Índice
Introdução
Os componentes básicos da produção vegetal são a planta, o ambiente e o manejo, que devem apresentar-se de forma estável para obter uma boa produtividade. Dessa maneira, é necessário levar em conta a parte microbiológica do solo, sendo que o Rizóbio, responsável pela fixação biológica de nitrogênio (FBN), está sendo bastante estudado (CÂMARA, [20–?]).
Ademais, é necessário levar em conta as funções exercidas pelas raízes e suas interações com a diversidade microbiológica do solo. As mesmas são responsáveis pela fixação mecânica, absorção de H2O e nutrientes. Outrossim, são capazes de realizar a nodulação radicular quando em contato com determinados microrganismos que favorecem esse processo (CÂMARA, [20–?]).
Para isso, surge a necessidade de aplicar esses microrganismos no sistema de produção, a fim de proporcionar a captação do N atmosférico às plantas para obter-se maiores produtividades. As práticas de inoculação e coinoculação na soja são as mais utilizadas visando o aumento da FBN (CÂMARA, [20–?]).
Inoculação e Reinoculação
A inoculação é um processo agrícola, manual ou mecânico, que visa o contato físico entre a planta de soja (semente ou raízes) com os Rizóbios, sendo o inoculante a forma de fornecimento. As bactérias mais utilizadas para a nodulação da soja é o Bradyrhizobium elkanii e B. japonicum, sendo que nem todas as espécies de Rizóbio são capazes de nodular a soja. Durante a escolha do inoculante, deve-se atentar à escolha correta do Rizóbio, prazo de validade e a concentração mínima bacteriana (1 x 109 células bacterianas/g ou ml) (HUNGRIA; CAMPO; MENDES, 2007).
Tal prática visa o suprimento de fonte de nitrogênio pela cultura da soja. O inoculante contém bactérias do gênero Bradyrhizobium, que quando entram em contato com as raízes, conseguem fazer a FBN e suprir até 300 kg de N/ha. Dessa maneira, essa prática substitui totalmente a necessidade de adubos nitrogenados para a cultura (EMBRAPA, [20–?]). Além disso, seu custo pode chegar a ser 95% inferior ao de uma adubação nitrogenada.
Existem vários métodos de inoculação, como a inoculagem, inoculação de remediação, reinoculação, entre outros. Dentre essas, a inoculagem está sendo bastante praticada e possui relação com as práticas corretivas, pois em solos de áreas de abertura, não existem Rizóbios capazes de realizar a FBN na soja. Portanto, a dose de inoculante a se utilizar deve ser mais alta, visando favorecer o processo de fixação biológica de nitrogênio (CÂMARA, [20–?]).
A reinoculação é importante, pois o solo torna-se competitivo ao passar do tempo, favorecendo os demais microrganismos e diminuindo a eficiência da nodulação. Portanto, é importante realizar a inoculação anual para a soja, visando a manutenção dos Rizóbios no solo, que pode resultar ganhos de 8% de produtividade, em média. Ademais, essa prática favorece o incremento de microrganismos mais eficientes no solo, pois não enfrentaram situações adversas durante a safra, como os microrganismos que permaneceram de um ano para o seguinte neste, e mais próximos das raízes (CÂMARA, [20–?]).
Coinoculação
A coinoculação ou inoculação mista consiste no uso de Rizóbios da soja junto a outras bactérias associativas promotoras de crescimento vegetal, resultando em um sinergismo. Geralmente, utiliza-se do Azospirillum brasiliense, que possui algumas funções como: enraizador biológico; produtor de hormônios de crescimento de plantas, principalmente radicular, como auxinas, citocininas, giberelinas e etileno; indução de resistência à estresses do ambiente, como doenças; aumento na FBN de 10 – 30 kg.ha-1 ; aumenta solubilização de fosfato e aumenta a infectividade dos rizóbios.
Local e Doses
As técnicas de inoculação e coinoculação podem ser realizadas tanto via tratamento de semente (TS), quanto via sulco durante a semeadura. O primeiro meio é bastante questionado, pois, além da inoculação, utiliza-se produtos fitossanitários como fungicidas, inseticidas e nematicidas, de natureza química e biológica, para controle de pragas e daninhas. Assim, estes agroquímicos podem influenciar negativamente na sobrevivência dos microrganismos advindos da inoculação e coinoculação, podendo reduzir ou até mesmo inibir a nodulação, tornando-se ineficaz a fixação biológica de nitrogênio (DENARDIN, 2014). Neste caso, é indicado realizar a semeadura em no máximo 24 horas após a inoculação, além da importância de atentar-se às altas temperaturas (maiores que 30°C), que podem causar o dessecamento e morte dos microrganismos (SANTOS, 2019).
Porém, existe o tratamento de sementes industrial, sendo mais eficiente que o tratamento “on farm”, pois propicia uma maior uniformidade de cobertura da semente com os produtos utilizados, além da redução dos danos mecânicos e menor risco ao operador no manuseio de produtos tóxicos (MAIS SOJA, 2020). Neste caso, é recomendado a utilização de sementes tratadas com inoculantes “longa vida”, que trazem consigo uma maior durabilidade do tratamento. Um estudo de Schweig et al. (2017) mostrou que a inoculação antecipada em até 25 dias antes da semeadura foi eficiente, apresentando resultados produtivos iguais às inoculações e semeaduras feitas no mesmo dia.
Outrossim, segundo a Revista Cultivar (2015), a inoculação via sulco tornou-se uma opção mais ágil e com melhores resultados na FBN, pois evita a mortalidade das bactérias por não possuírem contato direto com agroquímicos na caixa de semeadura, e nem a altas temperaturas. Ademais, existem equipamentos com sistema de pulverização dirigida no sulco de plantio, que facilita tal operação, garantindo maior eficiência no processo, pois isola o rizóbio do contato com produtos do TS capaz de reduzirem o pH e salinizar o meio.
Dessa maneira, devido às diferenças da inoculação e coinoculação via sulco de semeadura ou tratamento de sementes, surge a necessidade de alterar as doses referentes a cada um. Segundo Câmara ([20–?]), durante o processo de inoculagem, ou seja, para áreas novas que nunca foram inoculadas, deve-se utilizar 2 a 4 doses/saca de semente via TS ou de 6 a 8 doses/ha via sulco de semeadura. Para a inoculação, recomenda-se de 1 a 2 doses/saca de semente que forem tratadas via TS ou de 3 a 4 doses/ha via sulco de semeadura.
Quando o inoculante utilizado for turfoso, é necessário misturá-lo com uma solução açucarada a 10% (100g de açúcar em cada 1L de água), e após isso, deixar secar. Após a secagem das sementes, o inoculante pode ser aplicado (SANTOS, 2019).
Como supracitado, a coinoculação é responsável pela indução da produção de fitormônios, sendo prejudicial quando em excesso, portanto, doses elevadas desse biológico não são recomendadas (CÂMARA, [20–?]).
Nutrientes Essenciais
Segundo Câmara ([20–?]), tanto macro quanto micronutrientes podem influenciar na melhor nodulação e maior fornecimento de N às plantas. Suas especificidades estão reportadas a seguir:
- Fósforo (P): fornecimento de ATP para os processos da FBN, como a nitrogenase;
- Cálcio (Ca): crescimento radicular;
- Potássio (K): translocação e regulação osmótica;
- Magnésio (Mg): clorofila e fotossíntese;
- Enxofre (S): formação de nódulos e grupos Fe-S;
- Ferro (Fe): transporte de elétrons e composição da leghemoglobina;
- Cobalto (Co): cobalamina, formadora da vitamina B12 que é importante na formação da leghemoglobina;
- Níquel (Ni): urease e hidrogenase;
- Boro (B): divisão celular;
- Zinco (Zn): síntese de leghemoglobina;
- Molibdênio (Mo): nitrogenase, constituinte da molibdato-ferro-proteína;
- Cobre (Cu): ativador enzimático.
A leghemoblobina é capaz de carregar o oxigênio de dentro do sistema, para evitar que entre em contato com o nódulo, que é anaeróbico. Possui coloração vermelha, o que pode ser utilizado para identificar se o nódulo está ativo. Já a nitrogenase é uma enzima capaz de reduzir o azoto molecular (N2) para amônia (NH3), por meio de organismos diazotróficos. Porém, sua atuação é comprometida quando realizada em meio com excesso de O2. Assim, torna-se importante a presença da leghemoglobina. Outrossim, a presença da hidrogenase também é essencial, já que é uma enzina que catalisa a oxidação do H2. Os organismos tendem a reduzir o H2 antes do N2, portanto, esta é capaz de reduzir a quantidade do azoto molecular no meio, favorecendo o processo de FBN.
Boas Práticas
Segundo Nogueira ([20–?]) apud Otto (2020), a inoculação e coinoculação devem ser realizadas de forma cautelosa, seguindo várias práticas para a garantia de sua eficiência. Tais práticas são:
- Observar se o produto é registrado no MAPA e seu prazo de validade;
- Observar as condições de transporte e armazenamento que o produto foi exposto;
- Utilizar dose adequada;
- Não se deve inocular na caixa de semeadura;
- Para inoculantes turfosos, adicionar solução açucarada a 10%;
- Se for tratar a semente com produtos químicos, inocular na segunda operação, nunca simultaneamente;
- Proteger o produto e a semente inoculada do sol e calor, além de secar na sombra;
- Em área de primeiro ano, evitar excesso de uso de produtos químicos no TS ou inocular via sulco;
- As sementes pré-inoculadas devem recuperar pelo menos 80.000 a 100.000 células por semente;
- Inoculação foliar é só para emergência;
- Usar Cobalto e Molibdênio, de preferência foliar em V3-V5;
- Não semear no pó, ou seja, em solo seco (bactéria morre por desnaturação de proteínas).
Conclusão
É importante ressaltar a soja como um sistema simbionte fixador biológico de N2. Portanto, a substituição da utilização do N mineral, pela FBN através da inoculação, coinoculação e reinoculação resulta em uma economia de bilhões de dólares, e, caso este processo biológico não ocorresse, o cultivo de soja no Brasil se tornaria inviável, demonstrando a enorme importância deste processo à produção de soja no país.
Ademais, essas práticas são responsáveis por gerar maior rentabilidade aos agricultores, pois substituem os fertilizantes minerais por uma fonte biológica de menor valor de mercado e capaz de suprir toda a necessidade da cultura.
Para saber mais sobre inoculação e coinoculação na soja aguarde os próximos posts ou entre em contato com o Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão – GAPE que possui área de atuação em nutrição de plantas e adubação.
Site: www.gape-esalq.com.br Telefone: (19) 3417-2138. e-mail: gape.usp@gmail.com Instagram: @gape.esalq
>> As práticas corretivas (calagem, gessagem e fosfatagem) e adubação corretiva com potássio melhoram o ambiente, visando a correção do perfil do solo, para aumento na absorção de água e de nutrientes na cultura da soja. Acesse o artigo “Práticas corretivas para a Cultura da Soja” e saiba mais a respeito das principais práticas corretivas para a cultura da soja!
>> A adubação fluida é uma modalidade de adubação que apresenta diversas vantagens para os produtores rurais e futuro promissor no contexto da agricultura nacional, sendo cada vez mais adotada. Assim, para saber mais a respeito de adubação fluida, acesse o artigo “Fertilizantes Fluidos”!
>> A dessecação da soja é uma interferência essencial na cultura para casos em que a colheita deve ser antecipada, tanto para garantir a qualidade do grão e ter uma homogeneidade na colheita, quanto para poder realizar o plantio da segunda safra com uma melhor janela de chuvas. Acesse o artigo “Dessecação da Soja: qual o melhor momento” e aprenda um pouco mais sobre este processo!
>> As práticas corretivas têm por objetivo melhorar o ambiente edáfico ao desenvolvimento de plantas. Além disso, são capazes de fornecer nutrientes, aumentar a disponibilidade destes e a eficiência de futuras adubações. Acesse o artigo “Práticas Corretivas em Pastagens” para saber mais sobre as diferentes práticas corretivas realizadas em pastagens!
>> Quer saber mais sobre Mercado Futuro? Leia o artigo “Mercado Futuro do Boi Gordo e Commodities: 7 cuidados básicos” do Alberto Pessina.
>> Leia mais em: “Por que devo saber o meu custo?”. Onde Alberto Pessina responde as principais dúvidas sobre gestão de custos.
>> Leia mais entrevistas em: “Margem Bruta e Eficiência Comercial”. Onde Alberto Pessina explica sobre Margem Bruta e Eficiência Comercial.
>> Leia mais entrevistas em: “Como melhorar os resultados da empresa rural?”. Onde Alberto Pessina explica que precisamos analisar uma série de fatores que influenciam na produtividade e rentabilidade do negócio para atingir bons resultados. E é fundamental se ter uma boa gestão das atividades da propriedade rural.
Referências
CÂMARA, Gil. Nutrição avançada de soja e milho. [s. L.]: Agroadvance, [20- -?]. Color. Disponível em: https://agroadvance.com.br/new/solucoes/educacao/cursonutricao-avancada/. Acesso em: 09 abr. 2020.
DENARDIN, Norimar D’Avila. Tratamento de semente e inoculação em soja: Compatibilidade possível. 2014. Disponível em: https://www.grupocultivar.com.br/artigos/tratamento-de-semente-e-inoculacao-emsoja-compatibilidade-possivel. Acesso em: 26 abr. 2021.
EMBRAPA. Fixação biológica do nitrogênio: perguntas e respostas. [20–?]. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-fixacao-biologica-denitrogenio/perguntas-e-respostas. Acesso em: 03 jul. 2020.
HUNGRIA, Mariangela; CAMPO, Rubens José; MENDES, Iêda Carvalho. A importância do processo de fixação biológica do nitrogênio para a cultura da soja: componente essencial para a competitividade do produto brasileiro. Embrapa Soja-Documentos (INFOTECA-E), 2007.
OTTO, Rafael. Nutrição e Adubação da Soja. Piracicaba: Lso 0526, 2020. Color.
REVISTA CULTIVAR. Inoculação no sulco é um aliado na produtividade. 2015. Disponível em: https://www.grupocultivar.com.br/noticias/inoculacao-no-sulco-e-umaliado-na-produtividade. Acesso em: 26 abr. 2021.
RUFINO, R. R. Mapa homologa coleção de microrganismos da Embrapa Soja para o uso em inoculantes. 2018. Disponível em: https://portaldoprodutor.agr.br/?pag=noticias.php&id=1038. Acesso em: 10 maio 2021.
SANTOS, Rayssa Fernanda. Inoculação: todos os tipos e + 7 dicas para tirar o máximo proveito dela. 2019. Disponível em: https://blog.aegro.com.br/inoculacao/. Acesso em: 26 abr. 2021.
SCHWEIG, Luis Augusto; DE OLIVEIRA LOURENÇO, Edneia Santos; MENEGASSO, Gustavo Dias. Inoculante de longa vida na cultura da soja sob plantio direto. Revista Faz Ciência, v. 19, n. 30, p. 99. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/fazciencia/article/view/20593. Acesso em: 26 abr. 2021.
SILVA, Evelise Martins da. Inoculante para soja de alta produtividade: como, quando e o porquê. 2018. Disponível em: https://blog.aegro.com.br/inoculante-para-soja/. Acesso em: 10 maio 2021.