Índice
Introdução
O rebanho de gado de corte pode sofrer uma gama de influências que acarretam em estresse. E em consequência, a uma produção de baixa qualidade da carne e menores ganhos na produção. Criadores que prezam pelo bem-estar de seu rebanho estarão prezando também pela excelência de sua produção. Sendo assim, é importante que o criador saiba quais as diversas vertentes que podem ocasionar estresse aos seus animais, como também quais medidas podem ser tomadas para contornar essa situação.
Aspectos Ambientais
De acordo com o Código Sanitário de Animais Terrestres – OIE 2014.
1. Ambiente térmico
Na maioria dos casos, os rebanhos são capazes de se adaptar a temperatura do ambiente, entretanto mudanças bruscas de temperatura podem levar à estresse causado por calor ou frio.
1.1 Estresse por calor
O estresse térmico nos rebanhos está relacionado a fatores ambientais e a fatores inerentes do animal. Dentre os fatores ambientais pode-se destacar a temperatura do ar, a umidade relativa e velocidade do vento. Já dentre os fatores inerentes do animal estão a raça, idade, condições corporais, taxa metabólica, cor e densidade da pelagem.
Os tratadores do rebanho devem se conscientizar dos riscos relacionados ao estresse por calor, e estarem preparados para realizar adaptações na rotina do rebanho caso isso aconteça. Em casos de calor mais brando os tratadores podem lançar mão de táticas como a diminuição da movimentação dos animais, e caso esse risco de estresse atinja níveis mais críticos os tratadores de animais devem instituir um plano emergência que poderia incluir a redução da densidade populacional, o fornecimento de sombra, livre acesso à água potável, e arrefecimento pelo uso de aspersão de água que penetre no pelo.
1.2. Estresse por frio
No caso de estresse por frio, os animais mais acometidos dos rebanhos são recém-nascidos e bovinos jovens, e outros que estejam fisiologicamente comprometidos. Para isso, os tratadores devem lançar mão de proteção contra as condições climáticas extremas, proporcionados por abrigos naturais ou construídos pelo homem. Durante condições extremas de clima frio, é importante também instituir um plano emergencial para garantir ao rebanho abrigo, alimentação adequada e água.
2. Iluminação
Em casos que o rebanho não tem acesso à luz natural é necessário fornecer iluminação suplementar seguindo uma periodicidade natural, com intuito de padronizar o comportamento natural e permitir uma inspeção adequada do rebanho.
3. Qualidade do ar
Um ar de boa qualidade é necessário para o bem-estar do rebanho e este é influenciado por diversos fatores. Dentre esses fatores pode-se citar gases, poeira, microrganismos, o manejo (particularmente em sistemas intensivos), densidade da população, o tamanho do rebanho, qualidade do piso, cama, gestão de resíduos, projeto de construção e sistema de ventilação.
A ventilação adequada relaciona-se diretamente ao estresse térmico, pois em locais com ventilação adequada existe uma dissipação de calor mais efetiva. Além disso, um local bem ventilado previne o acúmulo de NH3 (amônia) e gases efluentes. Sendo assim, a má qualidade do ar e ventilação são fatores de risco para doenças respiratórias e desconforto.
4. Ruídos
Apesar dos animais serem, de maneira geral, adaptáveis a diferentes níveis e tipos de ruídos, a exposição do rebanho a ruídos altos e repentinos pode levar ao estresse e reação de medo. Por isso, sempre que possível, tais ruídos devem ser minimizados.
5. Nutrição
Em relação às exigências nutricionais dos rebanhos, merecem destaque o conteúdo energético, os minerais e as vitaminas que devem estar contidos na dieta. Esses nutrientes são os fatores principais na determinação do crescimento, eficiência alimentar, eficiência reprodutiva e composição corporal. O rebanho deve ter acesso à quantidade e qualidade apropriada de alimentação balanceada, adaptada qualitativa e quantitativamente, e que atenda às suas necessidades fisiológicas.
O conhecimento sobre a condição corporal adequada para o rebanho é importante, visto que os tratadores não devem permitir que a condição corporal ultrapasse a faixa aceitável. Nos casos em que a alimentação suplementar não estiver disponível, medidas devem ser tomadas para evitar o jejum.
Alimentos e ingredientes para alimentação animal devem possuir qualidade satisfatória para atender suas necessidades nutricionais. A dieta dos rebanhos em sistema de produção intensivo contêm uma elevada proporção de grãos (milho, sorgo, cevada, subprodutos de grão) e uma menor proporção de volumoso (feno, palha, silagem, cascas, etc.). Entretanto o equilíbrio é importante, visto que dietas com volumoso insuficiente podem contribuir para o comportamento oral anormal em bovinos de terminação, tais como o excessivo movimento da língua. Já, na medida em que a quantidade de grãos na dieta aumenta, eleva-se também o risco relativo de problemas digestivos no gado.
Desequilíbrio nos fatores climáticos, da composição da dieta e das mudanças dietéticas súbitas e problemas digestivos podem levar a consequências negativas como: acidose, timpanismo, abscesso hepático, laminite e outros. Por isso, é importante que os tratadores compreendam os impactos do desequilíbrio desses fatores e quando for apropriado consultar um nutricionista especializado para assessoramento sobre formulação de rações e programas de alimentação.
Todo o rebanho precisa de fornecimento adequado e acesso à água palatável, que atenda as suas necessidades fisiológicas e que seja livre de contaminantes nocivos para sua saúde.
6. Piso, camas, superfícies de descanso e áreas ao ar livre
É importante que todos os animais do rebanho tenham acesso a um lugar bem drenado, confortável e com espaço suficiente para que todos possam se deitar e descansarem ao mesmo tempo. A gestão do piso do curral em sistemas intensivos de produção pode ter impacto significativo no bem-estar do animal, por isso é importante manter um espaço de qualidade para essa finalidade.
Nos currais, é importante que exista uma declividade que permita que a água escoe longe dos comedores e não se acumule em excesso. Esses ambientes devem ser limpos sempre que possível (no mínimo uma vez após cada ciclo de produção). Superfícies de concreto devem ser sulcadas ou texturizadas de forma adequada para fornecer equilíbrio adequado para o animal.
7. Ambiente social
Diversos problemas podem estar associados ao ambiente social do rebanho, dentre eles: sexualidade exacerbada, comportamento de intimidação, mistura de novilhas e novilhos, alimentação de animais de diferentes tamanhos e idades nos mesmos currais, alta densidade dada população, espaço insuficiente nos comedouros, acesso insuficiente a água e mistura de touros. Tais fatores estão diretamente associados ao estresse e bem-estar animal, sendo assim o manejo desses animais deve levar em conta as interações sociais dentro dos grupos.
O tratador dos animais deve compreender a hierarquia de dominação que se desenvolve dentro de diferentes grupos e se concentrar em animais de alto risco, tais como os muito jovens, muito velhos, pequenos ou grandes em relação ao grupo, prestando atenção a assédio e comportamento de sexualidade exacerbada, como também, deve compreender os riscos de aumento de disputas entre os animais, em particular depois de misturar grupos. O bovino que manifesta comportamento de intimidação ou excessivo comportamento de monta deve ser separado do grupo. Bovinos com e sem chifres não devem ser misturados devido ao risco de acontecerem lesões.
Cercas adequadas devem ser providenciadas para minimizar quaisquer problemas de bem-estar animal que possam ser causados pela mistura inadequada de grupos de bovinos.
8. Densidade populacional
A densidade populacional deve ser gerida de tal forma que a aglomeração não afete negativamente o comportamento normal do rebanho. Isto inclui a capacidade de se deitar livremente, sem o risco de lesões, mover-se livremente ao redor do curral e ter acesso a alimentação e água. Em rebanhos em que a densidade populacional é elevada pode ocorrer aumento da ocorrência de lesões e causar efeito negativo sobre a taxa de crescimento, eficiência alimentar e no comportamento. Alterações no comportamento podem estar relacionadas com a locomoção, repouso, alimentação e ingestão de água.
Se o comportamento anormal é observado, devem ser tomadas medidas corretivas, tais como, a redução de densidade populacional. Em sistemas extensivos a densidade populacional deve ser ajustada de acordo com a disponibilidade de alimentação.
9. Proteção contra predadores
O rebanho deve ser protegido dos predadores, sempre que possível.
Perdas na produção sem o bem estar animal
O desequilíbrio hormonal ocasionado pelo estresse excessivo, afeta diretamente o ganho de peso, saúde e lactação de matrizes nos rebanhos, mas suas consequências podem ir muito além. Situações como essas fazem com que o animal desencadeie uma cascata inflamatória, desviando nutrientes que seriam utilizados na produção (carne e leite) para combater os estressores, o que acaba ocasionando diversos outros problemas, como uma maior suscetibilidade as doenças (baixa imunidade) e uma diminuição no desempenho reprodutivo, o que leva a grandes perdas econômicas.
Problemas relacionados ao manejo inadequado com contusões na durante o embarque para abate, levam a hematomas nas carcaças. Áreas das carcaças com hematomas são condenadas nos frigoríficos, levando a grandes perdas financeiras ao produtor.
Conclusão
A falta de comprometimento com o bem-estar e a ausência de cuidados com os animais nessas fases podem levar a uma produção de carne de baixa qualidade e, consequentemente, a grandes perdas financeiras. Da mesma maneira que existem muitas causas para o estresse nos rebanhos, também existem diversas soluções que podem ser tomadas a fim de reduzir seus impactos negativos. Em comum a todas elas, o fato de que o produtor deve continuamente prezar pelo bem-estar animal. Procedendo desta forma ele estará sempre no caminho correto.
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