Índice
Introdução
O Brasil é o 3º maior produtor mundial de milho, sendo que a produção total de milho na safra 2018/2019 foi de aproximadamente 99,984 milhões de toneladas, com uma produtividade média nacional de 5,7 toneladas ha-1. A importância econômica dessa cultura está relacionada ao seu uso na alimentação animal, na produção de biocombustíveis, bebidas, polímeros etc.
Dessa forma, de maneira a se obter maiores produtividades é interessante que se conheça as exigências nutricionais da cultura do milho, bem como a adubação voltada a alta produtividade da cultura. Por isso, este texto busca mostrar a importância dos nutrientes para a cultura em questão, bem como a adubação recomendada para a cultura em diferentes regiões do Brasil.
Exigências Nutricionais do Milho
É sabido que a fertilidade do solo é um dos principais fatores responsáveis pela baixa produtividade do milho. Isso ocorre devido ao fato de que a cultura possui uma grande capacidade extrativa bem como uma alta demanda hídrica. As quantidades de nutrientes extraídos pela cultura do milho em cada tonelada produzida estão na tabela 1.
Tratando-se agora de micronutrientes, é sabido que as quantidades requeridas pelas plantas de milho são muito pequenas, assim como pode ser visto na tabela 2, contudo, a deficiência ou o excesso dos mesmos pode atuar nos processos metabólicos da planta tanto quanto a deficiência ou o excesso dos macronutrientes.
Fases de Maior Exigência de Nutrientes
Além da exigência total dos nutrientes, é interessante que se conheça os estádios fenológicos da cultura para que sejam definidas as fases de maior exigência dos nutrientes.
Dessa forma, é sabido que a definição da produção potencial ocorre entre a emissão da 4ª e da 6ª folha, o que ocorre cerca de 15 dias após o plantio. Já a definição do número de fileiras e o tamanho da espiga, que são parâmetros diretamente ligados à produtividade ocorre entre a emissão da 4ª e da 12ª folha. Com base nisso, é possível inferir que a cultura do milho necessita da disponibilidade de nutrientes no sistema de forma mais precoce!
Importância e Deficiências dos nutrientes no Milho
Caso a demanda nutricional da cultura não seja suprida, ocorrerão deficiências nutricionais que acarretarão perdas de produtividade. Assim, é importante que se conheça os principais sintomas de deficiência nutricional de cada elemento, bem como entender a importância do mesmo para as funções desempenhadas pela planta, pois esse entendimento evitará que essas deficiências ocorram, assim como evitará a perda de produtividade gerada pelas mesmas. Dessa forma, essas informações estão listadas na tabela 3.
Nutriente | Sintoma de deficiência | Importância nutricional |
Nitrogênio | – Amarelecimento das folhas (formato de “V” invertido) – Morte prematura de folhas e/ou plantas – Espigas pequenas – Grãos leves – Colmos finos – Tombamento de plantas | – Está associado ao crescimento vegetativo das plantas – Participa ativamente da fotossíntese – Participa da síntese de proteínas – Aumenta peso (densidade de grãos) – Aumenta porcentagem de óleo. |
Fósforo | – Coloração púrpura ou arroxeada das folhas novas – Colmos frágeis e delgados – Espigas pequenas e retorcidas (tortas) nas extremidades | – Estimula o desenvolvimento das raízes – Aumenta o teor de proteínas nos grãos – Atua na fotossíntese e respiração – Participa no processo de transferência de energia e no enchimento de grãos |
Potássio | – Margens das folhas inferiores (velhas) amareladas, alaranjadas ou bronzeada – Manchas marrons no interior do colmo – Espigas com extremidades sem grãos e com sabugo afilado (pontiagudo) | – É responsável pelo uso eficiente da água (regula abertura e fechamento de estômatos) – Aumenta a resistência das plantas ao acamamento – Aumenta a tolerância a pragas e doenças |
Cálcio | – Clorose nas folhas novas – Redução do crescimento radicular – Morte das extremidades das raízes – Falhas de granação (afeta a fecundação) | – É essencial para o crescimento e aprofundamento das raízes – Vital para a germinação do grão de pólen – Faz parte da parede celular dos tecidos vegetais |
Magnésio | – Folhas inferiores (velhas) com listras esbranquiçadas (clorose) paralelas às nervuras – Crescimento reduzido da planta | – É essencial para a fotossíntese – É componente da clorofila (pigmento participante ativo do processo fotossintético) – Auxilia na absorção de fósforo |
Enxofre | – Amarelecimento das folhas novas – Crescimento reduzido da planta | – Participa na composição das proteínas – Auxilia na síntese de enzimas e vitaminas – Participa na formação dos grãos |
Boro | – Folhas avermelhadas no final do ciclo – Espigas pequenas e falhas na granação – Extremidade das espigas com aspecto de cortiça | – Atua no processo de divisão celular – Auxilia no transporte de carboidratos – Participa na formação dos grãos – Importante para a germinação das sementes |
Zinco | – Folhas com coloração esbranquiçada próxima à região do “cartucho” – Crescimento reduzido da planta – Encurtamento dos internódios | – Participa no crescimento das plantas – É ativador de inúmeras enzimas – Participa na formação dos grãos |
Manganês | – Clorose internerval nas folhas novas (sintomas semelhantes à deficiência de magnésio) – Colmos finos – Menor crescimento das plantas | – Atua no sistema enzimático – Tem ação relevante na fotossíntese – Acelera a germinação da semente – Favorece a maturação das plantas |
Interpretação da Análise do Solo
Para que possa ser feita uma adubação de qualidade, é necessário que se saiba os teores dos nutrientes no solo bem como é necessário saber interpretá-los. Na figura 2 está representado um esquema de delimitação de classes de teores de nutrientes para o fósforo.
Essas classes são: “muito baixo”, “baixo”, “médio”, “alto” e “muito alto” e elas se relacionam com a produtividade relativa das culturas, que é um conceito que relaciona a produtividade real com a produtividade potencial das mesmas. Assim, pode-se ver no esquema que existe um nível crítico, que deve ser alcançado e que, após o mesmo, deve ocorrer apenas a manutenção do teor adequado. Outra coisa a ser observada é que, quando o teor do nutriente se encontra na classe “alta”, o próprio solo é capaz de realizar a manutenção do teor “adequado” até que seja necessário realizar a adubação novamente.
É assim que devemos interpretar os teores que vemos na análise de solo para os nutrientes, sendo que as classes de teores dos mesmos podem ser vistas nas tabelas a seguir:
Adubação para a Cultura do Milho
Uma vez que a fertilidade do solo tenha sido avaliada, deve-se fazer a recomendação de adubação. Dessa forma, um manejo sugerido por Vitti (s.d.), elaborado com base no comportamento dos nutrientes no solo e na fisiologia e nutrição da cultura consiste em:
Pré-plantio:
Realização da calagem com o intuito de fornecer cálcio e magnésio e elevar a saturação por bases a 70%. A realização da gessagem, com o intuito de fornecer cálcio e enxofre, e a realização da fosfatagem, com o intuito de elevar os teores de fósforo do solo.
Sulco de plantio:
No sulco de plantio, sugere-se que sejam fornecidos os nutrientes N, P2O5 e K2O através de uma fonte mineral formulada que contenha os micronutrientes boro, cobre, manganês e zinco.
Adubação de cobertura:
Na adubação de cobertura, sugere-se a aplicação de N e K2O.
Adubação foliar:
Os nutrientes recomendados a serem aplicados via foliar são os micronutrientes Mn, Zn e Cu, sendo que a aplicação deve ocorrer ou no estágio vegetativo V4 ou R1.
Tratamento de sementes:
No que diz respeito ao tratamento de sementes, recomenda-se a aplicação de Zn.
Doses de nutrientes
De forma a se escolher as doses a serem utilizadas, podem ser utilizados os manuais de recomendação. Os dois principais destes são o “Boletim técnico 100”, que é o manual de adubação utilizado no Estado de São Paulo e o “Cerrado: correção do solo e adubação”, que é o manual de adubação utilizado na região do Cerrado. As recomendações de adubação de ambos conforme os teores do solo, estão expostas em seguida.
Recomendação para o Estado de São Paulo
Segundo o Boletim 100, recomenda-se que a calagem seja feita de maneira a elevar o teor de saturação por bases do solo (V%) a 70% e o magnésio a um teor mínimo de 5 mmolc dm-3. Quando o solo apresentar um teor de matéria orgânica acima de 50 g dm-3, a saturação por bases pode ser elevada a 50%. As doses de N, P e K recomendadas para a adubação mineral devem ser definidas conforme a tabela abaixo.
Recomenda-se também aplicar 20 Kg ha-1 de enxofre para metas de produtividade de até 6 t ha-1 de grãos e 40 Kg ha-1 de enxofre para produtividades maiores. Utilizar 4 Kg ha-1 de zinco em solos com teores de zinco (DTPA) inferiores a 0,6 mg dm-3 e 2 Kg ha-1 de zinco quando os teores estiverem entre 0,6 e 1,2 mg dm-3. Os adubos devem ser aplicados no sulco de plantio, 5 cm ao lado e abaixo das sementes. No que diz respeito à adubação a lanço, deve-se utilizar a tabela 9.
As classes de resposta esperada a nitrogênio significam:
- Alta resposta esperada: solos corrigidos, com muitos anos de plantio contínuo de milho ou outras culturas não leguminosas; primeiros anos de plantio direto; solos arenosos sujeitos a altas perdas por lixiviação.
- Média resposta esperada: solos muito ácidos, que serão corrigidos; ou com plantio anterior esporádico de leguminosas; solo em pousio por um ano; ou uso de quantidades moderadas de adubos orgânicos.
- Baixa resposta esperada: solo em pousio por dois ou mais anos, ou cultivo de milho após pastagem (exceto em solos arenosos); cultivo intenso de leguminosas ou plantio de adubos verdes antes do milho; uso constante de quantidades elevadas de adubos orgânicos.
Recomenda-se aplicar o nitrogênio ao lado das plantas, com 6 a 8 folhas totalmente desdobradas (25-30 dias após a germinação), em quantidades até de 80 Kg ha-1 e o restante cerca de 15-20 dias depois. Deve-se aplicar o potássio juntamente com a primeira cobertura de nitrogênio, pois aplicações tardias desse elemento são pouco eficientes. Em áreas irrigadas, o nitrogênio pode ser parcelado em três ou mais vezes, até o florescimento, e aplicado com a água de irrigação. As doses de nitrogênio podem ser reduzidas em condições climáticas desfavoráveis, baixo estande ou em lavouras com grande crescimento vegetativo.
Recomendação para a região do Cerrado
Para o cultivo da cultura do milho na região do Cerrado, recomenda-se que o solo seja corrigido de maneira a elevar o índice de saturação por bases a 50% em sistemas de sequeiro e a 60% para sistemas irrigados. Deve-se utilizar calcário que complemente o teor de magnésio no solo para valores entre 0,5 cmolc dm-3 e 1 cmolc dm-3 pelo menos (Reatto et al.,2002).
Para a adubação de semeadura, deve-se aplicar no sulco de plantio as dosagens de N, P2O5 e K2O conforme a indicação da tabela a seguir, em função da expectativa de rendimento e da interpretação da análise de solo.
Para a adubação de cobertura, deve-se aplicar as doses de N e K2O segundo a expectativa de rendimento, conforme a tabela abaixo.
Segundo o Boletim Cerrado, em solos cujo teor de argila é maior que 15% e a dose de N inferior a 100 Kg ha-1, aplicar quando a planta estiver com 7 a 8 folhas, o que corresponde a aplicar entre os estágios vegetativos V7 e V8, respectivamente; para doses superiores a essa, deve-se parcelá-la em duas vezes, sendo 50% da dose aplicada entre V4 e V6 e 50% da dose entre V8 e V10.
Em solos cujo teor de argila é menor que 15% e dose de N inferior a 100 Kg ha-1, deve-se parcelar a dose em duas vezes, sendo 50% da mesma aplicada entre V4 e V6 e 50% aplicado entre V8 e V10. Para doses superiores a 100 Kg ha-1 , deve-se parcelar a dose em três vezes, sendo 40% da mesma entre V4 e V6, 40% entre V8 e V10 e 20% entre V10 e V12.
Caso a gessagem não tenha sido feita e o solo estiver deficiente de enxofre, deve-se aplicar 20 Kg ha-1 de enxofre para produtividades de até 8 t ha-1 e 30 Kg ha-1 para produtividades entre 8 e 12 t ha-1.
Conclusão
Agora que se conhece algumas informações importantes para a nutrição e adubação da cultura do milho, pode-se realizar um manejo mais adequado às necessidades da cultura, o que certamente impactará na produtividade da mesma.
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Referências
CAMPINAS. Ademar Spironello. Iac (Org.). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2. ed. Campinas: Iac, 1996. 285 p.
PLANALTINA. Adriana Reatto. Embrapa. Cerrado: Correção do solo e adubação. Planaltina: Embrapa, 2002. 416 p.
SOLO, Comissão de Química e Fertilidade do et al (Ed.). Manual de adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004. 394 p.
VITTI, Godofredo César. Adubação de culturas de interesse econômico: Soja – Café – Milho – Sorgo. Piracicaba: Esalq. 150 p.
VITTI, Godofredo Cesar; SGARBIERO, Eduardo. NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DE SOJA E MILHO. Piracicaba: Esalq, 2020. 268 slides, color, 25 x 20.