Cultura do Milho

A adubação foliar é uma prática que visa a suplementação nutricional das culturas, sendo um complemento à adubação via solo. Por isso, a mesma é realizada em momentos específicos do ciclo da planta, com a aplicação de fertilizantes que fornecem o nutriente de maior requerimento para o metabolismo vegetal naquele determinado estádio fenológico.

Sendo assim, identificar os estádios fenológicos, sintomas de deficiência de nutrientes, conhecer as exigências nutricionais e processos fisiológicos que acontecem na planta são pontos chaves para a tomada de decisão em relação a aplicar ou não fertilizantes foliares.

Nesse artigo, você poderá entender melhor todos os processos envolvidos nessa modalidade de adubação que vem se mostrando muito eficiente em melhorar as produtividades das lavouras. Continue lendo para ficar por dentro!

Como ocorre a absorção de nutrientes pela folha?

Para que uma solução nutritiva, aplicada via foliar seja efetiva, ela passa respectivamente pelo processo de adsorção foliar, penetração cuticular, absorção em meio celular por compartimentos metabolicamente ativos e, por fim, a translocação e utilização do nutriente pelo restante da planta (GIBERT et al., 2005).

O processo tem início a partir do contato entre solução e superfície aérea da planta. Esta geralmente é recoberta por uma cutícula cerosa de carácter hidrofóbico e nela há diversas células modificadas como tricomas e estômatos. A permeabilidade, difusão bidirecional da substância e o grau de hidrofobia da epiderme é determinado pela natureza físico-química e biológica da superfície, além do ambiente em que se encontra (MORANDI et al., 2010), sendo que as principais estruturas que realizam o transporte de nutrientes e água são a cutícula e os estômatos presentes nas folhas (EPSTEIN et al., 2005).

Essa cutícula, assim como impede a perda de água por transpiração, dificulta a entrada e absorção de produtos químicos. Dessa forma, o primeiro desafio do fertilizante aplicado via foliar é permear as folhas através de imperfeições e fissuras (ectodesmos) ao longo da camada cuticular cerosa ou mesmo por meio de estômatos, lenticelas e tricomas.

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A permeabilidade cuticular de compostos hidrofóbicos e apolares é relativamente mais alta quando comparada a velocidade de adsorção de moléculas polares (hidrofílicas) e isso se dá pela composição lipofílica da cutícula – o que garante a ela característica hidrofóbica – (FERNANDEZ; EICHERT, 2009). No entanto, há o aumento gradual de cargas negativas da cera até camadas mais internas da folha o que cria um gradiente eletroquímico responsável por estimular o movimento dos nutrientes e água até o interior da célula (FRANK, 1967).

Após o primeiro contato entre solução e superfície vegetal, inicia-se o processo de penetração dos nutrientes na folha. Esta ocorre mais rapidamente de acordo com a solubilidade e mobilidade do produto, assim quanto maior a solubilidade da solução mais rápida será a absorção (SCHREIBER, 2006). Além disso, esse movimento da solução é determinado pela Segunda Lei de Fiek – o fluxo depende da diferença de concentração do gradiente no qual o composto parte de regiões de maior concentração para o de menor concentração (RIEDERER; FRIEDMANN, 2006).

Dessa forma, é possível dizer que a cutícula trabalha como uma peneira de moléculas, com alta seletividade em relação aos tamanhos das partículas, por isso é comum o uso de produtos como os surfactantes, que reduzem a tensão superficial das gotas do fertilizante para que a penetração nas células seja facilitada (TAIZ et al., 2017).

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Por outro lado, concomitante a absorção cuticular, os estômatos e demais órgãos superficiais da folha também são vias importantes para a entrada de nutrientes. A infiltração de compostos no estômato – quando aberto – se dá por fluxo de massa. Sendo assim, a presença de moléculas de água na superfície foliar é imprescindível (MARENCO; LOPES, 2009).

Essa primeira fase de absorção foliar, em que o composto entra pelas fissuras da cutícula e por meio de órgãos como o estômato, é chamada de fase passiva. A segunda e última fase é conhecida como ativa. Nesta, as moléculas atravessam a última barreira para acesso à célula, o plasmalema. Após adentrar ao citoplasma, o composto é acumulado no vacúolo e segue para o local onde será metabolizado (MARENCO; LOPES, 2009).

Figura 1 - Anatomia de uma folha monocotiledônea e vias de penetração de nutrientes. Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2019).
Figura 1 – Anatomia de uma folha monocotiledônea e vias de penetração de nutrientes. Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2019).

Dentro da planta, o nutriente é então transportado para os demais órgãos. Essa translocação é outro ponto fundamental para determinar a eficácia da adubação. O movimento dos nutrientes na planta acontece tanto pelo floema quanto pelo xilema e segue a ordem de demanda nutricional de cada tecido presente no vegetal. Os nutrientes móveis no floema (a exemplo do K, P, N e Mg) distribuem-se na da folha pelo xilema e floema, e uma alta porcentagem do nutriente absorvido pode ser transportado para fora da folha para outras partes da planta que tenham uma alta demanda. O contrário ocorre com nutrientes de movimento limitado no floema (a exemplo do Cu, Fe, Mn) que se distribuem principalmente pelo xilema dentro da folha sem uma translocação considerável fora da folha. No caso do boro, a mobilidade dentro da planta depende muito do genótipo da planta.

Durante a adubação foliar, alguns fatores interferem na absorção e translocação dos nutrientes e, consequentemente, na resposta da planta. Iniciando pelos fatores fisiológico, intrínsecos ao vegetal, deve ser citado:

  • Idade da planta e de seus tecidos, de modo a determinar a taxa metabólica (BROWN,1999);
  • Espécie alvo e suas especificações fisiológicas (MILLER, 2001);
  • Exposição da superfície à luz, temperatura e umidade do ambiente (SCHREIBER, 2004).

Amostragem foliar no milho

Para que a lavoura alcance seu máximo potencial produtivo, é necessário a diagnose correta do seu estado nutricional. A amostragem de solo tem como objetivo identificar os teores dos nutrientes ali presentes, e não necessariamente averiguar sua absorção pela planta. Há casos em que se tem elevados teores de nutrientes no solo, mas esse pode não estar apto a absorção pelas raízes (LUCENA, 1997 apud. PAULETTI, 2012).

A análise foliar aponta os teores dos nutrientes presentes na folha, e através de sua interpretação é possível identificar quais deles estão em deficiência na planta, sendo assim um relevante método de diagnose para suplementação foliar em lavouras de altas produtividades.

Para a correta amostragem de folhas na cultura do milho, deve-se coletar 30 a 50 amostras de diferentes plantas por hectare, durante o período de aparecimento da inflorescência feminina – cabelo da espiga – sendo a folha diagnóstica a localizada abaixo e oposta à espiga.

Após a coleta, essa folha deve passar pelo processo de preparo amostral antes de ser direcionada ao laboratório: é necessária a retirada de terra e poeira a ela aderida. O acondicionamento é feito em saco de papel Kraft Pardo (PAULETTI, 2012).

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Recomendação de adubação foliar

Levando em consideração a exigência nutricional do milho, exposta na tabela abaixo, é evidente a grande demanda da cultura por Fe, Mn e Zn. Com isso, a adubação foliar de micronutrientes apresenta elevada resposta, favorecendo o bom desenvolvimento da lavoura.

Tabela 1 - Exigência nutricional de macro e micronutrientes para o milho (Zea mays) de acordo com a produtividade esperada.  Fonte: Adaptado de Gamboa, 1980; Hiroce et al., 1989; Bull, et al., 1989; Bull, 1993; Arnon, 1975; Andrade, 1975; Barbere Olson, 1969; Coelho e França, 1995.
Tabela 1 – Exigência nutricional de macro e micronutrientes para o milho (Zea mays) de acordo com a produtividade esperada. Fonte: Adaptado de Gamboa, 1980; Hiroce et al., 1989; Bull, et al., 1989; Bull, 1993; Arnon, 1975; Andrade, 1975; Barbere Olson, 1969; Coelho e França, 1995.

É fundamental que o suprimento via folha seja feito com o decorrer dos estádios fenológicos do milho e suas exigências nutricionais específicas (VITTI, MIRA, 2020), ou seja, é recomendado que a adubação foliar seja feita em momentos estratégicos durante o ciclo produtivo.

Tabela 2 - Complementação foliar de micronutrientes para o milho (Zea mays).  Fonte: Fancelli (2020).
Tabela 2 – Complementação foliar de micronutrientes para o milho (Zea mays). Fonte: Fancelli (2020).
1/ – Devido à baixa mobilidade do Zn e toxidade, recomenda-se dividir sua aplicação em 2 a 4 vezes (em V4, V5-V6 e V7-V8);
2/ – O Mo pode ser fornecido através da aplicação de 25 g.ha-1 via tratamento de semente + 45 g.ha-1 via foliar em V4-V6;
3/ – Usar 200 a 300 g.ha-1 de B na dessecação.

Demais estratégias eficientes de adubação foliar foram registradas por Fancelli (2020), em que a aplicação de 1,5 kg ha-1 de N somada a 150 g ha-1 de B junto a aplicação de fungicidas no pré-pendoamento do milho, resultaram no aumento de 160 a 310 kg.ha-1 na produtividade.

Após o estádio VT – durante o período reprodutivo – a aplicação de Mg via foliar tem mostrado resultados eficientes pelo auxílio deste na translocação de fotoassimilados, registrando um ganho de 737 kg.ha-1 de produtividade no milho (ALTARUGIO et al., 2017). Resultados semelhantes foram evidenciados por Vitti e Mira (2020) no manejo de 450 g.ha-1 de magnésio no pré-pendoamento somado a 450 g.ha-1 de Mg no pós-pendoamento. Paralelamente, em V4-V6 com 217 g.ha-1 a aplicação de molibdênio (Mo) e enxofre (S) colaboraram para manutenção metabólica da planta submetida a estresses (FREITAS et al., 2011).

Por fim, cada lavoura possui uma especificidade devido a características particulares de cada solo ou ambiente. Por isso, a recomendação de adubação foliar para o milho, embora feita de acordo com as demandas da cultura, deve ser feita com atenção para que sejam aplicados os nutrientes que atenderão as necessidades das plantas em questão, sem que haja faltas ou excessos, evitando perdas e maximizando os ganhos do produtor.

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Tecnologia de aplicação

O conhecimento de tecnologias de aplicação é essencial para entendimento dos meios eficientes para adubação foliar. Trata-se de um processo complexo dependente da composição do produto, formas de transporte, aplicação do produto sobre a planta, impacto, espalhamento, retenção e infiltração da gotícula (BRAZEE et al., 2004). Fatores como perdas por reflexão das gotículas, escorrimento superficial, deriva e evaporação do produto comprometem a eficiência da aplicação (LEAPER, 2002).

A escolha da ponta de pulverização é determinada pela planta alvo e objetivo da adubação foliar, o que, posteriormente, interfere como forma de aplicação, deposição da calda, tamanho de gota, vulnerabilidade a fatores externos e velocidade de absorção (TAYLOR et al., 2004). Portanto, a correta escolha das tecnologias associada a boas condições para aplicação (temperaturas amenas não superiores à 30° C, umidade relativa do ar mínima de 55% e velocidade do vento entre 3 a 10 km.h-1), irão potencializar a eficiência da adubação de modo a minimizar perdas e aumentar a absorção de nutrientes (NUYTTENS et al., 2007).

Em muitas das situações, a adubação foliar é preparada no tanque de pulverização de herbicidas e fungicidas. Por isso, junto a essa solução, há ainda a possibilidade de adição de produtos especializados em tornar a mistura compatível físico-quimicamente e ainda melhorar a aplicação, reduzindo a deriva e aumentando a deposição e fixação na folha. Tais produtos são conhecidos como adjuvantes modificadores de calda e, dentre esse grupo, diversos são os produtos que podem ser utilizados a fim de melhorar a aplicação de fertilizantes via foliar (RAMOS et al., 2002).

Por sofrerem reações com outros compostos da calda, os micronutrientes usualmente são adicionados na forma de sais, quelatos e suspensões concentradas, cujas características estão descritas na figura abaixo. Os quelatos os produtos de maior utilização já que são menos suscetíveis a precipitação e poucos se dissociam (OTTO, 2021).

Figura 2: Características das principais fontes para adubação foliar. Fonte: Otto (2021).
Figura 2: Características das principais fontes para adubação foliar. Fonte: Otto (2021).

Conclusão

A adubação foliar é um manejo alternativo e complementar a adubação convencional. Sua crescente utilização se deve às vantagens intrínsecas a essa atividade. No milho, é uma importante via para suplementação mineral de modo a ser aplicada em períodos estratégicos de maior exigência nutricional da planta, além de ser uma alternativa para remediação de deficiências de forma mais imediata.

Seu estudo e entendimento são importantes para promoção de práticas que visam melhorar sua eficiência e maximizar o potencial produtivo da cultura. Tem ganhado espaço em manejos de alta rentabilidade já que pode ser aplicada conjuntamente a aplicação de defensivos agrícolas e então fornecer nutriente prontamente metabolizado, no momento e local necessário à planta.

Para saber mais fique ligado nos próximos posts ou procure o Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão – GAPE que possui área de atuação em nutrição de plantas e adubação!

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