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Zebuínos: um sucesso para a produção de carne no Brasil e produtividade

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Recria Gado de Corte. Foto: José Maria Matos.
Recria Gado de Corte. Foto: José Maria Matos.

Nesse artigo vamos discutir um pouco sobre a importância das raças zebuínas para a pecuária de corte nacional. E entender como os zebuínos ajudaram o Brasil a se colocar como um dos principais produtores de carne vermelha do planeta. Vamos falar sobre as principais raças de zebus, desempenho zootécnico e os desafios futuros para tentar melhorar as características indesejáveis de algumas raças. Por fim, esse texto trará informações importantes sobre o que está sendo feito para aumentar a produtividade do gado zebu em relação a aspectos voltados para o melhoramento genético e o manejo nutricional dos animais.

  • O clima como um fator determinante para criação de zebuínos
  • Boi zebuíno: principais características e raças:
    • Nelore
    • Tabapuã
    • Brahman
    • Guzerá
  • Aspectos voltados para o melhoramento genético
  • Aspectos voltados à nutrição
  • Uso de proteína na dieta de gado Zebu
  • Como manipular a energia da dieta de zebuínos
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Por que o gado zebuíno é um sucesso para produção de carne no Brasil e como eles contribuem para alavancar os índices de produtividade?

No nosso artigo “O balanceamento de dietas é uma aposta no sucesso do seu confinamento” foi explanado que o Brasil se coloca hoje, ano de 2019, como um dos principais produtores de carne do mundo. Apesar de todas as adversidades encontradas com a crise econômica que assola a população brasileira, o país vem surpreendendo o mundo moderno da pecuária de corte.

É de conhecimento geral que para se chegar a esse patamar foi e, ainda é, bastante importante investimentos em tecnologias, melhoria nas condições de manejo nutricional e aprimoramento dos sistemas de produção. Mas além disso, será que a raça utilizada se configura como um ponto importante para o país alcançar todos esses resultados? E a resposta é fácil de ser respondida. Sim. O Brasil detém um dos maiores rebanhos bovinos do mundo. Aqui é produzida carne tanto de animais de raças europeias, chamado de Bos taurus quanto animais de raças indianas (Bos indicus), também conhecidos como gado zebuíno que será o foco dessa discussão.

O clima como um fator determinante para criação de zebuínos

Primeiramente, é necessário explicar que um dos principais motivos do Brasil deter os melhores rebanhos zebus do mundo se deu pela adaptabilidade desses animais em climas tropicais, principalmente em locais secos. Nesse contexto, é importante dizer que, apenas o Zebu demonstra habilidade zootécnica em nível desejado sob essas condições. E isso faz gerar uma pecuária de maior e melhor resultado. Depois disso, esses animais são muito mais resistentes a condições adversas de temperatura, insolação e doenças, chaves do sucesso para a criação.

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Zebuínos: principais características e raças

O Brasil possui hoje um dos maiores e melhores rebanhos zebuínos em processo de seleção do mundo. Em número de cabeças, fica atrás apenas da Índia, apesar de ser possível encontrar exemplares dessas raças em todas as Américas. Após sua introdução no país em meados do século XIX muito foi investido e desenvolvido. Principalmente no que diz respeito ao melhoramento genético e o entendimento de suas exigências nutricionais, que sim, são bastante diferentes do gado europeu.

Pensando na importância que esses animais têm no desenvolvimento da pecuária de corte nacional, muito já se foi investido e existem esforços muito grandes para tentar alcançar níveis ainda maiores de produtividade. É importante lembrar que temos, no Brasil, diversas raças de zebuínos. Entre elas as que ganham destaque são o Nelore, o Tabapuã, o Brahman e o Guzerá. Cada raça possui suas particularidades e desafios para criação. Vamos conhecer um pouco de cada uma delas.

1 – Nelore

Raça zebuína Nelore.
Foto: Divulgação.

Estima-se que 80% do rebanho destinado à produção de carne no país são da raça Nelore. Além disso, esses animais ocupam a primeira posição no mercado de sêmen e são a base genética para composição de outros híbridos de bovinos, como por exemplo o Canchim (cruzamento entre o gado nelore e o charolês). Segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Nelore no Brasil (ACNB) esses animais possuem excelente capacidade de aproveitar alimentos grosseiros e são muito resistentes ao calor. Pois, a superfície corporal é maior em relação ao seu corpo e por possuírem grande número de glândulas sudoríparas. As fêmeas possuem boa habilidade materna o que propicia o bom desenvolvimento dos bezerros do nascimento até o desmame.

Em relação à qualidade da carne, animais da raça Nelore são aqueles que possuem características de carcaça mais perto dos padrões exigidos pelo mercado. Ou seja, apresentam ossatura fina, leve, porosa, menor proporção de cabeça, patas e vísceras, o que confere bons rendimentos de carcaça.

2 – Tabapuã

Foto: Campeão Progênie de Mãe.
Foto: Campeão Progênie de Mãe.

Essa é a única raça zebuína genuinamente brasileira e por isso, também é aquela que melhor se adaptou ao clima tropical do país. Segundo opinião de especialistas e criadores, o Tabapuã é a maior conquista genética do país nas últimas décadas. E é uma raça que nasceu para dar certo.

As principais características que fazem esses animais se destacarem dos demais zebuínos é a alta fertilidade e a habilidade materna que garantem o bom desenvolvimento dos bezerros. Além disso, as matrizes possuem ótima produção de leite. Para se ter uma ideia da importância disso, já foram realizados registros de bezerros com 200 kg na desmama. São animais mais dóceis que o nelore e de melhor convivência social. Ou seja, não se envolvem em brigas e isso tem impacto positivo quando são alimentados em cochos. Entre os mais de 3 milhões de animais que participaram do Controle de Desenvolvimento Ponderal (ferramenta de seleção do rebanho a partir da pesagem dos animais em vários estágios de vida), o Tabapuã tem seu lugar de destaque. Todos esses atributos levaram esses animais a terem um bom ganho de peso e ótimos acabamentos de carcaça, aliados a precocidade e menor idade ao primeiro parto.

3 – Brahman

Raça zebuína Brahman.
Foto: Carlos Lopes.

Esses animais de dupla aptidão são fruto do cruzamento entre o Guzerá, Gir e Nelore. São explorados tanto para produção de carne, quanto para produção de leite (a partir de cruzamentos com raças leiteiras).

Possuem como principais características a precocidade e conversão alimentar. E conseguem atingir maior peso que animais de outras raças em um mesmo regime alimentar, o que torna umas das raças mais rentáveis aos pecuaristas. Para se ter uma ideia, esses animais têm conversões alimentares muito parecidas com suínos e aves, com valores médios de 3,1 kg de matéria seca. Ou seja, são animais que comem pouco e têm alta deposição de musculatura, resultando em alta eficiência. Os atributos desta raça vêm animando os criadores. Para eles, muito se evoluiu em características qualitativas e quantitativas desses animais nos últimos anos. Em relação às fêmeas, possuem curto intervalo entre partos, são dóceis e longevas, o que ajuda para contribuir com o sucesso da raça.

4 – Guzerá

Raça zebuína Guzerá.
Foto: José Maria Matos

Essa é uma das raças de zebuínos explorados para fins comerciais mais antigas. Na década de 1920 detinham o maior contingente de bovinos do Brasil e são a base genética de diversas outras raças. Isso porque seus atributos mais valiosos são a rusticidade e habilidade materna, características importantes para a criação desses animais em climas secos, como no nordeste brasileiro.

São animais de grande porte e, assim como o Brahman, também são utilizados para produção de leite, tanto que existem registros de animais que atingiram produções de até 5.000 litros em uma mesma lactação. Os bezerros têm baixo peso ao nascer (entre 28 e 30 kg), o que leva as matrizes a terem facilidade de parto, assim como a maioria dos zebuínos. No teste de rendimento de carcaça e conversão alimentar, animais da raça Guzerá aparecem também em destaque. Entre as raças zebuínas exploradas no Brasil, é a que ainda necessita de maior exploração como raça pura, apesar de que, como dito anteriormente, é muito utilizada em cruzamentos.

Como observado, as principais raças de zebuínos estabelecidas no Brasil são, em grande parte, responsáveis pelos elevados índices de produtividade da pecuária brasileira. Apesar disso, existem alguns desafios que ainda precisam ser vencidos para se conseguir suprir a grande demanda de carne para os próximos anos. Ainda existem diversas características indesejáveis que necessitam ser otimizadas em algumas raças de bovinos zebus. Por exemplo, a raça Guzerá tem uma lista de problemas a serem melhoradas para se obter animais mais competitivos e produtivos. Entre eles pode-se citar defeitos de aprumos, machos com características femininas e fêmeas com características ou traços masculinos e umbigos longos. Já para os criadores da raça Brahman, um dos grandes problemas a serem corrigidos é a conformação dos cascos, especialmente quanto ao tamanho e também o vigor das crias ao nascer, que geralmente não fica dentro do esperado.

Foi visto ao longo dessa discussão os principais atributos da criação de animais zebuínos e os desafios futuros. Agora, a pergunta é: como superar esses desafios? Primeiramente, o melhoramento genético é um ponto chave e por fim, questões de nutrição.

Aspectos voltados ao melhoramento genético dos Zebuínos

Durante anos vem se realizando um processo intenso de melhoramento genético de raças zebuínas, com destaque para o Nelore. Nesse processo, é realizada a seleção de touros geneticamente testados e matrizes de alto mérito genético e esses são cruzados para obter crias que devem ser geneticamente superiores aos seus pais. Uma ferramenta muito importante para se alcançar o sucesso no melhoramento do gado Zebu foi o uso da inseminação artificial, que segundo a Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) aumentou nos últimos anos. Para se ter noção, no primeiro semestre de 2018 a venda de doses de sêmen de raças de corte cresceram em 14,2% quando comparado com o mesmo período no ano anterior.

Mais animador do que isso, é saber que existem muitas outras tecnologias disponíveis. Entre elas pode-se citar técnicas de clonagem, fertilização in vitro e transferência de embriões que tendem a evoluir e surpreender cada vez mais. Além disso, existem ferramentas que conseguem identificar mutações e evitar a transferência para as próximas gerações. Essa é uma forma, por exemplo, de evitar que características indesejáveis, como as comentadas acima sobre a raça Guzerá e Brahman sejam repassadas aos seus filhos.

Todas essas tecnologias são bastante desafiadoras. Infelizmente, muito do que foi falado ainda é realizado dentro de centros de pesquisas e universidades. Com tantas novidades, será necessário que o mercado absorva de forma rápida e acurada tanta informação e que essas ferramentas possam ser utilizadas em rebanhos comerciais.

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Aspectos voltados à nutrição

O manejo nutricional é um dos principais responsáveis pela eficiência produtiva dos rebanhos. Apesar de ter melhorado muito nos últimos anos, é sem dúvida uma lacuna de conhecimento ainda a ser preenchida. Um dos caminhos a serem trilhados nessa caminhada é o estudo da composição dos alimentos e a determinação das exigências nutricionais dos animais que são criados em condições brasileiras.

Desde a década de 80, muito dinheiro em pesquisa vem sendo investido, com excelentes resultados. Apesar disso, o volume de dados é ainda bastante limitado e ainda são utilizadas informações de composição de alimentos e exigências nutricionais a partir de dados oriundos de países com ambiente, alimentos e animais diferentes dos criados no Brasil.

Os estudos realizados nas condições tropicais, principalmente os desenvolvidos no Brasil, buscam determinar os requerimentos de energia, proteína, macrominerais e também a eficiência no uso de aminoácidos. Se observa também esforços em elucidar questões referentes ao uso da energia para mantença e ganho de peso. Além das diferenças entre raças, existem diferenças entre machos castrados e inteiros e o que se observa é que a grande maioria das pesquisas estão focadas em machos inteiros. Portanto, determinar as exigências nutricionais do rebanho nacional e ter informações adequadas sobre o ambiente que esses animais estão sendo criados, pode gerar impacto econômico e de qualidade nos atuais sistemas de produção de carne.

Os estudos realizados por Valadares Filho e colaboradores a partir do ano de 2006 resultaram na publicação das primeiras tabelas brasileiras de exigências nutricionais de zebuínos, o BR Corte. Esse trabalho foi realizado com base em bancos de dados de experimentos realizados em universidades brasileiras. E após isso, outras edições dessas tabelas foram publicadas com dados atualizados. Entretanto, estudos mais específicos precisam ser realizados. Para verificar principalmente diferenças nas exigências de animais cruzados e o uso mais eficiente da proteína e energia das dietas, as quais serão discutidas brevemente em sequência.

Uso de proteína na dieta de gado Zebu

A segunda edição do BR Corte, recomenda para bovinos de 450 kg de peso vivo, exigências em proteína bruta (PB) de 1.350 gramas para ganho de um quilograma de peso corporal. Considerando um consumo de matéria seca (MS) (base para definir as exigências nutricionais), um animal zebuíno comendo 10 kg/dia MS, teria um requerimento de 13% de PB.

Apesar disso, esses valores são ainda discutíveis, pois, considerando animais em confinamento, é possível que os níveis de proteína fornecidos sejam menores. Isso porque os requerimentos de PB para bovinos terminados nesse sistema de criação se alteram ao longo da terminação. Sendo maiores na fase inicial quando as taxas de deposição de proteína são um pouco maiores e diminuem conforme o animal atinge a maturidade fisiológica. Assim, pode se estar superestimando a quantidade de proteína fornecida perto do abate.

Essa é uma questão importante a ser levantada, visto que é o nutriente de maior custo unitário nas dietas de bovinos de corte e o uso indevido resulta na elevação dos custos de produção. Saiba mais sobre estratégias de gerenciamento na engorda aqui.

Como manipular a energia da dieta de Zebuínos

As exigências de energia de mantença para animais zebuínos são inferiores ao do gado europeu (taurinos). O gado zebu apresenta depósito de gordura periférica maior e tamanho de órgãos internos menores (bovinos têm facilidade em depositar gordura em órgãos internos viscerais). Existem diversos sistemas que estabelecem a quantidade necessária de energia para esses animais. Estudos realizados no Brasil e na Austrália mostram que para animais de sangue zebu são 10% menores que para animais de sangue europeu. O sistema americano de exigências, chamado de CNCPS preconiza para animais zebuínos exigências líquidas de mantença 11% inferiores a de taurinos. Já um segundo sistema de exigência australiano estabelece um desconto de 20%.

Assim, como para o uso da proteína, muito conhecimento ainda é necessário sobre a eficiência do uso de energia no gado zebu. Esse conhecimento é indispensável para determinar níveis dietéticos ótimos de energia. Uma vez que esse dado é obtido a partir da relação entre a energia líquida para ganho de peso ou crescimento e sua eficiência de utilização.

Ao final dessa explanação é importante voltar às duas primeiras perguntas feitas no início dessa discussão. O sucesso da produção de carne no Brasil é devido ao uso de animais adaptados a condições tropicais e que vem passando por processos de cruzamento e seleção genética intenso ao longo dos anos. Algumas raças, além do Nelore precisam passar por adequações para melhorar aspectos de conformação que irão ser importantes para alavancar a produtividade. Ainda não foram compreendidos todos os aspectos que possam, cada vez mais, ser explorados nesses animais e a nutrição ainda é um tema que precisa ser bastante estudado e discutido.

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>> Leia em nosso artigo “Gado de Corte: Tudo que o produtor precisa saber”.

>> Leia mais em nosso atrtigo: “Mercado da carne, qual a tendência mundial?”.

>> Leia mais entrevistas em: “Cria: 5 principais entraves”. Nesta entrevista, Rodrigo Paniago, da Boviplan Consultoria Agropecuária nos responde as principais dúvidas sobre a fase de cria e comenta seus principais entraves.

>> Leia mais entrevistas em: “Recria: 5 principais entraves”. Neste texto, Marco Balsalobre responde quais são os principais entraves desta fase e porque ela é tão negligenciada.

>> Leia mais entrevistas em: “Engorda: 7 principais entraves”. Neste texto, Rogério Fernandes Domingues fala um pouco mais sobre os principais entraves na engorda e como isso pode ser prejudicial ao produtor.

>> Quer saber mais sobre Mercado Futuro? Leia o artigo “Mercado Futuro do Boi Gordo e Commodities: 7 cuidados básicos” do Alberto Pessina.

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