Índice
Dentre todos os métodos de manejo de plantas daninhas, o uso de herbicidas é o mais comum. Isso se dá principalmente pela sua rápida resposta e alta eficiência quando comparado com outros métodos. Mas, o que são herbicidas? Como eles são classificados? Quais são suas vantagens e desvantagens? O que é herbicida e como aumentar a produtividade?
Neste texto, explicamos estas e outras dúvidas.
O que é herbicida?
Herbicidas são compostos químicos utilizados na agricultura como forma de combate às plantas daninhas. Eliminando os prejuízos causados pelas mesmas.
Os primeiros relatos sobre o uso de substâncias químicas para o controle de plantas daninhas, se dão do século XX. De acordo com Zimidhal (1993), por volta de 1908, pesquisadores como Bonnet (França), Schulz (Alemanha) e Bolley (EUA), utilizaram sais de cobre em conjunto com ácido sulfúrico para o controle no cultivo de cereais.
Herbicida: Vilão ou mocinho?
O uso de herbicidas, tal como o uso de outros métodos de controle, possui suas vantagens e desvantagens. Por isso, é importante ter conhecimento sobre estes aspectos na hora de escolher o melhor tratamento a ser utilizado.
De forma positiva, o uso de herbicidas traz:
- Eficiência e rapidez, evitando a competição com as plantas daninhas desde a implantação;
- Permite a prática do manejo de plantas daninhas em qualquer época do ano;
- Não causa danos mecânicos à cultura e pode ser usado para controlar as plantas daninhas na linha da cultura;
- Redução do tráfego de máquinas o que diminui problemas com compactação do solo;
- Redução na necessidade do revolvimento do solo, diminuindo as chances de erosão (facilita o sistema de plantio direto).
Já os aspectos negativos são:
- Necessidade do uso de equipamentos adequados, o que é um investimento elevado;
- Mão de obra capacitada, a falta de capacitação de funcionários e produtores induz a uma aplicação inadequada e pode causar problemas de saúde;
- Todos os herbicidas apresentam algum nível de toxidez para o ser humano e o ambiente, muito embora a tendência futura é ter uma queda cada vez maior;
- O herbicida pode permanecer no ambiente por um longo período, podendo causar prejuízos a espécies cultivadas em rotação;
- O uso contínuo pode estimular a resistência das plantas daninhas.
Saiba mais sobre resistência de plantas daninhas aqui.
Como são classificados?
Os herbicidas podem ser classificados de diversas formas. E em cada uma delas, alguma característica diferenciada é levada em consideração.
As principais classificações levam em consideração os seguintes aspectos:
1. Classificação segundo a época de aplicação
A classificação baseada na época de aplicação, decorre pela eficiência de absorção de cada parte da planta. Ou seja, aqueles aplicados no solo, são preferencialmente absorvidos por raízes ou estruturas subterrâneas, já aqueles aplicados na parte aérea possuem uma alta eficiência de absorção pelas folhas. De modo geral a classificação separa estes herbicidas em:
- Pré plantio – Herbicidas aplicados no solo e que devem ser incorporados a ele.
- Pré emergente – Herbicida aplicado após a semeadura da cultura ou antes da emergência das plantas daninhas. Este tipo de herbicida depende de solos úmidos para seu funcionamento adequado.
- Pós emergente – Herbicida absorvido principalmente pela parte aérea da planta daninha. Neste caso a cultura deve ter tolerância ao mesmo.
2. Classificação segundo a seletividade
Classificação importante, uma vez que ela se baseia em quais plantas são afetadas por determinado herbicida e quais não. São eles:
- Herbicida seletivo – Podem ser seletivos para a cultura, ou seja, quando aplicados não causa danos à mesma. Porém, podem ser seletivos às próprias plantas daninhas, ou seja, afeta apenas um grupo de plantas daninhas sem causar danos a outro.
- Herbicidas não seletivos – São aqueles com um amplo espectro de ação, afetando todas ou a maior parte das plantas daninhas.
3. Classificação quanto à estrutura química
Esta classificação geralmente é utilizada em conjunto com outras formas de classificação. Isso ocorre pois é um sistema limitado, baseado apenas na estrutura química dos herbicidas, e muitos herbicidas que atuam de diferentes formas possuem a mesma estrutura. O que pode acarretar um erro no uso do mesmo.
4. Classificação quanto ao mecanismo de ação
Victoria Filho, diz que o mecanismo de ação é:
“O mecanismo bioquímico ou biofísico afetado pelo herbicida que resulta na alteração do crescimento e desenvolvimento normal da planta podendo levar à morte”.
Pode ser dividida em:
- Mimetizadores da auxina (Figura 1) – Estes herbicidas imitam o hormônio auxina e se ligam à proteína no lugar dele. Dessa forma eles impedem a formação da proteína e com isso o crescimento vegetal.
Exemplo: 2,4-D e Picloram.
- Inibidores da fotossíntese – Organismos fotossintetizantes utilizam luz para criar compostos para sua sobrevivência. Estes herbicidas atuam na fotossíntese impedindo que ela ocorra.
Exemplo: Atrazina, Diuron e Paraquat.
- Inibidores da divisão celular – Paralisam o crescimento da planta, principalmente de radículas (raízes recém germinadas). Geralmente são usados para gramíneas.
Exemplo: Visor 240 e Treflan.
- Inibidores de crescimento – Impedem a emissão de folhas nas plantas recém germinadas. Geralmente é usado para gramíneas ou plantas de folhas largas no início da germinação.
Exemplo: Kadett e Machete.
- Tiocarbamatos – Inibem a biossíntese de compostos essenciais para as plantas.
Exemplo: EPTAM e Saturn 500.
- Inibidores da enzima PROTOX – Este grupo de herbicidas inibe a ação da enzima PROTOX, que é uma enzima precursora da clorofila. Impedindo, consequentemente, a ação da fotossíntese.
Exemplo: Blazer e Flex.
- Inibidores da síntese de caroteno – Provocam o branqueamento das folhas deixando-as suscetíveis a queimaduras e impedem a realização da fotossíntese.
Exemplo: Gamit e Provence 750 WG.
- Inibidores da síntese de aminoácidos – Um dos grupos de herbicidas mais importantes comercializados. Em plantas susceptíveis, ocorre a paralisação do crescimento dentro de 7 a 10 dias após a aplicação.
Exemplo: Glifosato.
- Inibidores da síntese de lipídeos (ACCase) – Controla gramíneas de maneira geral, embora a tolerância varie de espécie para espécie. Afeta a enzima ACCase que é essencial na biossíntese de lipídeos.
Exemplo: Starice e Hoxan.
5. Classificação quanto à translocação
Neste tipo de classificação, é levada em consideração a movimentação do herbicida dentro da planta.
- Herbicida de contato – Não translocam ou translocam muito pouco. Apenas causam danos nas partes da planta em que entram em contato, então precisam de uma boa cobertura na aplicação.
- Herbicida sistêmico – São capazes de se movimentar livremente dentro da planta. Podendo ser, via vasos de condução (floema, xilema ou ambos).
6. Outras classificações
Existem outras classificações bem mais específicas. Por exemplo, quanto à lixiviação, volatilidade, toxicidade, solubilidade, polaridade, etc.
Há ainda outras formas de se classificar, que não são aceitas globalmente. Como a classificação pelo meio em que é utilizado, em herbicidas aquáticos, por exemplo.
É muito importante ressaltar que, por serem muito diversos, os herbicidas não pertencem rigidamente a cada classificação. As classificações abordam apenas alguns aspectos relacionados ao comportamento do produto. Por isso, nenhuma delas está totalmente correta ou é definitiva.
Quais são os principais cuidados que devem ser tomados com o herbicida?
Tal como os medicamentos, os herbicidas requerem alguns cuidados. Estes cuidados devem ser tomados em sua aplicação, em seu armazenamento e até mesmo quando for feito o descarte de sua embalagem.
As recomendações contidas no rótulo do produto, no receituário do agrônomo e na bula devem ser seguidas rigorosamente. Em caso do não cumprimento adequado, o uso de herbicidas torna-se altamente perigoso para os seres humanos, principalmente, o aplicador e para o meio ambiente.
Durante a aplicação deve-se usar o equipamento de proteção individual (EPI) e pulverizadores adequados. O uso de EPI é importante também durante o preparo e manipulação do herbicida.
O armazenamento deve ser feito em locais frescos, protegidos da luminosidade e de umidade. Alguns produtos podem ser inflamáveis. Portanto, é necessário tomar precauções quanto a isso também.
Para o descarte das embalagens, é necessário realizar a tríplice lavagem, que seria lavá-las 3 vezes para que não fique nenhum resíduo nas mesmas. Em seguida, estas embalagens limpas devem ser levadas ao posto de recebimento mais próximo.
É importante ressaltar que o agricultor deve sempre estar atento às interações entre a cultivar e o herbicida aplicado. Pois existem algumas cultivares que são sensíveis a determinados herbicidas. Para isso, consulte sempre o agrônomo responsável pela área.
Quais são as principais alternativas?
Apesar dos grandes avanços das pesquisas, para a diminuição da toxidez dos herbicidas aos seres humanos e ao ambiente, ainda há muito a se fazer.
Por conta disso, existem algumas alternativas para diminuir o uso destes químicos.
Uma das alternativas, também a mais eficaz, é utilizar outros métodos de manejo das plantas daninhas (método cultural, método mecânico e método biológico).
Método Cultural
O método cultural inclui rotação de cultura, estímulo do crescimento da cultura até o fechamento de sua copa por meio de adubação e condicionamento da lavoura (o que diminui o dano causado pela planta daninha à mesma) e seleção da cultura a ser implantada na área visando maior competitividade com as plantas daninhas.
A principal vantagem deste método sobre o uso de herbicidas, é que cria uma dinâmica competitiva na área colaborando para o manejo das plantas daninhas.
Porém, sua maior desvantagem é que este tipo de manejo demanda tempo e o uso de herbicidas é bem mais rápido.
Método Mecânico
Para o controle mecânico utiliza-se equipamentos que realizam o arranquio físico como enxadas, arado ou até mesmo a própria mão.
Sua principal vantagem é a minimização do investimento, pois não é necessário comprar nenhum equipamento, além dos já utilizados para outras funções. Já a desvantagem é que o uso contínuo deste método pode causar compactação do solo e erosão como efeito colateral. Geralmente utilizado em pequenas propriedades, em razão da mão de obra necessária.
Método Biológico
Já o controle biológico é composto pela disposição de inimigos naturais (insetos, bactérias, fungos, outras plantas, etc.) das plantas daninhas. Assim, sua ação diminui a população dessas plantas e, consequentemente, sua competitividade com a cultura.
Saiba mais sobre Controle Biológico em nosso artigo “Controle Biológico: uma alternativa para o manejo de pragas e doenças”.
Este método possui a vantagem de necessitar de apenas uma aplicação, tendo uma capacidade de se autorregular continuamente a partir de então. Porém, é um método muito caro e sua aplicação depende de diversos fatores ambientais. Portanto, não há garantias de que o mesmo irá funcionar na primeira tentativa.
Além destes métodos, existe o uso de herbicidas naturais. Estes herbicidas naturais são compostos orgânicos derivados de outras plantas como fumo, ou então, sal e vinagre. Eles possuem ação de diminuir e até mesmo impedir o crescimento de plantas daninhas sem afetar a planta cultivada.
Este método é bastante eficaz e amigável ao meio ambiente. Porém, é mais utilizado para jardins ou pequenas áreas por conta da sua inviabilidade para grandes culturas. É importante alertar que o uso exagerado desses herbicidas pode acarretar reflexos negativos às plantas cultivadas. Portanto, devem ser aplicados com cuidado e em pequena quantidade.
Conclusão
O uso de herbicidas ainda é o mais comum e, em alguns pontos de vista, o mais viável, principalmente quando se trata de grandes culturas.
É necessário ter conhecimento sobre as classificações dos herbicidas e utilizar uma ou mais para escolher o herbicida mais adequado.
O cuidado com o manejo, armazenamento e descarte das embalagens dos herbicidas devem ser realizados rigorosamente.
Existem vantagens e desvantagens de outros métodos de manejo de plantas daninhas sobre o uso de herbicidas. Desse modo, é necessário avaliar o tamanho da área, a cultura a ser implantada, o objetivo do plantio (orgânico ou não), o investimento disponível, etc. Para somente depois definir o melhor método de manejo de plantas daninhas, é indicado o uso de mais de um método, seguindo a teoria do MIPD (Manejo Integrado de Plantas Daninhas).
Recomenda-se , sempre consultar um especialista na área.
Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!
>> Leia mais sobre Plantas Daninhas nos nossos artigos: “Plantas daninhas: um glossário sobre o seu manejo”, “Plantas daninhas: um guia prático para o produtor” e “Por que você precisa saber sobre o manejo integrado de plantas daninhas (MIPD)?”.
>> Leia mais em: “Por que devo saber o meu custo?”. Onde Alberto Pessina responde as principais dúvidas sobre gestão de custos.
>> Leia mais entrevistas em: “Margem Bruta e Eficiência Comercial”. Onde Alberto Pessina explica sobre Margem Bruta e Eficiência Comercial.
>> Leia mais entrevistas em: “Como melhorar os resultados da empresa rural?”. Onde Alberto Pessina explica que precisamos analisar uma série de fatores que influenciam na produtividade e rentabilidade do negócio para atingir bons resultados. E é fundamental se ter uma boa gestão das atividades da propriedade rural.