sadio
  4. Roguing” (eliminação de plantas vivas doentes)
  5. Eliminação de restos de cultura
  6. Inundação
  7. Incorporação de matéria orgânica no solo
  8. Sistema de cultivo/preparo de solo
  9. Fertilização/adubação
  10.  Irrigação
  11.  Densidade de semeadura/plantio
  12.  Época de semeadura/ plantio e colheita
  13.  Poda/desbrota
  14.  Barreiras físicas/ mecânicas

Desses métodos, o principal é a utilização de rotação de culturas, que se baseia no cultivo alternado de espécies vegetais diferentes no mesmo local e na mesma época do ano, porém em anos diferentes. Esse método tem como princípio a supressão ou eliminação de substrato apropriado para o fitopatógeno. As espécies para a rotação de culturas não podem ser hospedeiras dos mesmos patógenos da cultura explorada. Em sistemas de semeadura direta é indispensável a realização de rotação de culturas.

Figura 6. Esquema representativo da rotação de culturas com sementes de milho, feijão, aveia e soja.
Fonte: Boas práticas agronômicas.
Figura 6. Esquema representativo da rotação de culturas com sementes de milho, feijão, aveia e soja.
Fonte: Boas práticas agronômicas.

Conclusão

Como vimos, não é fácil conciliar diferentes métodos de manejo em uma lavoura, e não existe uma fórmula mágica, muito menos uma regra a ser seguida. Devemos entender o que a nossa lavoura necessita, como ela responde aos diferentes métodos, qual a cultura que exploramos e como treinar a mão de obra no campo para realizar de forma adequada os monitoramentos. Além disso, conhecer quais os inimigos naturais no meio ambiente e seu correto manejo também.

Mas nenhum desafio é grande demais para quem quer aprender. Por isso, esteja sempre por dentro das novidades, converse com especialistas na área, tenha sempre uma válvula de escape e, principalmente, leia muito!

Espero que aproveite e utilize essas informações a seu favor!

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>> Leia mais em nosso artigo: “Doenças da cultura do Milho: como identificar e manejar”.

>> Leia mais em nosso artigo: “Doenças da soja: como identificar e manejar”.

>> Leia sobre Controle Biológico em nosso artigo: “Controle Biológico: uma alternativa para o manejo de pragas e doenças”.

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>> Leia mais sobre Manejo Integrado de Pragas em nosso artigo: “Conversa com especialista: estudos e implantação do Manejo Integrado de Pragas (MIP)”. Pedro Takao Yamamoto, professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, fala sobre o Manejo Integrado de Pragas, em entrevista exclusiva para a Agromove.

>> Leia mais em: “Por que devo saber o meu custo?”. Onde Alberto Pessina responde as principais dúvidas sobre gestão de custos.

>> Leia mais entrevistas em: “Margem Bruta e Eficiência Comercial”. Onde Alberto Pessina explica sobre Margem Bruta e Eficiência Comercial.

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>> Leia mais entrevistas em: “Como melhorar os resultados da empresa rural?”. Onde Alberto Pessina explica que precisamos analisar uma série de fatores que influenciam na produtividade e rentabilidade do negócio para atingir bons resultados. E é fundamental se ter uma boa gestão das atividades da propriedade rural.

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