Índice
Introdução
O Brasil é o maior produtor mundial de soja, sendo que a produção total do grão na safra 2019/2020 foi de aproximadamente 124,845 milhões de toneladas em uma área pouco menor que 37 milhões de hectare (CONAB, 2020). Esses dados dão a dimensão da importância da cultura da soja, não somente para o agronegócio brasileiro, mas para toda a economia do país.
Dessa forma, para se obter maiores produtividades é fundamental conhecer as principais práticas corretivas para a cultura da soja, sendo elas a calagem, gessagem, fosfatagem e adubação corretiva de potássio.
Calagem
É a prática corretiva mais conhecida e realizada no manejo químico do solo, uma vez que solos tropicais normalmente são ácidos. Ela consiste na adição de calcário no solo, buscando, principalmente, o aumento do pH e, consequentemente, a redução da acidez.
Os benefícios da calagem são induzidos pela:
- Redução na absorção de Al3+, Mn2+ e Fe2+;
- Fornecimento de Ca e Mg;
- Aumento da disponibilidade de P (menor fixação), K (menor lixiviação), S (aumento da mineralização da M.O.) e Mo (molibdênio – menor adsorção em óxidos de Fe e Al);
- Aumento na atividade de microrganismos;
- Mineralização da M.O.;
- Fixação biológica do N.
Por conta desses benefícios, essa prática é tão importante para o bom desenvolvimento das culturas. Dessa forma, para se obter sucesso em sua realização, deve-se levar em consideração 4 pilares: resposta da soja ao uso do calcário, critério de calagem, tipo de calcário e forma de aplicação.
Resposta da soja ao uso do calcário
Pesquisas conduzidas na soja por Castro & Oliveira Jr. (dados não publicados) no Sudoeste Goiano, indicam resposta linear, até saturação por bases de 60% (V%).
Critérios de calagem
Com os dados sobre a resposta da cultura da soja ao uso de calcário, é preciso definir como será recomendada essa prática. A seguir tem-se dois critérios de recomendação: a saturação por bases e os teores de Ca e Mg para áreas de abertura ou com plantio direto estabilizado.
Saturação por bases: Áreas de abertura
Saturação por bases: Áreas de manutenção
Teores de Ca e Mg
Neste método deve-se atentar:
- Áreas de abertura: Ca e Mg (20-40cm)
- Áreas de manutenção: Ca e Mg (0-20cm)
Em relação aos dois critérios mostrados anteriormente, em solos com baixa CTC o método do Ca + Mg é mais efetivo. Dessa forma, sugere-se que sejam aplicados os dois critérios e que se utilize o que demonstrar a maior dose de calcário.
Tipo de calcário
Em relação ao tipo de calcário, é necessário se atentar à relação Ca/Mg, sendo que o calcário calcítico deve ser utilizado apenas quando esta relação estiver baixa. Em qualquer outra situação recomenda-se utilizar o calcário “Dolomítico” (MgO > 12%), devido aos seguintes fatores:
- O raio iônico do Mg é maior do que do Ca e do K, resultando em inibição competitiva, afetando a absorção de Mg;
- O K na forma de KCl, e o Ca na forma de carbonato, são mais solúveis do que o Mg na forma de carbonato;
- O Mg é maior transportador de compostos orgânicos das folhas para os grãos (CAKMAK et al, 1994).
Modo de Aplicação
O modo de aplicação é muito importante e deve levar em consideração dois pontos principais: área de estabelecimento de sistema (abertura) e área de plantio direto estabilizado.
- Estabelecimento de sistema: sem limite de dosagem e incorporação profunda.
- Plantio direto estabilizado: dose de até 2,5 t ha-1 por vez e sem incorporação.
Gessagem
A gessagem é a segunda prática corretiva mais utilizada e normalmente o que definirá sua escolha é a distância das lavouras até as fontes de gesso (valor do frete). O gesso, em função de seu comportamento, se apresenta 30% na superfície (Ca2+ + SO42-) e 70% com mobilidade no subsolo na forma da carga zero (CaSO40), causando efeitos benéficos para as raízes. Normalmente, é utilizado visando dois objetivos:
- Condicionador de subsuperfície;
- Efeito fertilizante.
O gesso é capaz de melhorar o ambiente para o sistema radicular das plantas porque:
- Aumenta o teor de Ca em profundidade;
- Reduz a saturação por alumínio (m), pelo aumento da participação de Ca na CTC efetiva do solo;
- Reduz a absorção por Al pelas raízes, em decorrência da formação do par iônico AlSO4+ (não tóxico, pois não é absorvido pelas raízes).
Quanto aos critérios de recomendação do gesso, os mesmos são baseados nas análises de solo na profundidade de 20 – 40cm quando:
- Ca < 5 mmolc.dm-3 ou 0,5 cmolc.dm-3;
- Al > 5 mmolc.dm-3 ou 0,5 cmolc.dm-3;
- Saturação por alumínio (m%) > 30;
- Saturação por bases (V%) < 30.
A seguir tem-se as principais formas de se recomendar gesso.
Método da porcentagem de argila
Sendo:
NG = Necessidade de gesso
Método da elevação da saturação por Ca na CTC efetiva (Caires & Guimarães, 2016)
NG (t ha-1) = [(0,6 x CTCe) – Ca] x 6,4
Sendo:
NG = Necessidade de gesso
CTCe = CTC efetiva
Ca = teor de Ca em cmolc dm-3
Método da elevação da saturação por bases a 50% (VITTI et al, 2006)
Em solos que não necessitam de gessagem como condicionador de subsuperfície, sugere-se a aplicação de gesso como fonte de enxofre conforme a tabela a seguir se S < 15 mg.dm-3 (0 – 20 cm) (soja e feijão) ou (20 – 40 cm) (milho, arroz, algodão e cana-de-açúcar):
S (mg dm-3) | Gesso (kg ha-1) | S (kg ha-1) |
0-5 | 1000 | 150 |
6-10 | 750 | 115 |
11-15 | 500 | 75 |
> 15 | 0 | 0 |
Fosfatagem
A fosfatagem é a prática corretiva utilizada no pré plantio, em área total, sem incorporação, ou com grade de nivelamento, em áreas com teores de fósforo do solo (0-20cm) abaixo do nível crítico, ou seja, 20 mg dm-3 P resina.
O objetivo da fosfatagem é, em termos, “pagar” a fixação de fósforo do solo, pois no ano de aplicação do adubo fosfatado, somente 20% (solos argilosos) e 30% (solos arenosos) fica disponível para a planta (VITTI, s.d.).
Os benefícios da fosfatagem são (VITTI, s.d.):
- Maior volume de P em contato com o solo (> fixação);
- Maior volume de solo explorado pelas raízes;
- Maior absorção de água;
- Maior absorção de nutrientes;
- Maior convivência com pragas de solo.
A fosfatagem é recomendada conforme a fórmula a seguir e utilizando a tabela 3. A dose de P2O5 (kg ha-1) a ser aplicada é baseada nos teores de P2O5 total das fontes.
P2O5 (kg ha-1) = [teor desejado de P – teor atual] x CTP
Sendo:
CTP = Capacidade tampão do fósforo
Com relação às fontes de P2O5 a serem utilizadas para fosfatagem, recomenda-se fontes com solubilidade em CNA + água ou em HCi a 2%, conforme tabela 5 e 6.
Adubação Corretiva de Potássio
A adubação corretiva com potássio, aplicada em área total antes do cultivo da soja se baseia em 2 (dois) critérios (VITTI, s.d.):
- Elevação da saturação por potássio na CTC potencial (K% CTC) de 3,0 a 5,0;
- Elevação do teor de potássio ao nível crítico de 0,2 cmolc.dm-3 ou 2,0 mmolc.dm-3 ou 80 mg.dm-3. Esse 2º critério se aplica, principalmente, em solos arenosos, pois muitas vezes, com K% CTC adequado, o nível crítico pode estar abaixo dos valores citados.
A seguir tem-se como é calculada a dose baseando em cada critério para adubação corretiva de potássio (VITTI, s.d.):
Quando os teores de K do solo (0 – 20cm) estiverem expressos em mmolc.dm-3, o fator de transformação para doses de KCl (kg ha-1) é de 160.
Para saber mais sobre as práticas corretivas realizadas para a soja entre em contato com o Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão – GAPE da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP) que atua na área de nutrição mineral de plantas, adubos e adubação.
Site: www.gape-esalq.com.br Telefone: (19) 3417-2138. e-mail: gape.usp@gmail.com Instagram: @gape.esalq
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Referências
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CAKMAK, Ismail; HENGELER, Christine; MARSCHNER, Horst. Partitioning of shoot and root dry matter and carbohydrates in bean plants suffering from phosphorus, potassium and magnesium deficiency. Journal of Experimental Botany, v. 45, n. 9, p. 1245-1250, 1994.
FURTINI NETO, Antônio Augusto et al. Fertilidade do solo. 2001. 261 f. Monografia (Especialização) – Curso de Lato Sensu, Universidade Federal de Lavras, Lavras.
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VITTI, G. C.; MAZZA, J. A. Planejamento, estratégias de manejo e nutrição da cultura de cana-de-açúcar. Piracicaba: Potafos, 2002.
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